Sobre a honestidade que não praticamos

Camille
CRÔNICAS
Published in
3 min readDec 24, 2016
imagem por Pexels

Sempre fui boa em inventar desculpas. Quando não queria ir à algum lugar ou fazer alguma coisa, sempre tinha, na ponta da língua (e, mais tarde, do dedo), uma justificativa que ninguém poderia questionar.

O problema começou quando percebi que inventar desculpas era necessariamente contar uma mentira — e eu tinha acabado de decidir que mentir dava muito trabalho e não era uma estratégia boa para quem (1) quer sinceridade e honestidade na própria vida e (2) tem uma memória ruim demais pra sustentar coisas que não são reais, até porque nem essas são fáceis de se lembrar.

Parar de inventar desculpas foi um processo bem longo. Falar “não” nunca foi fácil pra mim, porque sempre tenho essa vontade louca de agradar os outros e tentar deixar todo mundo feliz e satisfeito, o que é impossível independentemente do quanto a gente tente. E, apesar de ser um exercício até hoje, aprendi a falar “não quero” e assumir que “estou com medo” e me posicionar falando que “não concordo” (ainda que, às vezes, só fique calada e saia de fininho). Um grande feito deste ano, se me permitem dizer.

Com isso, veio outra certeza — e aqui abro espaço para explicar que é uma certeza pra mim, um jeito como eu vejo as coisas, e que definitivamente muita gente discorda — e uma consequência. Pretendo falar sobre ambas.

A certeza se refere ao fato de que acredito da cabeça aos pés que se alguém quer alguma coisa, essa pessoa faz por onde conseguir. Entender isso foi ótimo por um lado, porque me fez desistir de correr atrás de gente que não se importa e/ou não se esforça. E, preciso dizer, isso tira da sua vida a maioria das pessoas que você conhece, até aquele amigo que você jurava que faria por você o mesmo que você faria por ele. Tira da sua vida os amores que não se esforçam e os amores indecisos. É difícil, viu? Dói muito.

O lado positivo é que deixa as pessoas que realmente querem ficar, que estão ali para o que vier e por quem você nunca estará fazendo demais, sentindo demais ou sendo demais. Deixa quem é de verdade, abre espaço para os passageiros só irem embora e não atrapalharem ficando no meio da porta.

A consequência é que odeio justificativas e pedidos (atenção para esta palavra:) incessantes de desculpas. É mais simples do que parece: justificativas são só formas de falar que não se quer fazer o esforço, que não é sua prioridade e que você não vai fazer e ponto. Só que, como já foi dito, elas são mentiras — e é aqui que está o problema.

Da mesma forma, um pedido de desculpas soa honesto quando feito direito: você fez besteira, reconheceu e quer concertar. Tudo bem, todo mundo erra. Senta aqui, vamos conversar e resolver. Incessantes pedidos, entretanto, são simplesmente subterfúgios para fazer você se sentir melhor consigo mesmo.

Não tenho certeza se a diferença ficou clara: em um caso, você errou e não pretende fazer de novo. No outro, foi uma escolha. Você teve o tempo todo consciência do que estava fazendo e escolheu fazer mesmo assim. Isso impacta, e em geral não sou boa o bastante para aceitar — porque perdão nem sempre me cabe — isso. Esse é o meu limite.

É claro que há situações e situações, algumas do dia a dia e outras que não podem ser descritas de outra forma senão como uma puta sacanagem. Acredito que qualquer relacionamento (amoroso, familiar, de amizade, não importa) exige que ambas as partes deem o braço a torcer e respeitem o espaço e as vontades uma da outra. A questão não é essa.

É o quanto você permite que façam com você antes de dar um basta. E que, muitas vezes, por mais difícil que seja (e é), o melhor é só deixar ir.

--

--

Camille
CRÔNICAS

dentre outras coisas, uma pessoa lidando com transtorno de ansiedade generalizada e depressão.