Malditos sejamos!

Dinho Lima
crónicas sem vista para o mar
2 min readAug 31, 2020
A Lua vem da Ásia. E onde foi parar o Campos de Carvalho?

Devemos reverência, gratidão, uns tragos no bar, ou quem sabe até umas rendas da casa, aos artistas malditos; estes nobres desgraçados que abdicaram de certos confortos e arriscaram a sanidade mental e a convivência com os demais da paróquia, em nome da quixotesca tarefa de fazer esse mundo tão quadrado girar um pouco mais torto.

Sem os malditos, Adão e Eva ainda estariam a teorizar sobre a aplicabilidade dos nomes mais divertidos para a vulva e o pénis. É preciso que se diga que a arte não é inútil; antes que um ultraconservador como Nixon pudesse assinar os papéis e afanar os sonhos de tantos malucos — ao fincar a bandeira ianque fora da Terra — , muitos sonharam com a Lua e foram literalmente queimados por isso.

Acrescento que os que optam conscientemente pelo conservadorismo merecem no mínimo o desprezo: num mundo onde há tanto para mudar, quem deseja conservar algo, ou é um pobre ignorante, ou dorme na casa-grande. Ao segundo tipo eu desejo uma morte lenta, ou que viva para sempre em Maceió — o que na prática, dá na mesma.

Por isso não costumo negar umas boas moedas aos errantes que carregam livros, ou observam a Lua com um cigarro a queimar sozinho entre os dedos.

Leiam A Lua vem da Ásia.

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