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CTMA tramas e tessituras
CTMA: tramas e tessituras
6 min readMay 9, 2017

Aprendizados para novos processos de formação em saúde do campo

Relacionados à gestão

  • É preciso avançar para construção de uma Saúde do Campo que esteja centrada nos territórios camponeses e não para os territórios camponeses. O CTMA buscou ser coerente com essa necessidade.
  • É necessário estudar o Catálogo Nacional de Cursos Técnicos e conhecer as resoluções e pareceres da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação para implementação de qualquer curso técnico.
  • É preciso compreender que para promover Educação e Saúde do Campo é necessário investimento, não qualquer investimento, não uma sobra de recurso, não um pequeno projeto: é necessário investimento de grande porte.
  • É preciso qualificar a área de gestão de projetos dentro da Fiocruz e demais instituições públicas, assim como garantir recursos que assegurem a constituição de equipes de trabalho para esse fim.
  • É importante considerar que a construção coletiva de pactos (pactuações) foi um aspecto importante e ilustrativo de todo o processo do CTMA pode se constituir numa referência para processos semelhantes.
  • É necessário considerar as diferentes temporalidades na gestão de projetos, mantendo a presença de espírito para o enfrentamento das diversas questões que concernem a processos desta natureza.
  • É preciso saber que para gerir recurso público é necessária a formação de uma equipe mínima que possa, com conhecimento técnico sobre os mecanismos de funcionamento da máquina pública, dar conta de todos os aspectos envolvidos num desafio como este.
  • É preciso que o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho e Emprego se posicionem junto aos Conselhos Profissionais para disciplinar o reconhecimento de instituições e cursos.

Relacionados à Metodologia

  • O CTMA é uma conquista da luta do MST!
  • Fechar escola do campo é um crime e faz mal à saúde! A(s) juventude(s) do campo querem estudar e desejam ficar no campo. A Escola João dos Santos de Oliveira e o CEAGRO são expressões da importância das instituições escolares dentro dos assentamentos e demais comunidades. É necessário que se criem dispositivos de fortalecimento das escolas do campo através do SUS, enquanto uma das estratégias de implementação efetiva da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas/PNSIPCFA.
  • O mergulho do SUS nos territórios, numa perspectiva de se repensar a partir da realidade concreta, pode contribuir, além de trazer avanços na constituição de uma saúde do campo, para oxigenar o pensamento crítico da saúde coletiva brasileira e de experiências do SUS de uma forma geral.
  • A PNSIPCFA precisa ter dispositivos claros para viabilizar o mergulho dos profissionais de saúde nos diferentes territórios. Estimular na educação do campo cursos de saúde do campo, a integração dos trabalhos das equipes de Saúde da Família com as equipes de ATER e novas experiências do VER-SUS direcionadas a estudantes de cursos de nível médio de saúde do campo revelaram grande potência no CTMA.
  • O CTMA revela que a convergência epistemológica entre as concepções de educação presentes na Pedagogia do Movimento Sem Terra e na Politecnia se confirmam na prática enquanto possibilidades concretas — e que esse encontro pode possibilitar avanços para ambas as formulações.
  • O CTMA reforça a importância do currículo integrado (entre formação geral e técnica) — mesmo para aqueles cursos oferecidos na modalidade subsequente. Além de oferecer disciplinas de formação geral, os cursos devem ter estratégias pedagógicas que contribuam para a superação de uma leitura fragmentada da realidade. As diversas metodologias que compõem o Método Pedagógico do CTMA têm nas ideias de educação territorializada e educação problematizadora o centro da estratégia de integração curricular.
  • A agroecologia no cotidiano de uma formação começa com a alimentação! São as refeições que integram produção e consumo. O despertar da consciência de uma cultura alimentar de base agroecológica é central no campo da saúde humana e ambiental.
  • As mulheres são as principais responsáveis pela construção do setor Saúde e pelo cuidado em saúde — e foram fundamentais na condução da experiência do CTMA. Elas reivindicam cursos em saúde do campo que viabilizem suas participações.
  • Cuidado é um valor que precisa estar presente no cotidiano de cursos de saúde.

