Terras — A Arte é um Manisfesto

Beatriz Sérvio
SEMIÓTICA - Turma 2018.1
3 min readSep 12, 2018
“Terras” — Neilton Carvalho

A obra trata-se de um pequeno quadro com desenho em preto e branco só até a metade do quadro, a outra metade está em branco. O desenho é bastante complexo apesar de sua pequenez, com uma riqueza de detalhes muito grande, portanto é preciso observar por mais tempo para identificar do que se trata a ilustração. Apesar dessa riqueza de detalhes, é uma obra bastante minimalista principalmente por essa singularidade do desenho estar “cortado” pela metade e o resto do papel ficar em branco. A assinatura do artista mantém o minimalismo da obra, por ser bem pequena e estando localizada perto da “linha” que divide o espaço preenchido do desenho do vazio.

Reparando no desenho, ele não possui cores, apenas linhas pretas que formam a imagem, mostrando que provavelmente foi feita com algum instrumento com uma ponta bem fina. Inicialmente o olhar é direcionado para o topo da obra, onde há várias armas erguidas para cima dando a idéia de que está acontecendo um protesto, revolução. Olhando um pouco mais, é possível perceber que não são somente armas, há também foices e bandeiras erguidas como que em sinal de protesto.

Em seguida o olhar do espectador é levado um pouco mais para baixo, para as pessoas que estão segurando esses objetos. Observando mais profundamente, é possível ver que não são apenas homens que foram retratados no desenho, há também mulheres, mesmo que seja difícil de vê-las, já que a imagem trás a sensação de que são todos soldados, porém se observar com mais atenção percebe-se que são cidadãos comuns, pelas roupas que eles vestem.

Terminando o caminho de observação, o olhar do espectador se depara com a surpresa de que o desenho acaba pela metade, cortando o restante dos corpos das pessoas do desenho, deixando apenas um espaço em branco.

Não é possível perceber se eles estão voltando do confronto ou se estão andando em direção a este. Os braços levantados com as mãos fechadas passa para o espectador um sentimento de força e vontade de lutar.

Por fim, há a moldura do quadro que é extremamente simples, ajudando ainda mais no conjunto minimalista, são apenas bordas brancas que chegam a se misturar com o branco do papel, se não fosse pela sombra que a iluminação provoca seria difícil perceber que há uma moldura.

Depois de uma pesquisa mais profunda sobre a obra, descobri que o nome do quadro é “Terras” do artista Neilton Carvalho, feito em 2006 com um bico de pena sobre papel Canson, isso explica a finura das linhas. Também achei a informação de que a tela possui 29,7x42 cm, confirmando que ela é realmente pequena.

Pessoalmente, escolhi essa obra por ela ser uma das mais pequenas que haviam na exposição, por seu tamanho não consegui entender direito o que era até chegar bem perto. Ela me encanta bastante, principalmente por essa divisão de espaço preenchido e espaço vazio e a quantidade de detalhes que o artista conseguiu pôr num espaço que já era pequeno e agora está pela metade.

Por fim, algo que me intrigou logo no primeiro momento que conheci a pintura foi um “ponto”, algo como uma mancha logo perto da espingarda mais alta, em um local bastante visível da obra. Desde então, todas as vezes que olho para essa arte o ponto me enche de curiosidade, o que é isso? Será que foi algo proposital que faz parte da ilustração e eu ainda não identifiquei seu significado ou é nada mais do que uma mancha feita pelo Nanquim? Por mais que esse ponto me cause um pequeno incômodo acredito que mesmo que seja um imprevisto agora faz parte da obra.

Beatriz Sérvio

Análise Semiótica

2018.1

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