“Ética para viver melhor” reúne 24 ensaios, inéditos no país, sobre educação, política, teologia, entre outros

Allenylson Ferreira
C. S. Lewis Brasil
Published in
5 min readFeb 24, 2018

O livro é composto por 24 ensaios selecionados e que variam de assunto, desde teologia até questões éticas na esfera pública. Alguns destes ensaios são mais complexos, outros menos. Mas Lewis tem a capacidade de nos levar a uma profunda reflexão, usando imagens claras para que a compreensão seja mais fácil, e se fizermos um pouco de esforço, entenderemos o que o Jack está querendo dizer para todos nós. Todos eles foram escritos no período de 1941–1958, e a ordem segue a cronologia. Embora escritos no século passado, Lewis fala sobre problemas que permanecem atuais e bastante polêmicos. Como é o assunto sobre a guerra ou a pena de morte. Este livro pode ser lido por qualquer pessoa, mesmo não sendo cristã. Como o título e a capa sugerem, estes ensaios são de suma importância para entendermos o mundo a nossa volta e a como viver e agir corretamente nele (principalmente em nosso país). Os cristãos estão expostos a estes temas, e é necessário que a nossa resposta seja bem sólida e firmada na Verdade.

O primeiro ensaio já deixa o leitor com o cérebro em acelerada atividade. “Por que não sou pacifista (1940)” é complexo, pois Lewis não se contenta apenas em dar sua opinião. Ele fundamenta o seu argumento na lógica, apresenta algumas situações para exercitar a nossa lógica, recorre à História e chega à conclusão de que o pacifismo não é a melhor opção para o nosso mundo. Sim, a ideia é louvável. Mas o mundo funciona com eventos reais, baseados na realidade concreta, e não abstrata. Onde quer que a ideia do pacifismo encontre raízes, há insegurança. O que seria da Europa se recusasse a entrar em mais uma guerra em nome do pacifismo? Como venceríamos Hitler apenas com o poder da argumentação? Não, isto não é possível no mundo dos eventos reais. Pode até ser possível em um mundo totalmente abstrato, pois o que valida se uma ideia ou pensamento funciona de fato é quando ela é aplicada na realidade, no mundo das experiências vividas (empirismo). Com o fino humor que lhe é próprio, Lewis ironiza os pacifistas e arremata:

“A sentença da autoridade humana geral também é clara. Desde o começo da história até o naufrágio do Terris Bay, o mundo ecoa louvores à guerra justa. Para continuar pacifista, será necessário dizer adeus a Homero e a Virgílio, a Platão e a Aristóteles, a Zaratustra e a Bhagavad Gita, a Cícero e a Montaigne, à Islândia e ao Egito. Desse ponto de vista, sou quase tentado a responder ao pacifista com as palavras de Johnson a Goldsmith: “Não, senhor, se o senhor não pretende adotar a opinião universal da humanidade, então não tenho mais nada a dizer”.”

É uma boa resposta aos pacifistas que existem aos montes em nosso século, pois no século passado os pacifistas eram a minoria. Hoje, infelizmente, há uma grande parcela que ecoa louvores ao pacifismo teórico que é desconectado de toda experiência humana universal. Não está na hora de ouvirmos o que a História tem a dizer e ficarmos calados?

Os ensaios são conservadores. Não poderíamos esperar outra coisa do grande C. S. Lewis. Aos amigos progressistas, este livro poderá causar uma série de problemas às suas crenças políticas e éticas. Tratando sobre igualdade, um dos temas mais discutidos nos últimos anos, Lewis diz o óbvio. A igualdade é boa até certo ponto, mas é bom nos despirmos dela todas as noites. As pessoas são iguais, pois são humanas, pertencentes à mesma espécie e são iguais perante a lei. Não devemos ultrapassar este limite, pois sabemos que há pessoas inferiores e superiores (hierarquicamente falando). Como ele afirma: “A democracia requer que os inferiores não levem os superiores muito a sério; ela morre quando fica repleta de inferiores que pensam que são superiores.” Democracia, igualdade, guerra, pacifismo, “terríveis coisas vermelhas” (alusão às ideologias vermelhas), educação, salvação da humanidade, são assuntos éticos e políticos que, tanto na época de Lewis como na nossa, precisam ser esclarecidos e encarados com seriedade, pois corremos o risco de ver tudo o que amamos ser destruído por teorias novas e sem valor algum.

Os ensaios voltados para os assuntos da religião, o cristianismo especificamente, são como tesouros a serem guardados na mente e no coração. Lewis aborda questões como o problema ético da dor de uma forma tão clara, mas não simplista, que ficamos encantados. Sobre apologética, ele diz que “não precisamos de mais livretos sobre o cristianismo, mas, sim, de mais livretos cristãos sobre outros assuntos — como o cristianismo latente. Vemos isso com mais facilidade olhando por outro lado. Não é provável que nossa fé seja abalada por um livro sobre o hinduísmo. Entretanto, se toda vez que lermos um livro de geologia, botânica, política ou astronomia, encontrarmos implicações hindus, isso nos abalará. Não foram os livros escritos em defesa do materialismo que tornou o homem moderno materialista; foram as posições materialistas contidas em todos os outros livros. Da mesma forma, os livros sobre cristianismo não o incomodarão muito. Mas ele ficaria perturbado se, toda vez que procurasse um livro de introdução a uma ciência, a melhor obra no mercado fosse sempre escrita por um cristão. O primeiro passo para reconversão do país seria uma série de livros escritos por cristãos que vencesse os best-sellers em seu próprio terreno. O cristianismo teria que ser latente e não explícito. Claro que a ciência precisaria ser perfeitamente honesta. Ciência distorcida em benefício da apologética seria pecado e tolice.”

O ensaio “Religião sem dogma?” é um golpe nos cristãos ditos liberais. Lewis era ortodoxo, embora sua teologia sobre a Escritura não fosse. Mas este é um assunto para outro artigo, sobre outro livro. Jack ainda trata sobre “A teoria humanitária da punição”, onde deixa qualquer um que acredita que a punição não deve ser como retribuição, mas sim como cura de uma doença (ressocialização, talvez?), de cabelos em pé. Este livro é um material bastante incômodo para os críticos do cristianismo, e para os que são de dentro também. Quem for ortodoxo, não sentirá tanto incômodo assim. Mas os que não são, verão um C. S. Lewis severo, insensível e “sem o amor de Jesus”.

Ética para viver melhor: Diferentes atitudes para agir corretamente. (C. S. Lewis, 264 pgs, Editora Pórtico, 2017).

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