Motivo

Túlio Rivadávia
CRÔNICAS
Published in
2 min readJun 26, 2017

Desligou a TV, respirou fundo e sentiu o gelado do chão em seus pés descalços. Milhões de pensamentos formavam um nada em sua mente, estava estarrecida, confusa e só. Caminhou até o balcão e acendeu sua vareta predileta de rosas. A medida em que a fumaça subia seu coração se preenchia de um estranho sentimento, chorava e sorria. Em sua mente, sem motivos.

Chorou pelo passado, pelas pessoas que perdera no caminho, sorria pelo presente, por que conseguia encontrar todas dentro de si. Olhou para o calendário, a fragilidade da data não a afetava. Naquele instante era tocada apenas pelo aroma de rosa em seus pulmões, pelas lágrimas escorridas na face rubra e pelos olhares perdidos em seus pensamentos. Questionou-se alguns instantes, mas o que definitivamente não desejava naquele momento eram respostas.

Permaneceu ali, desfrutando pétala por pétala o misto de suas efemérides abstratas e em uma certa dose de melancolia. Enquanto não desejava respostas, inconscientemente procura atribuir algum sentido às emoções. Fixando o olhar na fumaça que dançava no ar foi remetida a algo maior, em sua mente tocou o divino. Tudo era amor. Em seu momento abriu mão dos motivos; também se chora de felicidade, de saudade, de dor. Concluiu que a vontade de ver e tocar novamente o inalcançável é impulsionada pelo amor que se foi em alguém, mas permanece indelével na alma.

Enxugou a face com a palma das mãos, tremeu o queixo de frio e sorriu. Naquela noite, se aqueceu com a certeza dos amores. Entendeu que sempre haverá motivos de sobra para rir ou chorar, mas apenas um para uni-los.

--

--

Túlio Rivadávia
CRÔNICAS

Producer & Entertainment Business Specialist — Founder da ™Content. Buscador.