Falhando no Inktober

Décio Júnior
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Published in
6 min readDec 14, 2018

Resolvi escrever um pouco sobre a minha experiência com o Inktober desse ano para tentar organizar minha cabeça e servir como preparação para o ano que vem.

O que é Inktober?

O Inktober é uma iniciativa criada pelo artista Jake Parker, que queria basicamente explorar e melhorar sua habilidade de finalização com Brush Pen. Então decidiu que no mês de outubro iria produzir uma arte por dia com essa caneta e postaria no seu blog.
No próximo ano mais artistas se juntaram ao movimento, e continua assim ano após ano.

O ideal é que as pessoas produzam diariamente um desenho finalizado com nanquim ou alguma caneta semelhante. Isso também acaba incluindo marcadores, aquarelas e outros tipos de tinta.

Acredito que o Inktober tem uma variedade de impacto para pessoas diferentes e exerce pressões diferentes.

Algumas pessoas se assustam por terem que produzir algo diariamente, outras com os temas, outras com terem que publicar todos os dias, e outras com a mídia tradicional.

Existem artistas que já estão mais a costumamos a produzir desenhos mais finalizados em mídias tradicionais, como por exemplo o Eduardo Vieira, Bruno Mota, entre outros. Já outros artistas (tipo eu) estão mais acostumados com o workflow digital e acho que acabam perdendo um pouco o processo de trabalhar no tradicional. Eu estou acostumado a fazer sketches rápidos no sketchbook, e acabava achando que seria assim para o Inktober. Porém para o resultado que eu queria precisaria de um pouco mais de tempo dedicado e o mínimo de planejamento em cada desenho. Ainda mais para quem não está habituado.

Minhas Frustrações

Como citado anteriormente, o que mais me frustrou foi o fato de querer um resultado, sem fazer o processo que eu necessitava.

No começo eu não estava preocupado com isso, estava disposto a simplesmente experimentar, testar técnicas diferentes e o que sair saiu. Isso é engraçado que sempre “invejo” os projetos de outras pessoas que todos os dias seguem uma linha de estética, e o meu é uma salada maluca. Talvez ano que vem eu foque todos os dias no mesmo processo.

Enfim, esse lance de experimentação parecia bom, me divertir com as coisas. Mas depois me frustrei novamente com o resultado, não tinha jeito, teria que gastar mais tempo nas peças.

Mais ou menos no oitavo dia, resolvi que ia ter que sacrificar meu Inktober para conseguir terminar o Artstation Challenge que estava rolando. E resumidamente, surgiram outras prioridades e também não consegui finalizar o desafio na data.

Acho que nem preciso dizer o quanto isso foi frustrante, e acabou respingando nas pessoas a minha volta. Esse tipo de coisa é importante para gente, para nossa carreira, mas acho que devemos tomar um pouco de cuidado para não exagerar na frustração. As pessoas e nós mesmos, temos problemas maiores do que “não conseguir terminar um desafio”.

Não estou falando que a gente não deve se sentir mal com isso, mas acho que é importante prestar atenção em quão intenso ou quanto tempo isso tá levando. Isso é realmente proporcional ao problema? Saber avaliar a situação e ver o que podemos fazer a partir de agora.

Essas são as artes que finalizei mesmo após a data do desafio:

https://www.artstation.com/deciosjunior

Visão de Fora

Também acho legal citar que durante o tempo que estava trabalhando no outro desafio, comecei a meio que enxergar a coisa de fora, de outro ângulo. Comecei a reparar mais em outros artistas, como funcionava o processo deles e o que estavam produzindo.

Alguns caras como Kekai Kotaki, trabalham seus rascunhos direto na caneta, de forma mais leve mas direto na caneta. Porém notei que algumas fotos tinham um outro rascunho menor do lado. Processo e planejamento.

Outra coisa que me quebrava era o processo criativo. Eu queria fazer apenas um desenho direto e finalizá-lo (o que talvez funcione para alguns artistas), mas o meu processo criativo no digital envolve ir criando e ajustando desenhos. E aí eu vi que Will Murai criava alguns sketches no digital, uma espécie de brainstorm. Depois trabalhava essas idéias com lápis no papel, e aí sim as finalizava. Processo e planejamento.

Entendi que é importante você identificar qual a melhor forma de você trabalhar para o resultado que você deseja, o que você precisa fazer e quanto tempo vai levar.

Além disso, também notei que outros movimentos como o Digitober surgiram , e o próprio Jake Parker que esse ano estava produzindo suas artes no iPad e mesmo assim mantendo a mesma hashtag.

“Minha Solução”

Resolvi que iria voltar a produzir para o Inktober. Eu sei que parte do desafio são produzir os 31 dias. Mas primeiro que deveríamos produzir todos os dias, seja no tradicional ou digital, independente de desafio ou não. Então não faz o menor sentido simplesmente falar “não vou produzir mais porque deixei alguns dias passar”. Acho que continuar desenhando vai te fazer uma artista melhor do que não desenhar.

Nesse tempo do desafio, acabei esbarrando em um vídeo do Brushwork Atelier falando sobre o processo de aprendizagem e frustração. O vídeo basicamente era embasado em uma das grades utilizadas no curso da FZD.

Resumidamente funciona da seguinte forma, o aluno começa desenhando coisas que são mais “aleatórias”, que nós não temos muitas comparações e julgamentos, como pedras, árvores, insetos e répteis. Isso aumenta a chance do aluno se satisfazer com o desenho, além de ir trabalhando sua biblioteca visual.

Segue o vídeo na integra:

https://www.youtube.com/watch?v=30RsBiXpgC4

E foi isso que eu fiz. Comecei a explorar o desenho com caneta, porem voltado para o estudo de natureza e utilizando imagens de referência. O que para mim funcionou muito bem, eu parei de me frustrar e voltei a ficar empolgado com o que eu estava fazendo.

Vou deixar aqui algumas dessas artes:

Conclusão

Para mim o Inktober realmente é mais do que apenas fazer um desenho com caneta todos os dias. Acredito que é um momento de se desafiar, se descobrir, de organizar seu processo e seus pensamentos

Não é sobre uma mídia, é sobre auto conhecimento, bons hábitos e evolução.

Obrigado por ter lido até aqui :)

Fique a vontade para compartilhar suas experiências e sua opinião nos comentário!

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