Precisamos de um novo marco para o crowdfunding no Brasil
Qual o prazo ideal para a minha campanha de financiamento coletivo? Qual a importância das recompensas? Meu projeto deve optar pelo modelo Tudo ou Nada ou pelo Flexível? É melhor fazer uma campanha pontual ou recorrente? Quem são as pessoas que apoiam campanhas de crowdfunding?
Entre 2013 e 2014, o Catarse realizou a pesquisa O Retrato do Financiamento Coletivo no Brasil e lançou luz sobre algumas dessas questões. Com mais de 3.300 respostas de pessoas de todo o Brasil, esse foi o primeiro passo para um maior entendimento sobre o cenário do crowdfunding brasileiro. O resultado do estudo gerou dados inéditos que ajudaram realizadores a montarem suas campanhas, plataformas a direcionarem seu trabalho e estudiosos a compreenderem melhor a ferramenta.
O Retrato do Financiamento Coletivo foi fundamental para o desenvolvimento da ferramenta naquele momento. Em 2014, a Dilma foi reeleita, o Brasil tomou de 7x1 da Alemanha e o Orkut acabou. De lá pra cá, o setor cresceu mais de 10 vezes no país, novos modelos surgiram e novas perguntas foram colocadas. Nós precisamos de novas informações pra começar a respondê-las. E juntos vamos conseguir respostas melhores.
Nós do Bando nos unimos às duas plataformas pioneiras no crowdfunding do Brasil, Benfeitoria e Catarse, para realizar um novo e mais amplo estudo sobre financiamento coletivo no país: O Coletivo do Financiamento. Vamos analisar as mais de 12 mil campanhas já realizadas em ambas as plataformas para entender melhor o que faz um projeto atingir sua meta de arrecadação. Além disso, vamos rodar um amplo questionário com apoiadores e realizadores de financiamento coletivo com o objetivo de conhecer seus perfis, hábitos, comportamentos e impressões.
Eu coordenava a comunicação do Catarse à época da realização do Retrato do Financiamento Coletivo e pude acompanhar de perto o impacto relevante e concreto da divulgação dos resultados. Poucos meses após sua publicação, por exemplo, o número de projetos na categoria “educação” no Catarse dobrou!
Isso aconteceu porque uma das perguntas do questionário pedia para que as pessoas apontassem qual categoria elas tinham mais interesse em apoiar projetos e qual categoria faltavam projetos relevantes. Em ambas, a categoria educação foi a mais citada. O resultado repercutiu na comunidade da educação e a ferramenta chegou a mais gente que precisava de recursos pra realizar seus projetos. Quais outras categorias podem ser destravadas por uma nova pesquisa? Em 2019, quais projetos as pessoas têm interesse em apoiar e onde elas acreditam que faltam bons projetos? O interesse na categoria educação se mantém?
Para além de categorias específicas, o Coletivo do Financiamento tem o potencial de revelar barreiras maiores para o desenvolvimento da ferramenta como um todo no Brasil. Com pouco mais de dois anos de crowdfunding no país à época, O Retrato do Financiamento Coletivo apontou um perfil elitizado, o que era condizente com os adeptos iniciais: alta escolaridade, alta renda e concentrados no sudeste. Esse perfil se mantém ou o financiamento coletivo alcançou outras classes e regiões? Ao expor claramente quais as barreiras de acesso ao modelo, plataformas, profissionais da economia colaborativa e gestores públicos conseguem direcionar esforços específicos para rompê-las.
Todas essas informações são relevantes não só para democratizar a ferramenta, mas para orientar o desenvolvimento do crowdfunding no Brasil. No Retrato do Financiamento Coletivo, 82% das pessoas responderam que não viam a participação do governo de nenhuma forma no modelo. As pessoas tinham receio que a entrada do estado pudesse burocratizar a ferramenta, que tem na agilidade uma das suas principais vantagens.
A Benfeitoria, por sua vez, soube muito bem realizar projetos em que a parceria com o poder público potencializava o impacto do financiamento coletivo, como no Rio+, para prototipar soluções para a cidade do Rio de Janeiro junto com a prefeitura, e no BNDES+, um programa de Matchfunding com o Banco do Desenvolvimento para impulsionar projetos que deixem legado para os patrimônios culturais brasileiros.
As descobertas de uma pesquisa desse porte servem como meio para um afetuoso e inspirador diálogo com a comunidade do crowdfunding no Brasil, como bem definiu Rodrigo Machado, CEO do Catarse, mas também para proteger o setor.
Apesar de já estar presente no país há mais de oito anos e ter ajudado milhares de projetos a saírem do papel, não existe uma regulamentação específica da atividade, o que leva o crowdfunding, em algumas questões, a operar numa zona cinza da legislação. Gerar dados e informações sobre o setor é uma forma de salvaguardar a ferramenta de tentativas atrapalhadas de regulamentação. Já tentaram enquadrar o crowdfunding como e-commerce, o que complicaria o modelo por submetê-lo ao direito do consumidor. Já tentaram subordinar o crowdfunding de recompensa e de doação à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que não faz sentido algum. Apoiar O Coletivo do Financiamento é ajudar na sobrevivência da ferramenta no Brasil.
Fazer do retrato um filme
No questionário para apoiadores e realizadores de O Coletivo do Financiamento, vamos refazer muitas das perguntas que foram feitas há 5 anos. Isso nos permite observar a evolução de determinadas questões ao longo do tempo. Saímos de um retrato para um filme, em que conseguimos ver o movimento da comunidade do crowdfunding no Brasil. E um filme mais abrangente.
Pela primeira vez, vamos analisar juntos os dados de Benfeitoria e Catarse. É uma base de dados maior e mais complexa, que nos permite observar fenômenos para além das particularidades de cada plataforma. Além disso, existe todo um novo modelo a ser estudado: o recorrente, no qual os apoiadores contribuem mensalmente para uma iniciativa. O Coletivo do Financiamento vai ser o primeiro olhar aprofundado para um modelo que pode ser fundamental para muitos projetos no Brasil.
Nós acreditamos que entender profundamente os detalhes do crowdfunding permite que todos possam fazer campanhas melhores e mais bem planejadas. Se você também acredita nisso, vem com a gente construir o novo marco do financiamento coletivo no Brasil: O Coletivo do Financiamento.