Pro humor não existe limite, existe bom senso

Estamos exatamente no ano de 2018, no Brasil. Um mês atrás foi eleito um presidente de caráter obscuro, porém com o apoio inabalável do povo. O Palmeiras acabou de ganhar o campeonato mais popular que traz “o circo” para as nação. O que eu quero trazer como destaque para reflexão, é o fato das pessoas estarem muito confusas em relação ao seus sentimentos, e de como a sensibilidade pode ser afetada em certas áreas, onde o causador de tal afeto, nem sonhava em atingir sua vítima.

Estou falando dos humoristas, ou do humor como um todo. Pessoas que ganham a vida trazendo entretenimento para outras, acabam sendo censuradas, e tendo suas carreiras ameaçadas, por algum limite não estabelecido previamente. Num mundo onde as piadas estão sendo levadas cada vez mais a sério, e as coisas sérias estão sendo esquecidas. O questionamento que esse texto irá fazer é o seguinte: “até que ponto, a pessoa pode fazer uma sátira, sem ser ofensivo?”.

Para responder essa pergunta, é necessário que se faça uma análise de duas vertentes que fazem parte dessa problemática. A primeira vertente, é a que é defendida por uma grande parte dos humoristas atuantes no Brasil, e de muitas pessoas que consomem o material humorístico com mais frequência, que seria a que não existe limite para o humor.

Todos esses comediantes famosos, que já passaram por uma infinidade de entrevistas, e que estão o tempo todo em contato direto com a mídia, com certeza, alguma vez na vida, já responderam a clássica e detestada pergunta: “qual é o limite do humor?”. E a maior probabilidade, do humorista responder que não existe tal limite é enorme. Visto que na ótica de quem faz as piadas, é surreal você tentar julgar o peso de algo que foi criado para não ter peso algum.

O humor é algo natural que tem a função de tirar o expectador do mundo real, e tentar naquele curto período de tempo, fazer com que ele embarque numa história diferente e tenha uma sensação de prazer. Basicamente o humorista, pega as coisas do mundo e transforma em algo cômico, para entreter as pessoas. E o que mais assusta os comediantes, é o fato daquela coisa cômica, criada por ele, que muitas vezes nem é sua opinião pessoal, serem levadas tão a sério, quando a função da coisa era justamente o contrário. Afinal o humor não precisa ser explicado, não precisa ser julgado, para humor não existe tabus.

Um humorista famoso e polêmico, Rafinha Bastos, certa vez afirmou em uma entrevista, que não entendia como ele próprio, havia sido demitido da sua emissora na época em que trabalhava por ter feito uma piada. “Era como se o padeiro, tivesse sido demitido por ter feito um pão”. Na época do programa, a sua função era fazer várias piadas soltas, ao longo do programa, com os assuntos que iam surgindo. Ele fez uma piada com uma cantora famosa e acabou sendo processado por ela. O programa e a emissora, acabaram demitindo o comediante em seguida. Para Rafinha, que é um cara que defende com veemência que não existem limites para o humor, tal fato foi algo totalmente contrário aos seus princípios.

Outro cara que também defende que o humor não precisa de nenhum tipo de censura, que deve ser algo livre, é o também comediante e apresentador Danilo Gentili. Em várias entrevistas ele já deixou claro que acredita que na liberdade criativa dos humoristas e em decorrência de seguir esse princípio de fazer sátira com todo tipo de tema, ele já recebeu inúmeros processos. Em uma entrevista, onde ele está sendo entrevistado pelo empresário e apresentador Roberto Justus, Danilo entrou em um debate com Justus, defendendo que não existe limite para o humor.

Justus argumentou que existiam certos assuntos, que não deveriam ser mencionados em sátiras humorísticas, por serem delicados, como falar do povo judeu. Danilo explicou que não existem dois pesos e duas medidas no humor, que não existem assuntos mais pesados que outros. Se uma pessoa achou engraçado, e soltou gargalhada da piada do “português”, ela perdeu a razão para falar que não pode fazer piada e rir de uma piada de “judeus”, por exemplo.

