Digitalizar para compartilhar

A digitalização nos meios bibliotecários tornou-se uma ferramenta indispensável para a preservação de documentos, segundo algumas opiniões. O material além de ser preservado, pode ser consultado, alcançando um número infinito de usuários, que mesmo remotamente, podem acessá-lo a qualquer hora, em qualquer lugar…

Mas vejamos algumas situações que acontecem por aí. Na biblioteca onde trabalho, por exemplo, há uma quantidade bem razoável de obras raras na área de botânica. Nos últimos anos, uma boa parte delas foi digitalizada por variadas instituições, que deram origem a algumas iniciativas, a saber:

· Botanicus — um portal de acesso livre gerido pela biblioteca do Missouri Botanical Garden, nos Estados Unidos. Até o momento, já foram digitalizados mais de 1900 títulos, entre periódicos e livros;

· Gallica — gerenciada pela Biblioteca Nacional da França, disponibiliza mais de 100.000 documentos, em diversas áreas, como ciências, história, literatura, etc.;

· Biblioteca Digital del Real Jardín Botánico de Madrid (CSIC) — esta base espanhola tem disponível mais de 2900 títulos, e se propõe a ser um serviço de bibliografia botânica com acesso online;

· Biodiversity Heritage Library — é um consórcio de bibliotecas das áreas de história natural e botânica, que através da cooperação busca digitalizar seus acervos e compartilhar este material, propiciando o acesso livre. Até o momento, tem mais de 109.000 títulos digitalizados.

Em quase todos os casos, as obras digitalizadas já caíram em domínio público, tornando o processo mais ágil. Mas pesquisando na internet sobre esta questão, encontrei uma informação interessante, publicada em 2014: “Conhecimento compartilhado: bibliotecas podem digitar livro sem autorização, diz corte europeia” (http://www.conjur.com.br/ 2014-set-19/bibliotecas-europa-podem-digitalizar-livro-autorizacao).

Em prol do compartilhamento do conhecimento, a justiça europeia buscou flexibilizar os direitos autorais, até mesmo contra a vontade do autor. Caso o documento seja impresso ou salvo em cartões de memória, será necessário pagar uma determinada quantia ao autor, conforme texto da reportagem. Além disso, mesmo que a editora ofereça a obra digitalizada, a biblioteca tem o direito de recusar e fazer a sua própria digitalização.

Em um artigo da revista FAPESP (http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/05/15/resgate-de-conhecimento/), Marcelo Chaves, diretor do Centro de Difusão e Apoio à Pesquisa do Arquivo Público do Estado de São Paulo, afirma que muito embora as políticas de digitalização sejam irreversíveis, são necessários critérios para norteá-las.

Neste mesmo artigo, o historiador Pedro Puntoni (USP) ressalta a importância da biblioteca e dos arquivos em papel, mesmo com a perda do espaço dessas unidades em prol da facilidade do acesso a documentos, imagens, teses e revistas disponíveis online.

Numa outra reportagem (http://ebooknews.com.br/digitalizacao-e-arma-da-biblioteca-nacional-do-iraque-contra-o-terror-do-estado-islamico/), é possível entender que a digitalização também pode ser aplicada visando à proteção do acervo. A Biblioteca Nacional do Iraque iniciou o processo de restauração e digitalização de livros e documentos. Assim, procura salvar seu acervo da ira do Estado Islâmico, grupo terrorista que, além de executar seus prisioneiros e explodir homens-bomba por aí tem por hábito destruir monumentos e bibliotecas que não representem sues ideais.

De fato, a digitalização é um caminho sem volta. Mas é preciso padronizar critérios, disseminar políticas e repensar modelos para desenvolvimento de coleções digitais. Estamos ainda num mar revolto de informações; precisamos de um roteiro mais seguro para seguir nessa viagem sem fim. Porque não basta preservar, é preciso disponibilizar.

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