A caixa mágica
Era impossível não ser seduzida pela estranheza daquela arma que atira para dentro. Uma caixa metálica, cheia de controlos, com um olho de vidro no meio.
Distraiu-se. Clique! O olho de vidro piscou, antes que ela pudesse também piscar.
O homem caminhou até à menina e mostrou uma cópia dela, que agora morava dentro da caixa metálica. Ela achou engraçado, como alguém poderia ser tão pequeno. Achou curioso ela estar cá fora e lá dentro, ao mesmo tempo. Ou aquela seria outra? Era certamente outra! Não sorria e nem se mexia, a outra menina. Muito diferente dela mesma, que trepava nas árvores, tomava banho nos rios e ria sempre que estava alegre.
Que lógica havia em imprimir uma imagem tão pequena, se ela estava ali, grande e viva, de frente para aquele homem? Será que ela havia perdido alguma coisa naquilo? E o atirador, o que teria ganho? Há coisas nesse mundo que são mesmo incompreensíveis. Como o tamanho do mundo, por exemplo. Um mundo tão grande, ao ponto de haver pessoas que vêm e vão, sem que nunca mais voltem. E agora ela sabe sobre mundos pequenos, que podem até caber em caixas.
O atirador foi-se embora. E levou com ele a caixa metálica. A menina sente saudade da sua cópia, que apesar de presa à caixa, sairá por aí, a conhecer outras partes do mundo, de onde partem as pessoas que vêm e vão.