O papel do cuidado

CTMA tramas e tessituras
CTMA: tramas e tessituras
3 min readMay 9, 2017

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Considerando, uma vez mais, Leff, quando nos diz que: “A educação para a formação de valores, atitudes e competências capazes de apreender e atuar dentro da concepção de mundo como sistemas socioambientais complexos implica a necessidade de pesquisar os problemas da aprendizagem da complexidade em função da evolução das estruturas cognitivas do aluno em seus diferentes estágios de desenvolvimento, dentro de seu contexto cultural e ambiental próprio” — , a questão posta quando do CTMA foi: como adentrarmos na Produção do Saber a partir do reconhecimento e valorização dos saberes populares em um Curso Técnico em Meio Ambiente? E, ainda: como promover uma formação técnica profissionalizante pautada na riqueza de experiências e histórias de vida em um contexto de 55 estudantes de diferentes lugares do país e movimentos sociais?

Dentre as estratégias, tivemos como uma diretriz a dimensão do cuidado. O cuidado em uma acepção ampliada, no sentido de promover uma diversidade de domínios de comunicação, de espaços de autocuidado, de práticas de intercâmbio cultural como estratégia metodológica, estágios, um cotidiano de leitura, escrita e reflexão e, mesmo, a iniciação à pesquisa e à informática.

E, por isso, ao longo dos eixos e módulos, perpassamos por diferentes gêneros orais e escritos: teatro, cordel, música, produção audiovisual, cartilha, mapas, cartas, monografias, programa de rádio, memorial, caderno de reflexão, petição. Cursar o CTMA exigiu presença de espírito: os sentidos se aguçavam e a criatividade emergia.

O cotidiano, também, era matéria de aprendizado — e as trocas de experiências, vida e luta entre os/as estudantes de movimentos sociais ali presentes (MST, Movimento dos Atingidos por Barragens, Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais, Movimento 21, Articulação Anti-Nuclear, Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses/APF) enriqueciam o processo.
Por isso o possibilitar ao camponês e à camponesa, enquanto sujeitos sociais em luta, alcançar o olhar de observador/a em diferentes perspectivas: de si e do Outro, do sujeito e da comunidade, da unidade familiar e do assentamento, do próprio território e de outros territórios — tudo isso se constituiu em um caminho de promoção do/a Técnico/a no campo do cuidado com o território.

O instante de Planejamento Pedagógico era também de reflexão na construção desse novo profissional da saúde. O trabalho da Coordenação e dos/as estudantes foi de grande solidariedade e esforço no sentido de fazer valer viver o novo.

Nesse processo, algo que tivemos e utilizamos, como na construção destes fascículos, foi aquilo que se conhece por sistematização. Metodologia oriunda da América Latina e organizada por um grupo de pessoas engajadas nas lutas sociais que têm na figura de Oscar Hara Holliday uma referência, instituiu-se como forma de melhor compreender as questões sociais a partir da ótica popular, retirar delas seus aprendizados e compartilhá-los com outros grupos, visando construir um campo ampliado de leitura reflexiva sobre suas próprias práticas. No CTMA, tendo em conta essa referência, sem receita e sem uma forma rígida, criamos um tempo-sistematização em que os/as estudantes puderam se debruçar sobre os materiais coletados em trabalhos e vivências de campo.

Dentro do percurso traçado, então, o lidar com diferentes linguagens — escrita, cartográfica, artística — cumpria a função de acumular vivências no âmbito da escrita que revertessem para o Trabalho de Conclusão de Curso/TCC — e nesse sentido, termos constituído o eixo programático de Língua Portuguesa cumpria essa função de promover ou estimular a capacidade de produção dos/as estudantes. Sobre isso, maiores informações da programação metodológica se encontram no Fascículo 3 — A(s) Metodologia(s) ou o Método Pedagógico do CTMA — dessa experiência que potencializou a emergência do saber ambiental dos povos do campo!

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