Retratos do tempo

LÍVIA PASTICHI
CS-FILO-2018–2
Published in
2 min readOct 30, 2018
Fotografia por Harry Karrousos

Eu sempre gostei do tempo, a gente sempre correu junto, sempre fui de guardar coisas, sabe aqueles avós que guardam tudo da gente?, eu seria um deles.
Eu guardava de tudo, tickets do cinema, selos e embalagens bonitinhas, depois de um tempo percebi que comecei a colecionar momentos em forma de tatuagem.
Comecei aos 16 anos, mas desde que eu me lembro eu ia pro estúdio ver minha mãe se tatuar, preparação dos materiais, zoadinha da maquina, todo o processo me encanta.

Em uma dessas vezes, falei com um amigo tatuador que queria fazer uma “comigo-ninguém-pode” minha vó sempre teve uma logo em frente as casas onde morava, afasta as más energias e protege dizia ela, sempre acreditei.

Cheguei no estúdio, colocamos algumas músicas para tocar, conversamos sobre a vida, o quão intensa ela é, em meio ao processo criativo, eu e ele, precisei adentrar sobre a importância da força do feminino para mim, minha ancestralidade e energias que me cercam, o desenho se tornou fluido para ele, nossa conexão naquele momento se tornou uma tatuagem realmente minha, me vejo, vejo minha vó. Durante o processo da tatuagem sinto a energia percorrendo meu corpo e materializo em mim o que me levou até lá.

Cicatriz.

Cada pedacinho de mim são retratos de experiências, como flores que arrancava da casa da vizinha pra me enfeitar enquanto eu florescia, autoconhecimento, sonhos realizados, irmandade, a sorte que é ter um gato preto e estrias. Elas contam minha história, fotografia do tempo; colecionadora de memórias.

O tempo sempre foi meu amigo.

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