Eu, minha esposa e ela

Guilherme M. Bonfim
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3 min readJan 26, 2021

Para muitos é fácil julgar e apontar o dedo maldizendo a minha atitude em relação a ela. Eu sei bem como é, também já fui um julgador. Antes de descobrir, da pior maneira, o quão difícil é resistir a determinados encantos, orgulhava-me em espalhar por aí o meu autocontrole e a minha blindagem a charmes daquele tipo.

Lembro-me com detalhes da primeira vez em que nos vimos. Nossos olhares se cruzaram em meio a uma pequena algazarra que acontecia naquela garagem. Era uma verdadeira festa! Não ficamos muito íntimos de primeira, ela estava na companhia de sua mãe e de dois irmãos que me fitavam a todo instante com certa desconfiança. Minha esposa, com quem eu havia recém-chegado da nossa lua de mel, comentou comigo que havia achado ela linda. Eu também.

Por alguma razão até hoje obscura, minha esposa e ela se deram muito bem logo de primeira e passaram o resto da noite juntas. Pareciam velhas amigas, estavam alegres, radiantes. Eu ali do lado, meio isolado e desconfortável, notei que aquilo poderia ser mesmo o princípio de uma grande amizade. Vira e mexe, ela me olhava por sobre o ombro de minha esposa. Encabulada, não me encarava nem nada, mas eu percebi, ou imaginei, que ela nutria certa curiosidade em relação a mim.

Foi inevitável imaginar como seria estarmos lá em casa, nós três juntos: eu, minha linda esposa e ela, sua encantadora “nova melhor amiga”, que, aliás, eu ainda nem sabia o nome. Como em um filme de comédia romântica, em que circunstâncias bizarras nos levam a situações um tanto quanto inusitadas, minha esposa convenceu-me de que sua amiga precisava de uma carona. Iríamos sair de lá juntos. Evidentemente que nada além do normal aconteceu. Só a levamos para casa, mas, com o passar dos dias, o relacionamento delas ficou cada vez mais próximo.

Não demorou muito para que eu também me tornasse um grande amigo dela. Estávamos juntos com tanta frequência que, até mesmo quando minha esposa não nos acompanhava, a gente não se desgrudava mais.

Certo dia, minha esposa havia saído para um compromisso profissional e eu tive a oportunidade de estar em casa a sós com ela, nossa amiga, pela primeira vez. O clima era de descontração, alegria e muito carinho. Minha esposa chegou e se deparou com ela deitada em nossa cama. Por sorte eu estava na cozinha preparando alguns petiscos e jurei para minha esposa que eu estava tão surpreso quanto ela com aquela atitude. Não colou. E nem poderia, eu dava na cara. Era incapaz de disfarçar que nossa amiga tinha o domínio completo da situação e fazia o que queria comigo. Eu estava completamente encantado por ela, que sabia usar todo o seu charme para me hipnotizar.

Quando apenas a beleza não funcionava, bastava um chantagista princípio de choro e, pronto, eu me rendia completamente e fazia o que ela queria.

Envergonho-me em dizer, mas essa situação perdura até hoje. Ela tem feito o que quer de mim diariamente. Todos os dias, ela dá um jeito de me tirar de casa. Todos os dias, sem exceção, ela me faz colocar a sua coleira e levá-la para um passeio pelo bairro. Nossa amiga, Sandy, uma mestiça de labrador com vira-lata, faz realmente o que quer comigo. Eu, simplesmente, não resisto aos seus encantos.

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