Parágrafo Nietzscheano
Carta aos meus eminentes poetas e seguidores;
Meu exercício poético vezes muitas assemelha-se à um relâmpago; um clarão de purismo linguístico em formas mistas de emoções reprimidas e frustrações que pairam no ar com evidência, porém inalcançável.
— Frase essa de suficiente perfídia eu diria. Etílica, sintética e temporária; assim como os choques de água evaporada que hoje exultam um teatro da natureza insigne.
Nestes tempos, fala-se muito em quebra de tradições, desconexão com os espíritos que há milênios são mantidos na chama do inconsciente da humanidade; talvez esse seja o motivo dos homens-póstumos; espectros que vagam em amontoados celulares com induções cerebrais; o de numa súmula gáudia, invadir o espaço dos biologicamente vivos, abandonando os cemitérios de ideias e valores mortos, para uma recolta memorial singular — e quem sabe salvar os vivos-mortos deles mesmos.
Ante tais silogismos, vivamos um verdadeiro conservadorismo, a Ordem Natural, a liberdade advinda destes termos… Vivamos a poesia trovejante e os raios de bom-viver que queimam a madeira-combustível das nossas almas; as fórmulas do enobrecimento já nos foram dadas! Retomemo-nas! Com diligência vamos apoderar o espírito de arte kantiano perdido, a filosofia da beleza, da virtude!
As coisas excepcionais são realizadas por seres de extrema excepcionalidade, feitos para sublimes apreciadores, e não párias, e sabemos que os primeiros hoje são calados, talento hoje é arrogância, virtude hoje é desrespeito; o nivelamento é por baixo, os resultados, consequências e efeitos, por outro lado, são estonteantemente colossais; e não para o apreciável! Mas para o execrável…
Vivemos o culto ao desprezível, a negação ao apreciável, a relativização do belo secular; somos a geração pretensiosa que desmembra o instituído para vomitar o próprio narcisismo, a própria vontade de poder, exatamente como jacobinos! Não há a idealização do enobrecimento e crescimento pela melhora do já produzido, apenas a imposição do novo pela destruição do anterior.
Isso, eu falava naquele tempo, não é um culto às cinzas, é a manutenção da chama acessa, é optar pelo calor do avanço, e não fugir à procura de outras fogueiras, abandonando as primeiras. Pena que talvez nenhum deles tenha sequer chegado próximo de entender o valor dessas palavras. Não em vida pelo menos.
ANDAIME DA MORTE PRELUDIDA, Num tempo perdido; Ano: ?