Material escolar
Todo começo de ano era a mesma coisa. Eu, meus irmãos e minha mãe rumo ao Armarinhos Fernando do Tatuapé. Era uma muvuca de gente suada com cestas cheias, aglomerando-se nos corredores. E, entre toda aquela bagunça de véspera de início de ano letivo, estávamos nós à procura do material escolar mais barato.
Antes de sair de casa, a gente conferia a lista do ano e o que dava pra ser reaproveitado do ano anterior. Estojo? Só dar uma lavadinha que tá novo. Caneta colorida? Ah, não precisa disso não. Borracha? Tá, um pacotinho pros três dá. Caderno? É, isso não tem jeito, a gente compra. Era assim, item por item.
Chegando lá o objetivo era resolver tudo no menor tempo possível para poder voltar a respirar o ar puro da calçada e voltar pra casa. Naquele ano não foi diferente, fizemos as compras e ficamos orgulhosos com o nosso material semi-novo.
Meu irmão pegou o seu novo caderno com a capa de Velozes e Furiosos e ficou admirando antes de preparar a sua mochila, até que ele percebeu um detalhe. Tinha passado batido, mas o seu caderno na verdade estava escrito Velozes e Curiosos. Como ele iria pra escola com aquela capa? Humilhação. Bullying. Vergonha. Tudo isso já começou dentro de casa, com a risada do meu outro irmão e até da minha mãe.
Lá fomos nós de volta ao Armarinhos, na esperança de trocar o produto. Do caixa ao gerente, a justificativa era a mesma: -moço, tá escrito Velozes e Curiosos…
Deu certo. A troca foi feita e um caderno de capa lisa foi a escolha mais segura. Sem marca, sem personagem, sem trocadilho. E mais nenhum ano com compras rápidas.