Ou seja, para os humorista e amantes da comédia, as piadas não podem ter peso ou limites, afinal de contas, o humor não é algo para ser levado a sério. O fato das pessoas tentarem colocar um limite pro humor, acaba limitando a veia criativa das pessoas que produzem o entretenimento, e também não se chega a um limite prévio e estabelecido, já que para cada um, o limite está num patamar diferente.

A segunda vertente é que algumas comunidades se sentem ofendidas com algumas piadas, pois normalmente as piadas possuem um alvo. E como a principal função do humor, é pegar algo e mostrar de uma maneira cômica, muitas vezes, essa maneira de expressar é falando de maneira negativa ou exagerada de algo, e isso acaba ofendendo o alvo piada.

Quando você é o foco de alguma coisa, não quer dizer necessariamente que isso seja bom. Ainda mais quando o foco é algo distorcido da sua realidade. Mesmo sabendo que na maioria das vezes, a sátira não está ligada diretamente a você individualmente, sendo a algum grupo na qual você pertença, acaba atingindo uma “ferida”, e pode machucar.

Um exemplo disso, seria quando a sátira é feita com um determinado grupo social, podemos ver isso claramente num estilo de piada clássica que se fala das loiras. É fato que não é correto falar que todas as loiras são “burras”, que a cor do cabelo não vai influenciar o intelecto de ninguém, mas esse tema virou um alvo fácil de piadas e que realmente funcionava com o público. Mas será que as pessoas que são o alvo desse humor estão aceitando numa boa?

É certo que nem todas as pessoas aceitam o fato de estarem falando de algo que atinja elas de alguma maneira direta ou indireta, ou acabam se sentindo atingidas por se colocarem no lugar de alguém que foi alvo de algum tipo de piada dita “maldosa”.

Para essas pessoas, isso não é nem um pouco leve. Ocorreu um fato, com um humorista que fez em seu show de humor, piadas com pessoas negras, uma das pessoas na platéia que era negro se sentiu extremamente ofendido e levou o caso para a delegacia. O detalhe da história era que o humorista também era negro, e isso até o delegado acabou achando inusitado. Isso ocorreu com o humorista Marcelo Marrom, e ele expôs esse fato numa entrevista para o pânico na rádio (na jovem pan).

Logo, é notório que não importa de onde vem as sátiras ou piadas, e nem qual era intenção ou contexto que o humorista possuía na hora de fazê-las. O problema está justamente no fato de estar mexendo com algo que claramente era um tema muito sensível para as pessoas, e isso acaba acarretando um sentimento totalmente oposto do que é a essência do humor, acaba tirando o riso e trazendo raiva e tristeza.

E as pessoas e comunidades que acabam se sentindo atingidas não estão erradas por se sentirem lesadas. Muitas vezes são coisas que tais comunidades lutam todo dia por uma causa social, como por exemplo a luta pelos direitos iguais dos LGBT´s, e vai uma pessoa que nunca passou por nenhuma dificuldade relacionada a causa, e faz uma piada com esse tema que é tão difícil e sensível.

Por isso para responder a pergunta feita no início, eu vou fazer uma alusão a música. No meu ponto de vista, as sátiras(humor), são como músicas. Eles foram criadas com uma função social. A música é das pessoas curtirem a melodia, e a piada, a pessoas acharem engraçado. Se uma pessoa achou a música boa, ela já cumpriu o seu papel, se uma pessoa achou uma piada boa, ela também cumpriu a sua função social para existir.

Não existe essa definição de música ruim ou sátira fora dos limites impostos por alguém. O cuidado que se é necessário ter, seria identificar qual é o público alvo que vai se sentir bem escutando o conteúdo que a sátira está tratando. Assim como na música, que uma dupla sertaneja não vai fazer um show no rock in rio, algumas sátiras não são apropriadas para certos lugares. Isso não é sinônimo de proibição, e sim de bom senso.

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