Reflexões cristãs, de C. S. Lewis

Allenylson Ferreira
C. S. Lewis Brasil
Published in
3 min readJul 19, 2019
Young Clergyman Reading, Martin Rørbye, 1803–1848.

Em mais uma belíssima publicação, a Thomas Nelson Brasil lançou no último mês o décimo título da sua coleção especial de C. S. Lewis. Ficamos felizes em ver o empenho e dedicação que a editora demonstra em relação ao catálogo do Lewis por aqui no Brasil.

Reflexões cristãs trata de temas variados. Desde a literatura, campo em que o Lewis domina muito bem, até temas mais complexos, como a teologia moderna e crítica bíblica.

Os dois primeiros ensaios, que aborda a relação do cristianismo com a literatura e a cultura, se complementam — posso afirmar. Muitos cristãos do seu tempo, lá pelas décadas de 1940–60, tinham dúvidas e até certo receio em relação à literatura e a cultura. Poderiam elas ser aliadas do cristianismo ou inimigas? Para se envolver com elas, o cristão estaria entrando em um terreno perigoso ao qual a Bíblia chama de pecado? Lewis argumenta que, tanto a literatura quanto a cultura, são neutras em si mesmas. Elas não são tipos de pecados, embora possam ser usadas para fins pecaminosos, e a Bíblia não condena o envolvimento com elas e, muito menos, condena aqueles que trabalha e sobrevive através delas. Pelo contrário, deveríamos nos aproximar delas de forma a usá-las com bastante sabedoria (se for essa a nossa vocação). Como ele escreve, é até possível que algumas pessoas sejam salvas através dela. Não que todos venham a ser salvos pela cultura, mas que há certos tipos de almas que se dão assim.

Nos demais ensaios, sua defesa pela fé cristã é muito cristalina. Tratando de argumentos que costumam ser usados para invalidar o cristianismo, Lewis demonstra o porquê foi chamado post mortem como um dos grandes apologistas do século XX. “Religião: realidade ou substituto?”, “A linguagem da religião”, “Teologia moderna e crítica bíblica” são alguns exemplos de como ele argumenta brilhantemente, e de forma bastante clara, esses problemas que são levantados pelos incrédulos — e até mesmo por alguns que se confessam cristãos.

O veneno do subjetivismo” e “Historicismo” são ensaios bastante atuais. É interessante observar o quanto dos problemas do século passado perduram até hoje e, infelizmente, se agravaram. Lidamos com autoridades, filósofos, escritores, e todo tipo de gente que afirma que a objetividade não existe, pois a verdade para mim não significa ser a verdade para outra pessoa, de que somos condicionados a pensar que X é certo e Y é errado, quando poderia claramente ser o oposto ou nada disso. Assim como aquelas pessoas que costumam evocar o “julgamento da História” para indicar que determinadas ações e eventos serão julgados — criminalmente — pela História, como se esta fosse um tipo de deidade.

C. S. Lewis lida com problemas bem comuns a nós, pessoas do século XXI, e mais que nunca, nos oferece aquela sabedoria que está apoiada em gigantes do passado — passado esse que costuma ser ridicularizado pelos “homens da época”.

Os Salmos” traz uma luz para aqueles que não entendem como orações tão sujas e vingativas podem ser inspiradas divinamente. Deveríamos orar como aqueles hebreus raivosos? E pelo mesmo caminho, “Oração peticionária: um problema sem resposta” levanta o questionamento sobre se este tipo de oração — aqui, Lewis identifica dois padrões de orações peticionárias — é aceita por Deus e, até que ponto, podemos orar pedindo o que queremos que seja feito ou pedir o que queremos com um adicional de submissão — que seja feita a Sua vontade.

Os demais ensaios, “Sobre ética”, “De futilitate”, “O funeral de um grande mito” (um belíssimo ensaio sobre o mito da evolução, aquela evolução entendida mais popularmente), “Sobre música sacra”, “A linguagem da religião” (mais um belíssimo ensaio, que trata também sobre a linguagem poética) e “O olho que vê” são um deleite para o leitor.

Reflexões cristãs é um livro riquíssimo e traz novos aprendizados para todos seus leitores cristãos. Como sempre digo, C. S. Lewis sempre tem algo a nos ensinar todos os dias — basta apenas lermos estas e as demais páginas para sermos instruídos com um dos mais brilhantes professores dos últimos dois séculos.

Reflexões cristãs, C. S. Lewis, 288 p., Thomas Nelson Brasil, 2019.

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