Sobre aquela quinta feira

Isabela Peccini
CRÔNICAS
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2 min readDec 8, 2016

Entrei naquele auditório e, apesar da iluminação farta e das cadeiras quase todas ocupadas, a sensação era de que estávamos somente eu e ela. Parecia que todas as luzes tinham, ao mesmo tempo, se voltado pr’aquele ser.

Meu coração veio na boca, minhas mãos se desestabilizaram, a respiração travou. Acho que fiquei alguns segundos paralisada.

Sentei na primeira cadeira à minha frente. O holofote permanecia intacto.

Fui assistir àquele debate mas tudo o que vi foi como ela se ajeitava na cadeira, como prestava atenção e anotava coisa ou outra, como mexia no cabelo. Ah, e a blusa que escorria pelos ombros. Quase senti o toque da sua pele só de olhar.

No intervalo, mudança de lugar. Tinha um iceberg dentro do meu estômago. Não soube o que fazer.

Esperei.

Quando nossos olhares se cruzaram, respirei fundo e sorri. Ela ficou chocada com meu corte de cabelo. E sorriu também.

Tanta coisa pra dizer, fazer, sentir.

Não cabia naquela antesala fria e desconhecida. Nós não cabíamos. E olha que somos as duas um tanto pequenininhas.

Ao mesmo tempo que claustrofóbica, aquela sala beirava o infinito. Aqueles poucos metros de distância entre nós, ali, pareciam atravessar um oceano. E tudo o que eu queria era nadar de um lado a outro.

De volta às cadeiras, me peguei olhando pra trás repetidas vezes pra ter certeza de que ela ali permanecia. Talvez na esperança de que nossos olhares se cruzassem de novo. De que o abraço fosse mais longo dessa vez.

Olhei. Lá estava.

Olhei. Lá estava.

Olhei.

A porta batendo e um lugar vazio.

Me afoguei.

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