Retrato Falado — Parte um
Casulo tatuado
As tatuagens eram uma forma de camuflar o que ele tinha por dentro. Ou a falta dele. Era como um camaleão mudando de cor para confundir o predador.
Ele era a presa, o caçador, o mundo.
As âncoras, trechos de música e desenhos abstratos faziam parte da tentativa de se tornar, ou se mostrar, algo que ele não era. Alguém forte e certo do que queria da vida.
Mentira.
No fundo ninguém sabe o que quer ou se suas escolhas estão certas.
Ele sabia ainda menos.
Toda a carcaça construída em seu corpo era uma tentativa de se manter em um lugar confortável. Vivendo nas bebedeiras entre amigos e um “trampo descolado”, para pagar seu vício em destilados. Era uma adolescência que parecia nunca ter fim.
Uma forma que deveria ser passageira, iria durar tanto quanto os desenhos em seu corpo.
Solução: dissolver tudo isso em álcool etílico e dispensar em camisas de vênus, em algum banheiro no dia seguinte, enquanto procura algo para curar a ressaca moral e física.
