A caixa mágica

Dinho Lima
crónicas sem vista para o mar
2 min readJul 27, 2014

Era impossível não ser seduzida pela estranheza daquela arma que atira para dentro. Uma caixa metálica, cheia de controlos, com um olho de vidro no meio.

Distraiu-se. Clique! O olho de vidro piscou, antes que ela pudesse também piscar.

O homem caminhou até à menina e mostrou uma cópia dela, que agora morava dentro da caixa metálica. Ela achou engraçado, como alguém poderia ser tão pequeno. Achou curioso ela estar cá fora e lá dentro, ao mesmo tempo. Ou aquela seria outra? Era certamente outra! Não sorria e nem se mexia, a outra menina. Muito diferente dela mesma, que trepava nas árvores, tomava banho nos rios e ria sempre que estava alegre.

Que lógica havia em imprimir uma imagem tão pequena, se ela estava ali, grande e viva, de frente para aquele homem? Será que ela havia perdido alguma coisa naquilo? E o atirador, o que teria ganho? Há coisas nesse mundo que são mesmo incompreensíveis. Como o tamanho do mundo, por exemplo. Um mundo tão grande, ao ponto de haver pessoas que vêm e vão, sem que nunca mais voltem. E agora ela sabe sobre mundos pequenos, que podem até caber em caixas.

O atirador foi-se embora. E levou com ele a caixa metálica. A menina sente saudade da sua cópia, que apesar de presa à caixa, sairá por aí, a conhecer outras partes do mundo, de onde partem as pessoas que vêm e vão.

--

--