Cristina Hélcias
CRÔNICAS
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2 min readJan 25, 2017

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Foto: cielstudiosp

Para São Paulo

O dia em que me apaixonei de novo por São Paulo era domingo e cinza, preguiçoso e úmido. Pelas calçadas dos Jardins, o Mendigo escritor: embaixo de uma marquise, vestido de preto e deitado de bruços em um gordo colchão, o Mendigo ocupava as mãos com papel e caneta. Ele escrevia e falava e gesticulava e escrevia. À sua volta, aviõezinhos de papel. Mendigo escritor que fazia voar escreveduras pela esquina, tomando a forma da poesia — pura e viva — de uma cidade que se aperfeiçoa em suas imperfeições.

No dia em que me apaixonei de novo por São Paulo, subimos a Haddock Lobo e fomos almoçar na Cantina do Piero, logo ali, perto de casa, mãos dadas numa ressaca seca de gripe e cansaço. Sentamos na mesa forrada com toalha quadriculada. Pedimos penne com molho bom e tomamos uma taça de chianti cada. Sorrimos, alimentados e satisfeitos, sentindo o conforto de comida e amor.

Caminhamos até a Santos e entramos na Cultura. Escolhemos livros — para ler pedacinhos com café — e demos as mãos, no embalo de mais poesia, dessa vez, concreta e impressa. Foi quando um sorriso tolo tomou conta dos meus lábios. Sorriso desses que expressam sentimentos por mundos. Sentimento pelo meu mundo. O sorriso bobo dos satisfeitos, redescobrindo a cidade imperfeitamente aperfeiçoada, no dia em que me apaixonei de novo por São Paulo.

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Cristina Hélcias
CRÔNICAS

Relatos de uma vida pelo mundo e pitacos de uma personal stylist .