Vida barroca
Da vida? Que sei eu da vida?
Como posso saber da vida se a vida é também o mistério? O que sei é o que sou e sou tudo que percebo. Incomoda o que incomodo. Preciso do mundo para descobrir o que está dentro, de tão desconhecido que sou para mim mesmo.
Entretanto, se a noite exibe o céu estrelado tudo me é familiar, como quem olha da calçada a casa que viveu na infância.
Que sei eu do que já fiz? Toda ação é como um pingo de chuva de um temporal em alto-mar. Tudo que faço retorna ao oceano. Eu retorno ao oceano, evaporo e sou nuvem, chuva e lençóis freáticos. Só posso ser pleno no movimento, no ciclo das águas.
O que sei é que ser honesto comigo mesmo é a primeira necessidade. Toda ação desonesta é um fardo para carregar. No emaranhado das ações e reações há o risco de se viver uma vida desonesta consigo mesmo, algo deveras insuportável. Que Maslow me perdoe por meter o meu bedelho nas suas pirâmides, mas a Honestidade é a primeira necessidade.
A vida desonesta é o desequilíbrio, a vertigem constante que não se transforma em queda jamais. Jamais deslizar livre na Queda que é irmã do Vôo (assim mesmo, com o acento circunflexo declarando independência das regras gramaticais) que é o sonho de nossas pernas. Cair seria um alívio.
Mas da Vida? Que sei eu da Vida? Impossível saber da Vida, que é também o Mistério e por ser Mistério não se revela, se assim acontecesse não seria o Mistério, mas a Certeza. A Certeza faz cálculos, o Mistério coreografias.
Ah! Quem dera eu pudesse ter a certeza que, de fato, vivo a Vida! Mas se não vivo a Vida, o que vivo? Não sei.
Que sei eu da Vida?