Menina de Vento
Pequeno conto sobre sonhos
Da janela de Ioana, ninguém passa pela estrada.
Só o frio; e o feno, arrumado na carroça puxada à cavalo; também o vento, vindo, gelado, de longe; tocando música pra milho, geado, dançar.
Hoje tem vento e o milho dança. Hoje tem vento e o feno voa. Hoje tem vento e Ioana sonha. Hoje, Ioana quer dançar, no milharal de mil bailarinas; pés plantados, cabelos entrançados, por vento.
E a Bailarina; a Bailaria passou pela estrada; voando seu sonho de milho; quantos milhos sonham em voar como feno?
- Ioana, vai ajudar o Pai no campo! A Mãe clama.
- Mas hoje acordei bailarina, Mãe!
- Bailarina também tem mãozinhas!
Veste a calça por cima do pijama. O casaco herdado da irmã mais velha; a bota grande do irmão crescido; mas hoje acordou bailarina — de milho -, hoje quer trançar seus cabelos — de feno.
- Faz minhas tranças, Mãe!
E lá se põe a Mãe a trançar; mechas de milho, madeixas de feno, cantando sorrisos, acarinhando ternuras.
- Ioana, quem a fez assim, Filha, quem a fez de vento?
A menina dá de ombros. Cabelos entrelaçados, sonhos alongados. Da janela de Ioana, ninguém passa pela estrada. Só a Bailarina.
- Para de dançar, Ioana, aquiete-se! Preciso terminar. A Mãe reclama; e enlaça: mechas de feno, madeixas de milho.
- Mas hoje acordei bailarina, Mãe!
Como a moça do poste, colada num cartaz rasgado, a moça Bailarina passando com o circo de verão.
Ioana então dançava, sua dança de meio-de-rua. Ninguém passa naquela estrada. Só a Bailarina passou. Ela, feita de sopro, olhou para Ioana e sorriu. Ioana foi olhada. E a Bailarina ventou-se, voando pela estrada, o sonho de feno dos milhos.
- Um dia, passarei também!
Tem uma estrada em Ioana. Um dia, Ioana de vento, cabelo de feno, bailarina de milharal, um dia, também passará; enquanto isso, passa o tempo trançando sonhos, dançando danças de meio-fio.
Um dia, ela também passa.