Um dia resolvi correr

Guilherme M. Bonfim
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2 min readJul 26, 2020

Era um domingo de sol, o relógio marcava 7 horas da manhã quando vi um casal correndo lado a lado em um parque que ficava no caminho entre meu barzinho predileto e a minha casa. Eu voltava de uma noite feliz, regada à cerveja, petiscos e diversão.

Aquele casal me chamou a atenção e, confesso, me irritou um pouco. Eles estavam felizes, plenos, cada um deles tinha seu próprio iPhone preso ao braço, um fone espetado nos ouvidos e ainda assim conversavam e sorriam. Era domingo, 7 horas da manhã.

Meu primeiro impulso foi questionar: qual a razão para levantar no domingo, lá pelas 6 horas da manhã? Afinal, se às 7 horas eles já corriam lindamente, que horas aqueles safados tinham levantado? Não podiam correr mais tarde?

Eu fui pra casa pensando neles. Não perdi o sono nem nada, tinha passado a noite em claro. Mas, ao acordar, lá pelo meio-dia, me lembrei daquele casal e decidi que ia tentar fazer o mesmo. Uma dor de cabeça estranha e um mal-estar estomacal me impediram de ir naquele mesmo dia, porém eu estava decidido. Não podia ser ruim. Quem é que levanta domingo de manhã pra fazer alguma coisa ruim? “Domingo que vem, eu vou”, pensei.

Passaram-se algumas semanas até que em um sábado à noite eu estava lá, programando o despertador para as 6 horas da manhã seguinte. Já que era pra experimentar aquilo, que fosse por completo!

Levantei no horário previsto, coloquei o meu tênis aparentemente mais confortável, uma bermuda tactel, a mesma camiseta velha que usava pra jogar bola e fui. Eu não tinha um porta-celular legal pra prender meu iPhone no braço. Nem iPhone eu tenho, e também não sabia que tipo de música se escutava enquanto corria. Deixei o celular em casa.

Cheguei ao parque pouco antes das 7 horas. Observei um pouco os outros corredores, caminhei para dar uma aquecida e fazer o reconhecimento do ambiente, fiz um alongamento meia-boca e parti para o meu primeiro quilômetro.

Depois de intermináveis 600 metros, parei. Exausto. Ofegante. O coração estava acelerado. As pessoas me olhavam com pena. Caminhei ruborizado até o bebedouro mais próximo, me hidratei e senti que para o primeiro dia tinha sido excelente. Menti para mim mesmo. Tinha sido vergonhoso.

Eu não vou fazer um passo a passo gradativo de tudo o que vivi até aqui. Mas hoje, cerca de um ano e meio depois, me tornei a pessoa irritante que acorda às 6 horas da manhã no domingo. Agora, corro 15 quilômetros com certa tranquilidade, estou me preparando para a minha primeira meia maratona e já tenho até uma tattoo runner!

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