EXTRA! EXTRA! FAKE NEWS!!!

Alexandro Junior
2 min readNov 7, 2018

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A imagem que teve 43 compartilhamentos nos grupos monitorados pela UFMG é resultado de uma montagem com registros de dois eventos diferentes — e nenhum deles tem qualquer relação com protestos realizados por grupos feministas no Brasil. Eles já foram, inclusive, objeto de checagem feita pelo site Boatos.org.

A primeira imagem mostra um casal fazendo sexo em Oslo, capital da Noruega, em 2011. Eles fazem parte de um grupo que acredita que a prática sexual em espaços públicos pode aumentar a conscientização sobre as florestas e a natureza, de acordo com informações do jornal San Francisco Chronicle, dos Estados Unidos.

As imagens que aparecem na parte de baixo do viral são de um protesto realizado na catedral de Buenos Aires, capital da Argentina, em 2015, segundo reportagem do jornal Clarín. O protesto foi realizado contra a vitória de Maurício Macri nas eleições presidenciais daquele ano. Em 2016, a foto viralizou como sendo de uma catedral na Espanha.

Reportagem do site Agência Lupa.

ANÁLISE

Uma característica geral da estrutura das fake news é naturalmente o título sensacionalista acompanhado de imagens sem censura ou contexto adequado. Na notícia apresentada é possível observar o quanto o texto se enquadra nessa característica: “Feministas invadem igreja defecam e fazem sexo”.

Primeiro, o apelo sentimental. Fake news normalmente usam de assuntos sensíveis às pessoas para conseguir atingi-las, e nesse caso foi usada a igreja. Religiosos não admitem terem suas crenças desrespeitadas, e quem criou essa notícia sabia que isso atingiria um numero considerável de pessoas.

Escolhido o público-alvo da notícia mentirosa, é preciso definir o “inimigo”: para essa notícia o lobo-mau é o feminismo. Movimentos sociais são frequentemente apontados por determinada classe política como os grandes causadores de quase todas as mazelas sociais, sendo utilizados constantemente em fake news para invalidar seus reais propósitos.

Quando juntam um tema sagrado como religião + um movimento social que já é regularmente demonizado, o resultado não pode ser diferente de pessoas imediatamente chocadas e transtornadas a ponto de repassar essa informação como “repúdio” sem pensar em confirmar a veracidade antes.

As imagens chocantes que acompanham o texto são o apelo visual. Se as pessoas são tão preocupadas em “manter a inocência das crianças” ou “proteger a família”, por que imagens como essas são inclusas em um material que muito provavelmente circulará em grupos de famílias no whatsapp em que crianças e adolescentes estão presentes? Porque o objetivo não é informar e sim chocar, deixar o indivíduo estarrecido e cego de indignação.

É importante ter cuidado ao repassar conteúdos sem checar as fontes para não contribuir com a desinformação e a polarização da sociedade. Analisar cada elemento da notícia e saber reconhecer o tom apelativo é o primeiro passo para a identificação de uma fake new, mas o mais importante é sempre confirmar sua autenticidade.

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