Só idiotas gostam de balões (ou Um Texto Sobre Falhas)

Camille
CRÔNICAS
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2 min readJan 26, 2017

Há dias olhando para a página em branco, escolhendo palavras que, juntas, passem alguma mensagem positiva. Mas só sinto que falhamos. Falhamos como sociedade. Eu e você e nossos melhores amigos e nossos pais, todos falhamos.

Falhamos quando encontramos mensagens, e-mails e cartas de quando éramos (mais) jovens e nos vemos como trouxas, em vez de sinceros. Falhamos quando escrevemos mensagens, e-mails e cartas e não temos coragem de enviar — tememos a rejeição, quanto podemos parecer fracos ou soar como completos idiotas. Tememos sermos julgados (e, automaticamente, nos julgamos). Falhamos quando preferimos não falar sobre os nossos sentimentos porque fazer isso é nos colocar vulneráveis.

Falhamos porque passamos tanto tempo pensando nas nostalgias do passado e nas promessas do futuro que não respiramos ou sentimos o hoje. Falhamos porque dizemos cada vez menos o quanto as pessoas são importantes para nós. Falhamos porque perdemos a paciência e a capacidade de falar sobre o que queremos e como queremos. Falhamos porque parece tão difícil encontrar alguém legal que nos conformamos com quem não nos faz feliz. Ficamos satisfeitos com o mínimo que recebemos.

Falhamos porque demonstrar se tornou algo negativo. Nos fechamos em nós mesmos por medo do outro, do poder que podemos dar a ele e do que ele fará com esse poder. Não queremos ser os que acabam chorando com a cara no travesseiro para ninguém ouvir, então criamos estratégias de defesa; e nem percebemos o que estas nos fazem perder: oportunidades, amores, amizades.

Falhamos porque temos muito o que falar, mas ouvimos pouco. E sentimos que ninguém quer nos escutar. Falhamos porque achamos melhor estar seguro que arriscar ser verdadeiramente feliz. Não queremos ver a balança capengar pro nosso lado antes de voltar a estabilizar. Não queremos assumir que, às vezes, precisamos de ajuda. E acabamos não entendendo que não estamos sozinhos, que somos bons o suficiente, que podemos ser felizes e que nossa postura frente ao outro muda a forma como o outro vai agir conosco.

Cansamos de jogos, mas jogamos todo santo dia. Assumimos a culpa das coisas erradas — se amamos e não fomos correspondidos, por exemplo, tomamos isso como problema nosso, não uma escolha de outra pessoa. E desejamos parar de amar. E desejamos mil provas que o outro nos ama. E não queremos ser os primeiros a ter que provar nada. Falhamos, não falhamos?

Esquecemos o que passamos a vida inteira ouvindo — não faça com os outros o que não gostaria que fizessem com você. Não é fácil. Falhamos. Mas temos tempo de reverter a situação. A questão é: estamos dispostos?

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Camille
CRÔNICAS

dentre outras coisas, uma pessoa lidando com transtorno de ansiedade generalizada e depressão.