Bons momentos feat. Museu do Amanhã

Camille
CRÔNICAS
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3 min readDec 13, 2016

Fui ao Museu do Amanhã. Fundado em 15 de dezembro de 2015 no Rio de Janeiro, foi preciso pouco menos de um ano para finalmente conseguir encarar a fila para pagar a entrada de R$10,00 (meia) e entrar. Os créditos vão para Caique, um amigo de São Paulo que resolveu fazer uma visita ao Rio e me escolheu como guia oficial para esses dois dias.

Entramos. Tiramos fotos — artísticas porque, segundo uma amiga, é isso que somos — da Terra que fica logo na entrada (imagem acima) e esperamos, numa fila igualmente pequena, para entrar na primeira atividade. Não encontro palavra para essa primeira impressão que não seja “incrível”: deitamos no chão enquanto o ontem, o hoje e o amanhã se misturavam em uma espécie de observatório tecnológico que não consigo descrever.

Caique queria que aproveitássemos o tour guiado, eu queria ver tudo por conta própria, rapidinho e só. Entretanto, como ele era o turista, aproveitamos o início do tour feito por Gabriel. Gabriel, não sei quantos anos tem, estudou Letras e está profundamente insatisfeito com a convivência na cidade grande. Gostou de cara de Caique porque este foi o único que conseguiu resumir o que é matéria em apenas algumas palavras — ah, o poder da síntese!

Gabriel mais que apresentar dados ou fazer, sem querer, algumas piadinhas (“este é o cu(bo) do mundo”), deixou toda e qualquer pessoa que o ouvia com aquele sentimento de pertencimento: estamos aqui, agora, vivendo isso, somos um grupo de desconhecidos e isso pouco importa porque somos todos iguais.

Gabriel também nos deixou completamente desconfortáveis. Apresentava cada parte do museu com um questionamento. Falou, é claro, sobre uma sociedade cada vez mais conectada (aos celulares — sorte minha que nesses momentos tinha acabado de guardar o meu), e nos questionava sobre o nosso papel hoje para o futuro de amanhã. Falou sobre religião, e desconstruiu a ideia de que é a crença que nos afasta: somos nós, humanos, que nos afastamos uns dos outros.

Por quê?, perguntou ele. Medo, alguém respondeu. Medo de se mostrar vulnerável, se colocar no lugar do outro e entender que nem sempre estamos certos. Medo do desconhecido. Do conhecido. Do que o outro pode (ou não) fazer com a gente. De assumir que não somos de ferro e nem sempre estamos tão bem resolvidos. O outro nos dá medo, aprisiona e congela. E o outro nos liberta, nos faz pertencer e nos faz amar. De qualquer forma, o outro dá medo e nos tira da zona de conforto.

Seguimos em frente, certamente longe do que fomos quando entramos. Chegamos ao final. Demos as mãos. Refletimos mais um pouco sobre o desconforto, sobre o ontem, sobre o amanhã e, principalmente, sobre o hoje. De mãos dadas e olhos fechados, ouvimos Gabriel dizer:

— Pensem no que vocês gostariam para o outro. Não precisa falar em voz alta, só pensem.

Paz. Felicidade. Bons momentos. Foram essas três coisas que eu pensei. Elas me surpreenderam ao mesmo tempo que me passaram conforto; soaram verdadeiras. É isso que quero para qualquer pessoa, mesmo para aquelas que quero (muito) longe de mim. Paz, felicidade e bons momentos.

Ao mesmo tempo, algumas pessoas começaram a falar. Empatia, disse Caique. Amor, disse uma criança. Felicidade, disse um homem. Tranquilidade, disse uma mulher. E meu coração mole viveu de forma um pouquinho mais intensa ali. Totalmente desconfortável, mas pertencendo a algo que caminhava contra a corrente de reclamações e tristezas e insatisfações. Esperança, talvez?

Caique e eu reencontramos Gabriel depois e conversamos um pouco mais antes de irmos embora. Reclamamos um pouquinho, é verdade, porque ninguém é de ferro. Mas, Gabriel, o Museu do Amanhã não seria o mesmo sem você. Resta dizer um “obrigada” por me tirar da zona de conforto tão segura e tão boa de ficar. Obrigada pelas reflexões e pela compreensão.

Sei que às vezes parece, mas você não está sozinho nesse outro caminho. Somos humanos e acho que vale apostar mais algumas fichas na sociedade; vai que ela retorna um pouco do que a gente quer doar (e doa) para ela.

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Camille
CRÔNICAS

dentre outras coisas, uma pessoa lidando com transtorno de ansiedade generalizada e depressão.