Qual é o trabalho mais difícil do mundo?
Essa foi a provocação de Gisele Victor Batista numa aula da Jornada Liderança Humanizada.
Respondi de bate-pronto sem pensar muito: A distribuição de poder e riqueza. Minha justificativa: o sistema econômico em que vivemos acabou criando uma sociedade extremamente desigual, com uma concentração de poder e riqueza em níveis obcenos que continua criando novos bilionários ano após ano mesmo durante a pandemia — período onde os super-ricos aproveitaram para aumentar ainda mais suas fortunas de acordo com o levantamento do banco suíço UBS.
Segundo dados do Pnad Contínua — Rendimento de Todas as Fontes 2019 do IBGE, se sua renda mensal é de R$ 10.313,00, você está entre os 5% mais ricos do Brasil. Nesta mesma linha, a Credit Suisse Institute, Global Wealth Report 2021, afirma que 1% da população detém 46% da riqueza mundial. E mais um número para embrulhar o estômago: 8 bilionários juntos têm mais dinheiro que a metade mais pobre do mundo (fonte: Oxfam).
Muita gente argumenta que vivemos num sistema capitalista livre e que tudo bem existirem bilionários. Muitos até alimentam o sonho de serem bilionários um dia, acreditando que um dia sua startup pode virar um unicórnio. Ou glamourizam e admiram aqueles que conseguiram acumular um patrimônio de 10 dígitos.
Acontece que a diferença entre ser milionário e ser bilionário é estratosférica. Se eu tivesse um milhão de dólares e gastasse um dólar por hora, levaria 114,08 anos pra esvaziar meu bolso. Se eu tivesse um bilhão de dólares levaria 114.077 anos! Ou seja, poderia gastar 1000 dólares POR HORA (!) que levaria 114 anos pra ficar sem um tostão.
Se um bilionário tem o suficiente pra desfrutar 114 anos sem trabalhar e com muito luxo, qual é a motivação para ele querer ganhar mais dinheiro? Não conheço nenhum bilionário em pessoa mas posso apostar que o motivo é um só: o vício em poder. Quanto mais dinheiro, mais poder. Poder para realizar sonhos egocêntricos como viagens espaciais, influenciar mercados, consumidores, narrativas, comportamentos, guerras e até mesmo as eleições de um país. Ou seja, bilionários são um erro de design.
Voltando à provocação. Como podemos fazer para distribuir renda e poder? Quais são os passos que podemos dar em direção à uma sociedade mais justa, onde todos possam ser empoderados para empreender trabalhos dignos, bem pagos e significativos?
Penso que podemos atuar em algumas esferas:
- Nível pessoal:
- Tomar consciência da concentração de renda, do seu lugar na pirâmide da distribuição de riqueza e de seus privilégios
- Consumir de pequenos produtores e boicotar as grandes corporações
- Ser antirracista, antimachista, anticolonialista e lutar contra o patriarcado
2. Nível organizacional:
- Desenvolver mecanismos de distribuição de riqueza e poder dentro da organização. Criar regras para que o salário mais alto não seja maior do que X vezes o salário mais baixo.
- Criar sistemas de governança e gestão menos hierárquicos, distribuindo poder e autonomia nas pontas (autogestão)
- Criar programas de diversidade e inclusão
- Garantir equidade de gênero nas posições de liderança
3. Nível governamental:
- Eleger representantes que fortaleçam a democracia, a transparência e a distribuição de renda
- Eleger mais mulheres, negros, indígenas e pessoas LGBTQIAP+ (quanto maior a diversidade, maior a capacidade de lidar com problemas complexos)
- Criar leis que taxem grandes fortunas (por exemplo, IPVA de helicópteros, iates e jatos)
- Criar políticas de distribuição de renda como a renda básica universal
- Criar programas de cotas não só para universidades mas para creches, ensinos fundamental e médio
- Criar instrumentos regulatórios que proíbam monopólios, principalmente na área de tecnologia
O questionamento do trabalho mais difícil do mundo trouxe para mim o paradoxo da liderança do século 21 — liderar compartilhando e distribuindo o poder com compaixão e consciência a partir de uma visão ecossistêmica e não egossistêmica.
E para você? Qual é o trabalho mais difícil do mundo e que competências você precisa desenvolver para liderar este trabalho?
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