Quando nasce uma grávida, nascem as gentilezas — e as asperezas!

Anamaria Legori
CRÔNICAS
Published in
2 min readJan 19, 2018
freestocks.org, Unsplash

Quando nasce uma grávida, nascem pessoas que fingem não notar que você está em pé no metrô. E outras que logo que enxergam a pança, rapidamente cedem o seu lugar. Obrigada.

Quando nasce uma grávida, nasce um passo lento. E nascem pessoas que correm na sua frente no café para pegar uma mesa antes de você. Fué.

Quando nasce uma grávida, nasce a vontade de ter uma barriga enorme já no primeiro mês de gestação. Você não aparenta estar grávida, mas já necessita das filas preferenciais, porque está prestes a vomitar nos Correios, no Cartório ou no supermercado. Confesso que não tive coragem de enfrentar o povo irado das esperas, sem ter uma barriga proeminente. E ainda tenho medo da reação de algumas pessoas desavisadas em muitas filas por aí.

Quando nasce uma grávida, nascem olhos que te fuzilam quando você usa a fila preferencial por lei. As pessoas me enxergam fazendo compras, saudável, estando bem. O que elas não enxergam: que passei por períodos de repouso e que estou calmamente retomando as atividades. Que ficar em pé por muito tempo é bem cansativo. Que a pressão baixa na gravidez: a minha que normalmente é 12 por 8, está 10 por 6 — às vezes 9 por 6. Que a contração do diafragma para dar espaço ao útero provoca uma dor intensa perto da costela e reflete na coluna (aprendi que melhora com exercícios de respiração). Ficar em pé por muito tempo ajuda a piorar essas dores. Sou atendida em tempo razoável. Obrigada, filas preferenciais.

Essa semana, peguei um vôo.

No embarque, a atendente freou a fila convencional e me chamou na fila preferencial por lei. Uma pessoa tentou bloquear a minha passagem para eu não ser atendida antes dela, por duas vezes! A atendente insistiu e me deu a preferência. Obrigada.

Depois de pousar, levantei da poltrona para pegar a mala de mão no compartimento de cima. Ia pedir uma mão. O que não precisou. Prontamente, a pessoa que estava sentada ao meu lado disse: “espera que te ajudo, você não pode pegar peso”. E a pessoa atrás de mim já se oferece para carregar a mala. Obrigada, gente linda.

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Anamaria Legori
CRÔNICAS

Escritora no coletivo Nua e Crua: as mulheres e suas histórias | Consultora e Pesquisadora de Tendências |✉ analegori@gmail.com