Bolo de fubá com bolinho de chuva

Guilherme M. Bonfim
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3 min readFeb 10, 2021

Antes de mais nada, aqui vai um alerta: apesar do título, minha intenção não é fazer nenhuma ode ao carboidrato. Vem comigo que você já, já vai entender!

Se um dia eu tiver a oportunidade de pegar uma carona no DeLorean do Doutor Emmett Lathrop, o famoso Doutor Brown, certamente minha primeira parada será a esquina das ruas Antônio do Campo e Manoel Moraes de Souza, lá no Jardim Pedreira, zona sul de São Paulo, entre os meses de junho e julho de 1993, em uma quarta-feira. Daquela esquina vai ser bem fácil chegar até a casa das minhas duas avós. Ou seja, caminhando poucos metros, eu terei o prazer de saborear mais uma vez aquele bolo de fubá de sabor único e, se optar por seguir na outra direção, os bolinhos de chuva mais redondinhos que já vi estarão à minha espera. A verdade é que, certamente, farei as duas visitas, essa é a vantagem de ter duas avós morando tão pertinho e elas sempre acharem que a gente precisa comer alguma coisinha.

A justificativa para se fazer essa viagem no tempo em uma quarta-feira também vem do estômago. Em 1993, esse era o dia da feira livre lá da minha rua, ótima oportunidade para reviver a tradição do pastel com caldo de cana de todas as quartas com o meu avô, na parte da manhã. No final da tarde, depois de pastel, bolo de fubá e bolinho de chuva, é só esperar pela chegada do meu outro avô com aquelas balinhas quadradas de doce de leite, confetes e, com um pouco de sorte, um “cigarrinho” de chocolate.

Aproveitar o recesso escolar do meio do ano com meus primos e irmãos, com tantos avós por perto, era maravilhoso. Toda essa vontade de nos alimentar era mais do que uma preocupação nutricional. É um jeito que só eles têm para demonstrar amor. Eu, que sempre ouvi que era “bom de garfo”, adorava!

Depois de me alimentar e matar a saudade das antigas casas (minha e dos meus avós), quero dar um passeio pelas ruas do bairro, viver mais uma vez a emoção de atravessar a ponte do riozinho, se é que podemos chamar aquilo de ponte, aqueles dois troncos tombados com algumas tábuas pregadas, sem corrimão ou guarda-corpos, não pode ser chamado de ponte. Ainda quero jogar bola na rua, com direito a medalhas de tampinha de garrafa pintadas com guache e, aproveitando que estaremos em época de pipa, vou comprar uma novinha e um carretel, lá no bazar do Nelsinho. A rabiola tem que ser caseira, vou usar saco de lixo preto, fica bem mais bonita que aquela azul-clarinha ou as sacolinhas do Carrefour, apesar de que isso vai deixar minha mãe um pouco irritada.

Para finalizar, vou pegar minha bicicleta branca de guidão reto e desafiar meu irmão com a sua bike azul e amarela, e minha irmã, com sua Ceci rosa, para uma corrida. Provavelmente eu perca de novo ou acabe caindo, mas quando meu pai chegar do trabalho, ele pode montar nosso autorama, ali eu sempre venço!

Difícil mesmo vai ser pararmos com as brincadeiras e o Doutor Brown me convencer a ir embora, mas isso minha mãe resolve.

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