Somos Uma Geração Indecisa

Wendel Buchweitz
CRÔNICAS
Published in
3 min readSep 15, 2016
Foto: Evan Dennis

Há cerca de um ano, amigos, familiares e uma psicóloga me aconselharam a ser mais “sociável”. Ou seja, eu deveria (segundo eles) ser mais aberto ao mundo ao meu redor. Okay. Passei a seguir o conselho e, consequentemente, procurei conversar mais com as pessoas e desenvolver os assuntos de forma mais aprofundada.

Durante este um ano e pouco que se passou, percebi algo em comum que eu tinha com quase todas as pessoas que eu falava: estamos todos perdidos. Quando falávamos sobre os nossos planos, meus interlocutores começavam a fazer caretas, coçar a cabeça, suspirar e, finalmente, dizer: “não sei o que quero fazer”.

Baseado apenas nessas primeiras reações, é possível pensar que eu só converso com pessoas desinteressadas e descompromissadas com o seus respectivos futuros. E aqui está a grande verdade: estas pessoas, assim como eu, realmente não querem fazer nada… Antes o contrário: nós queremos fazer TUDO.

Constantemente, somos bombardeados por inúmeras possibilidades. E se escolhemos A, perdemos B, C, D e o alfabeto inteiro de opções. E é extremamente difícil lidar com tudo isso. Afinal, não queremos passar o resto de nossas vidas fazendo algo que não amamos. Mas se fizermos aquilo que gostamos, talvez não ganhemos rios de dinheiro. E aos olhos de algumas pessoas, teremos fracassado. Em resumo: tão ruim quanto não ter nenhuma opção é, sem dúvida, ter opções demais.

Queremos ser professores ou engenheiros ou músicos… Mas, ao mesmo tempo, queremos ser tradutores, redatores, fotógrafos, youtubers, malabaristas, eletricistas, vegetarianos, desenhistas, carpinteiros, taxistas e até mesmo a loira do Tchan, se gostarmos da ideia. São muitas escolhas. E nós nos sentimos angustiados e ansiosos por um motivo relativamente simples: temos medo de fazer a escolha errada. Porque se a fizermos, perderemos tempo. E não temos tempo para perder tempo.

O mercado de trabalho, a faculdade, a família — principalmente nossos pais — e a sociedade de maneira geral estão esperando algo de nós: e temos medo de desaponta-los. Tudo isso porque temos muitas opções. Quando nossos pais eram jovens, por exemplo, eles tinham basicamente duas alternativas: trabalhar ou estudar. Se optassem pela sala de aula, as opções eram basicamente engenharia, direito e medicina. Eles não tinham tantas escolhas como nós temos hoje em dia. E temo dizer: talvez eles fossem mais felizes.

Em entrevista à Folha de São Paulo, o filósofo e escritor Mario Sérgio Cortella afirmou: “Essa overdose de variedades gerou dificuldade de fazer escolhas. Isso produz angústia em relação a este polo do propósito. (…) Tem uma série de questões que não existiam em mundo menos complexo”.

O que resta para nossa geração é aprender a lidar de forma inteligente com toda esta complexidade que nos cerca. Contudo, sabemos que não é fácil. “Cada escolha uma renúncia: isso é a vida”, cantou Chorão. E talvez a vida seja mesmo isso: fazer escolhas e aceitar as consequências.

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Wendel Buchweitz
CRÔNICAS

Ex-aluno do escritor Fabrício Carpinejar, estudante de Letras e gaúcho por falta de opções.