uma cerveja, um edifício, tantas histórias

Isabela Peccini
CRÔNICAS
Published in
2 min readSep 28, 2016

Sentada na mesa do bar, olho pra cima. Céu vertical estrelado de pequenas entranças. As janelas dos altos prédios de uma rua a essa hora um tanto deserta escondem histórias incontáveis. Quantas histórias podem haver em cada um desses quadros de vida? Em minha conversa com o copo de cerveja começo a me aproximar de quem quer que esteja lá em cima. Ali no sétimo andar pode estar uma família, seja o que você considera família, assistindo a um filme e comendo uma pizza meia calabresa meia marguerita acompanhada de um copo de guaraná. Ali no sexto, um casal apaixonado passa sua noite trocando prazeres - toques beijos corpos entrelaçados orgamos e um banho pra refrescar. No segundo, a luz fraca embala uma crise de ansiedade que inunda seu rosto de lágrimas, que lhe faz perder o sentido, que desencadeia uma série de questionamentos sobre o por que de viver assim. Ah, mas lá no décimo? Lá no décimo é só alegria! As luzes piscantes vibram no ritmo da música que embala danças lindas e livres a noite toda. Dançar cantar beber beijar fumar conversar, pra comemorar. Mais embaixo, sozinha ela se faz companhia e não desejaria estar com ele ela ou mais ninguém, muito menos cercada de pessoas como na festa uns andares acima. Foi ali no seu quarto no quarto andar que descobriu que ela mesma é sua melhor companhia. E nenhuma dessas pessoas, inundadas pelos seus momentos, trancadas em seus pequenos mundos, desconfiam que estou aqui embaixo pensando nelas, dividindo com elas o meu copo de cerveja. E talvez eu fosse bem-vinda lá em cima mas nunca saberei. E amanhã, de ressaca, serei eu a luz da janela vista da mesa de bar por outro alguém. Assim, mergulhada nos meus lençóis, não vou nem imaginar que história será a minha.

--

--