O Peixe, O Homem e a Fome

Ao analisar o quadro, logo de cara fica bastante impactante a proporção da cabeça de um peixe de certa maneira junta com a de um corpo humano, formando um tipo de aberração marítima e terrestre. É possível ver que ele está com uma vara de pescar simples porém bastante grande, e fisgando a si mesmo, com um fundo leve e minimalista, o mar aparentando calmo e agitado simultaneamente, e os detalhes de prédios e casas atrás, que por mais que sejam apenas traços simples, me fizeram lembrar de Londres, com seus prédios antigos e históricos. Ao parar para analisar apenas a “Quimera” ( mistura de animais que acabam sendo monstros de diversas mitologias como grifos, centauros e minotauros.) É notável que seu corpo é de uma estatura enorme porém frágil, como se estivesse mal alimentado.

Contextualizando todos esses elementos citados na arte, uma coisa me intrigou mais, foi o porquê deste ser estar “pescando a si mesmo”, então ao olhar a fundo em sua estatura, é visto que ele está magro, de certa maneira com fome, e estaria assim buscando se alimentar para sobreviver. A peculiaridade desta ação seria como a situação chegaria nesse ponto, teria o homem-peixe se sentido culpado por pescar a sua metade descendente e feito isso para punir a si mesmo ?

O olhar dele na pintura também remete algo bem característico de um peixe, um olhar vazio, um encarar que atravessa tudo que vê sem direção ou limite, algo que já gerou diversas teorias diversas sobre os peixes não terem alma, remetendo de volta ao significado de alguns elementos, seria essa a revolta da criatura ? “não sou peixe, não sou humano, então o que devo ser ?” virando-o para um comportamento de epifania e insegurança onde o mesmo não teria outra saída a não ser fazer o que uma metade sempre faz com o outra, a caça ou a pesca, seja o nome que for, seria esse o comportamento que o diferente ser viu como uma saída ? Seria a sua fome, a fome pelo saber de o que ele era, ou quem ele era?

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