Arquitetura de bibliotecas: a reforma

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Em 2002, eu era bolsista de uma instituição-modelo, pelo menos para mim. Trabalhava numa das maiores bibliotecas da área biomédica da América Latina, sempre com periódicos. Neste mesmo ano, prestei concurso e passei para uma biblioteca de uma instituição da carreira de ciência e tecnologia. Ufa, estava em minhas mãos a garantia não só de um emprego estável, mas também a possibilidade de continuar trabalhando numa biblioteca especializada.

Mas ao visitar a “minha” nova biblioteca… Veio um turbilhão de frustração, desânimo! Cheguei a pensar em desistir, tamanha a falta de coragem para assumir aquele cargo. Entretanto, não teve jeito, comecei a tentar trabalhar, apesar de sentir falta da infraestrutura que desfrutava antes, da distância da minha casa…

Isto porque a biblioteca mais parecia um depósito de livros, apenas um computador para 12 funcionários, iluminação deficiente, refrigeração capenga e um cheiro insuportável de mofo! Com o tempo, me acostumei com aquele quadro, mas sempre pensando que um dia a nova equipe formada poderia mudar este cenário.

Cerca de 4 anos depois, a biblioteca conseguiu uma verba de emenda parlamentar, e finalmente, aquele ambiente insalubre ia desaparecer! Pelo menos era o que desejávamos. Mas isso só aconteceu porque houve um roubo de obras raras. Em 2004, uma quadrilha especializada nesse tipo de roubo, conseguiu retirar alguns livros. Um tempo depois, 3 deles foram recuperados. Como sempre acontece no Brasil, é preciso perder para só então pensar em preservar.

Muito embora o prédio fosse antigo, suas paredes eram bem resistentes, não sendo necessária nenhuma demolição. Juntamente com a arquiteta da empresa que ganhara a licitação, a chefe da biblioteca e o restante da equipe chegaram a um ponto em comum sobre a reforma.

Primeiro ato: separar as obras raras do acervo de livros. Incrível, mas as obras raras tinham acesso livre, e certamente, isso foi um facilitador para os ladrões. O arranjo da biblioteca foi alterado; onde antes ficavam os usuários, criou-se uma área para as obras raras e a equipe, separada por uma divisória. A parte das OR passaria a contar com uma estante deslizante. Assim, foi necessário um reforço no chão para que aguentasse o peso.

E assim seguiu-se a reforma: com troca da parte elétrica, hidráulica, conserto do telhado, instalação de aparelhos de ar-condicionado e de câmeras de segurança…

Mas por que contar esta historinha? Apenas para dizer que, a arquitetura aplicada em bibliotecas fez toda a diferença. Melhorou a iluminação, tornou mais prático o arranjo das estantes e facilitou a preservação do acervo. Outro ponto importante foi unir os funcionários num mesmo espaço, otimizando o processamento técnico sem perder de vista o que acontece na biblioteca, pois a parte de cima das divisórias é de vidro.

Os usuários passaram a contar com um espaço claro, limpo, bem equipado e confortável. Houve também troca do mobiliário que, embora não totalmente adequado, era infinitamente melhor do que aquele que tínhamos.

Cerca de 1 ano depois, através de um projeto financiado pela Petrobras, todo o acervo passou por higienização. Algumas obras raras também foram restauradas. Enfim, a obra realizada na biblioteca resultou em uma melhora na qualidade de trabalho e no conforto dos usuários.

Ao reformar aquele imóvel que parecia tão decadente, conseguimos alcançar um design bastante agradável, mesmo com poucos recursos. Tanto que até hoje, continuamos a receber visitas técnicas de bibliotecários querendo informações sobre a reforma da biblioteca e por tabela da restauração das OR e da informatização do acervo.

Pensava-se até na construção de um novo prédio; mas uma reforma discutida entre técnicos e bibliotecários, sem grande aporte de dinheiro, fez toda a diferença.

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