Tempo Perdido

Sou colecionador de saudades, e meu peito é um baú de memórias

Wendel Buchweitz
CRÔNICAS
2 min readJun 10, 2017

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Não sou nostálgico. Não vivo idealizando o passado. Acredito que hoje estou (e sou) melhor do que eu era anos atrás. Nosso objetivo é sempre evoluir, não é mesmo? Ao menos deveria. De qualquer forma, mesmo não sentindo vontade de reviver o passado, eu sinto saudades. Sinto saudade de momentos, de pessoas, de viagens… Também sinto saudades de gostos, de aromas, de sentimentos. No fundo, sou colecionador de saudades, e meu peito é um baú de memórias.

Jogar futebol na rua até anoitecer, jogar bolinha de gude e andar de bicicleta. Viver com os joelhos esfolados e com sorriso no rosto. Sinto falta da alegria espontânea de não precisar ser alguém. Sinto falta das descobertas, dos medos, das paixões platônicas. A infância foi uma época boa que havia pouca preocupação com roubos, assaltos e violência. Do mesmo modo, não me preocupava com computador, tablet e smartphone. Minha infância foi offline.

Também sinto falta das novidades da adolescência. O primeiro beijo, o primeiro término com a “crush”, as primeiras festas. As incertezas sobre o que fazer da vida (que, para minha surpresa, perduram até hoje). Na adolescência, eu tinha todos os sonhos do mundo, ao passo que precisava pedir dinheiro aos meus pais para comprar lanche na escola. Lembro a primeira vez que viajei sozinho: estava descobrindo o mundo. Me sentia como Cristóvão Colombo a desbravar a América (mesmo que, na verdade, só estava indo de ônibus a Porto Alegre).

Hoje, mal posso esperar para terminar a faculdade. Mas sentirei falta da rotina frenética, dos professores e dos amigos que fiz por lá. Quando tiver 40, terei saudade do que sou hoje, do meu cabelo comprido e dos textos que escrevo. Quando tiver 60, sentirei falta dos 40. Sempre vou sentir saudades de alguma coisa. Você também vai. E isso é ótimo: se sentimos saudade, é sinal de que vivemos momentos inesquecíveis, que valem a pena ser relembrados.

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Wendel Buchweitz
CRÔNICAS

Ex-aluno do escritor Fabrício Carpinejar, estudante de Letras e gaúcho por falta de opções.