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Símbolo divino

A exposição realizada por Neilton Carvalho, guitarrista e artista da banda Devotos, ao qual faz parte desde a sua criação, o mesmo exibe no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães sua exposição A arte é um manifesto — 30 anos de Devotos, onde comemora os 30 anos do Devotos, com as suas artes criadas durante todo esse percurso.

Na exposição, foi possível perceber uma certa interligação entre as temáticas e os modos de produção das obras, vendo-se bastante obras com temáticas relacionadas a violência e injustiças sociais, no campo da produção, destaca-se o uso de tinta a óleo e nanquim, apresentando uma certa peculiaridade do artista.

Dentre as tantas obras exibidas, a retratada acima, me chamou bastante atenção, pois a mesma associa a imagem do dinheiro, que é um dos fatores principais, de uma sociedade centrada na conquista e usufruto do deste e, a cena da morte de Cristo, na cruz, essa a qual transformou a história para sempre, além de trazer um grande significado consigo. Os dois elementos citados, são os mais notáveis, dada uma primeira observação, contudo, num olhar mais atento é possível identificar mais elementos na pintura e nos dois itens citados, que ampliam o significado dessa.

No centro da imagem, como já mencionado anteriormente, há o simbolo do dinheiro crucificado, remetendo a crucificação de Jesus Cristo, essa a qual na religião católica representa a figura máxima, onde Jesus sofre e doa a sua própria vida, para a salvação de toda humanidade, o artista logo ao meu ver, interligou tal imagem com ao vislumbramento e magnitude que o dinheiro faz presente em nossa sociedade, sua carência torna a vida de qualquer um na sociedade mais penosa, conduzindo há um certo fascínio excessivo pela obtenção de tal objeto, fascínio tal, que muitos sacrificam suas ou vidas de outras pessoas para obter e usufruir da conveniência que é providenciada, visto isso, foi trabalhado na imagem, uma ideia de que há uma visão salvadora no dinheiro, pois como na religião Cristã indica que Jesus se sacrificou para salvar a humanidade, na obra, o dinheiro recebe o mesmo símbolo, de que o mesmo pode salvar e sanar os distúrbios de um individuo ou até toda uma sociedade. A coloração apresentada pelo ícone do dinheiro, também acrescenta á ideia passada de salvador e sarador, pois na bíblia, o azul remete ao poder de cura de Deus.

Pelo que foi mostrado acima, da a impressão de que o autor tenta passar uma imagem positiva acerca dessa visão da sociedade acerca do dinheiro, contudo a indicações na obra que mostram o contrário. Logo no centro do simbolo, é possível visualizar uma rachadura, onde internamente há o que se parece uma construção de tijolos, essa tal, acaba por mostrar uma certa fragilidade no simbolismo e valor exacerbado que é dado pela sociedade, auxiliando também o dado, a questão do ícone ser constituído, por tijolos, acaba por diminuindo e desagregando o valor que se espera que o dinheiro tenha, visto que o tijolo é visto como um material de baixo custo.

O uso da madeira para pintura, pode ser visto como algo mais ligado a um aspecto e preferencia de Neilton, porém o mesmo utilizou o material de uma forma que tornasse o uso do mesmo considerável. Nas bordas da pintura é possível perceber, certo desgaste e até uma marca de contagem referente a que prisioneiros fazem na cela, pondo um lado mais degradado da sociedade que após cometer um crime (possivelmente pelo fato do simbolismo da obra, o crime teve como motivo, questões envolvendo dinheiro) acaba por ser preso, e a imagem benévola e divina do dinheiro, acaba por cair, visto que há pessoas que se colocam ou poem outras, em situações degradantes em vista de obter um objeto, que visualiza como sendo grande, mas no fundo ele não passa de um item humano, sendo falho como o próprio.

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