Como um almoço de domingo me fez temer quem eu sou.

No meio de pessoas onde era para eu estar cercada de amor, estive cercada de preconceito.

Karis.
CS-FILO-2018–2
3 min readSep 17, 2018

--

“ Sair do armário é uma expressão que descreve o anúncio público da orientação sexual ou identidade de gênero de alguém, ou de si próprio. Estar fora do armário significa que alguém é assumidamente homossexual, bissexual, pansexual, transgênero ou membro de outra parte da comunidade LGBTQ+.”

Desde pequena eu sempre me questionei quanto ser humano, “Por que nasci?” “Por que sou mulher?”, “Por que eu sou assim?”, nunca estive satisfeita com uma resposta. Mesmo bem garotinha eu sempre achei estranho forma como viam toda a comunidade LGBTQ+, tanto ódio, tanto descaso, tanto preconceito, enquanto via cada notícia dessa passando na televisão.

“Mataram outro viado hoje lá na rua, ninguém mandou nascer ao contrário”

“Sapatão tem que apanhar mesmo para aprender a virar mulher”

“Bissexual? Tudo história! Coisa de gente confusa!”

“Trans? É travesti! É traveco! É tudo a mesma coisa, é tudo viado!”

Lá no fundo eu sempre sentia um aperto no coração, eu já sabia, meu corpo já sabia, eu tinha medo de que lá na frente isso também acontecesse comigo. Não queria sofrer por ser quem sou, é injusto.

Sempre convivi rodeada de pessoas religiosas dentro de minha família, e que no meio desses sempre profanavam discursos de ódio, ditando o que era certo e o que era errado, o que pode e o que não pode, o que eu tenho que ser e o que não tenho que ser, tudo isso já me deixava farta e cansada. Família era para lhe acolher como amor, e por qual motivo eu não sentia isto? Minha família não me amava? Eu também nasci errado?

Com o tempo eu cresci e cada ano que se passava cada vez mais eu escondia quem eu era para conviver como “normal” em meio à sociedade, em meio a minha família e aos meus amigos, eu não estava feliz e eu não estava satisfeita, mas afinal, antes eu infeliz do que sendo julgada por ser quem sou, certo?

Errado. E eu percebi isto tarde demais.

E foi durante um simples almoço em família que eu percebi o tamanho do ódio e repulsa que deitava aos ombros de meus parentes, quando meu avô comentou que preferia morrer ao ter um filho gay.

“Mas vô, não se escolhe ser assim, se nasce, pra que alguém iria escolher ser gay? Pra sofrer nesse mundo?”

“Não importa! Você ta defendendo eles? Você apoia aquilo?”

“Estou! O que tanto lhe incomoda?”

“É um erro, Deus não apoia isto, tem que morrer mesmo.”

Era eu ali, eu era o erro.

E eu percebi que continuaria sendo um erro, quando todos ao redor concordaram. Naquele momento eu estava pronta para chutar a porta do armário e gritar para todo mundo quem eu era, quem eu sempre fui, mas eu tive medo. Tive medo de não me aceitarem, tive medo de me esquecerem, tive medo de ser quem eu sou. Eu sou um erro?

Apenas me calei e segui, me senti insegura e sem alicerces, e pus o almoço a dentro com lágrimas, e ao chegar em casa, peguei a chave do armário e me tranquei nele.

“Dali eu nunca mais sairia, não até enquanto eu não for certa.” — Pensei.

Mas foi aí onde percebi quem eu temia não eram as pessoas que conviviam ao meu redor, era eu. Eu me temia, mas nunca soube o motivo, talvez eu tinha medo de descobrir a verdade sobre mim. E então foi onde caiu a ficha, minha verdade e quem eu sou não pode ser mudada, é minha.

E ser errada é muito mais legal.

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Sair_do_arm%C3%A1rio

--

--