Relacionados aos territórios

  • O território é uma categoria do Método Pedagógico do CTMA que contribui na contextualização das condições de vida e das situações de saúde no campo. O uso desta categoria nos ajuda a compreender as relações de poder envolvidas no ordenamento territorial-ambiental dos assentamentos e comunidades rurais e nos informa quais intencionalidades, agentes e regras estão em jogo.
  • Os mapas elaborados no CTMA são mapas da saúde do campo que sintetizam os diferentes aspectos e dinâmicas dos agroecossistemas envolvidos nos processos de produção da vida nos assentamentos da Reforma Agrária. Eles expressam as etapas, caminhos e práticas de observação, registro, diálogo, troca e sistematização de informações, envolvendo o diagnóstico das condições de vida e das situações de saúde das populações do campo, ou seja, representam ao mesmo tempo o processo — a cartografia como linguagem-método do diagnóstico — e o produto — o mapa como linguagem-síntese do diagnóstico.
  • O uso de diferentes escalas nos mapeamentos realizados proporcionou detalhar o processo saúde-doença de forma integrada e complexa, ampliando as noções de risco e vulnerabilidade a partir de sucessivas interseções e sobreposições de aspectos e práticas relacionadas à vida no campo.
  • O cenário de vulnerabilidade socioambiental ilustrado nos mapas de denúncias desafia o setor saúde a repensar seus modelos assistenciais para as populações do campo, tomando como referência o acirramento dos conflitos e das conflitividades territoriais vividas pelas comunidades.
  • A percepção das contradições e das imposições sobre tais comunidades é um fenômeno complexo que exige pensar a intersetorialidade e o diálogo de saberes como paradigma da saúde do campo.
  • Os diferentes anúncios mapeados nos mostram o repertório de práticas e de experiências de promoção de ambientes saudáveis no campo, assim como a forma pela qual diferentes comunidades rurais se reproduzem e resistem. A produção da vida por meio destas práticas revigora as possibilidades de construção de outras economias, solidárias e saudáveis — e aponta a agroecologia como um projeto estratégico na promoção da saúde nos territórios da Reforma Agrária.

Relacionados à construção do conhecimento

  • Promover formações técnicas profissionalizantes em saúde e ambiente às juventudes rurais é estratégico no processo de construção do SUS coerente com um projeto de saúde do campo, ou seja, com os pressupostos, princípios e diretrizes da PNSIPCFA. As experiências apresentadas delineiam processos metodológicos inovadores a exemplo da versão VER-SUS das populações do campo. O direito e acesso ao conhecimento a partir das vivências e estágios possibilitaram aos Técnicos/as aprofundar os diagnósticos das condições de vida e saúde em nível de comunidades, assentamentos e municípios. Reconhecemos que tais práticas pedagógicas promovem o fortalecimento da luta por garantia de direitos fundamentais como o acesso aos serviços públicos de saúde. Se saúde é a capacidade de lutar contra tudo que nos oprime, compreendemos que a educação do campo é um caminho de promoção da saúde de comunidades ribeirinhas, pesqueiras, campesinas.
  • Assim como a saúde, educação é um direito fundamental. O SUS deve ocupar as escolas do campo também na perspectiva de enfrentar o fechamento de escolas em comunidades rurais (ver Fascículo 2), proporcionando a oferta de formação técnica em saúde. A educação contextualizada é condição estruturante para a promoção da saúde do campo.
  • As experiências pedagógicas de integração curricular das caravanas territoriais e estudo de caso trouxeram à tona o impacto de grandes empreendimentos à saúde — expansão das fronteiras de fruticultura de irrigação na Chapada do Apodi/CE/RN, dos monocultivos de soja e milho no município de Cascavel/Oeste do PR, do complexo de torres de energia eólica na Zona Costeira de Itapipoca/CE. Trazer a dimensão dos conflitos ambientais desvelou a amplitude dos contextos de vulnerabilidade socioambientais nos territórios dos/as educandos/as, como bem descrito no Fascículo 4, e revelou a importância da pesquisa e sistematização.
  • As experiências relatadas neste Fascículo só se constituíram a partir de uma rede de organizações e entidades colaboradoras na construção e condução de cada uma delas, cujo mapa (dessa teia) se encontra no Fascículo 2. Trazemos à luz o papel da articulação, mobilização e colaboração dessa rede na promoção da educação e saúde do campo.

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