Fui ao Museu do Amanhã. Fundado em 15 de dezembro de 2015 no Rio de Janeiro, foi preciso pouco menos de um ano para finalmente conseguir encarar a fila para pagar a entrada de R$10,00 (meia) e entrar. Os créditos vão para Caique, um amigo de São Paulo que resolveu fazer uma visita ao Rio e me escolheu como guia oficial para esses dois dias.
Entramos. Tiramos fotos — artísticas porque, segundo uma amiga, é isso que somos — da Terra que fica logo na entrada (imagem acima) e esperamos, numa fila igualmente pequena, para entrar na primeira atividade. Não encontro palavra para essa primeira impressão que não seja “incrível”: deitamos no chão enquanto o ontem, o hoje e o amanhã se misturavam em uma espécie de observatório tecnológico que não consigo descrever.
Caique queria que aproveitássemos o tour guiado, eu queria ver tudo por conta própria, rapidinho e só. Entretanto, como ele era o turista, aproveitamos o início do tour feito por Gabriel. Gabriel, não sei quantos anos tem, estudou Letras e está profundamente insatisfeito com a convivência na cidade grande. Gostou de cara de Caique porque este foi o único que conseguiu resumir o que é matéria em apenas algumas palavras — ah, o poder da síntese!
Gabriel mais que apresentar dados ou fazer, sem querer, algumas piadinhas (“este é o cu(bo) do mundo”), deixou toda e qualquer pessoa que o ouvia com aquele sentimento de pertencimento: estamos aqui, agora, vivendo isso, somos um grupo de desconhecidos e isso pouco importa porque somos todos iguais.
Gabriel também nos deixou completamente desconfortáveis. Apresentava cada parte do museu com um questionamento. Falou, é claro, sobre uma sociedade cada vez mais conectada (aos celulares — sorte minha que nesses momentos tinha acabado de guardar o meu), e nos questionava sobre o nosso papel hoje para o futuro de amanhã. Falou sobre religião, e desconstruiu a ideia de que é a crença que nos afasta: somos nós, humanos, que nos afastamos uns dos outros.
Por quê?, perguntou ele. Medo, alguém respondeu. Medo de se mostrar vulnerável, se colocar no lugar do outro e entender que nem sempre estamos certos. Medo do desconhecido. Do conhecido. Do que o outro pode (ou não) fazer com a gente. De assumir que não somos de ferro e nem sempre estamos tão bem resolvidos. O outro nos dá medo, aprisiona e congela. E o outro nos liberta, nos faz pertencer e nos faz amar. De qualquer forma, o outro dá medo e nos tira da zona de conforto.
Seguimos em frente, certamente longe do que fomos quando entramos. Chegamos ao final. Demos as mãos. Refletimos mais um pouco sobre o desconforto, sobre o ontem, sobre o amanhã e, principalmente, sobre o hoje. De mãos dadas e olhos fechados, ouvimos Gabriel dizer:
— Pensem no que vocês gostariam para o outro. Não precisa falar em voz alta, só pensem.
Paz. Felicidade. Bons momentos. Foram essas três coisas que eu pensei. Elas me surpreenderam ao mesmo tempo que me passaram conforto; soaram verdadeiras. É isso que quero para qualquer pessoa, mesmo para aquelas que quero (muito) longe de mim. Paz, felicidade e bons momentos.
Ao mesmo tempo, algumas pessoas começaram a falar. Empatia, disse Caique. Amor, disse uma criança. Felicidade, disse um homem. Tranquilidade, disse uma mulher. E meu coração mole viveu de forma um pouquinho mais intensa ali. Totalmente desconfortável, mas pertencendo a algo que caminhava contra a corrente de reclamações e tristezas e insatisfações. Esperança, talvez?
Caique e eu reencontramos Gabriel depois e conversamos um pouco mais antes de irmos embora. Reclamamos um pouquinho, é verdade, porque ninguém é de ferro. Mas, Gabriel, o Museu do Amanhã não seria o mesmo sem você. Resta dizer um “obrigada” por me tirar da zona de conforto tão segura e tão boa de ficar. Obrigada pelas reflexões e pela compreensão.
Sei que às vezes parece, mas você não está sozinho nesse outro caminho. Somos humanos e acho que vale apostar mais algumas fichas na sociedade; vai que ela retorna um pouco do que a gente quer doar (e doa) para ela.