Boas histórias e universos transmidiáticos… Será que dá match?

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Quem não ama uma “boa história”?

Eu, você e, segundo o britânico Yan Crammer, toda a humanidade! Nós amamos boas histórias, que contenham personagens com os quais nos identificamos; enredos com conflitos a serem superados; possíveis cenários fatais, que ocorrerão caso esses conflitos não sejam resolvidos; uma solução que impeça esses cenários de se concretizarem e que seja conquistada passo a passo, como se seguisse um mapa (CRAMMER apud Maccedo, 2017).

Um dos principais motivos de amarmos tantos essas histórias é que nós mesmos vivenciamos e registramos nossas vidas desse jeito: superamos os conflitos que se apresentam, tomando iniciativas em sequência e esperamos que elas tragam os melhores cenários! Por isso, nós desenvolvemos uma relação de identificação (“esse personagem também tem problemas com falta de grana”) e projeção (“se ​​ele conseguiu resolver e ficar rico, eu também”) com seus personagens (MORIN, 1996).

Por ser algo que nos atrai tanto, desde as eras antigas, como as histórias assim estão fortemente entrelaçadas com o desenvolvimento das linguagens e de seus suportes: na contação oral, ampliar o desenvolvimento da fala; nas letras dos livros, deram vida à linguagem escrita; no audiovisual das telas, popularizaram a linguagem cinematográfica e, hoje, na miscelânea de linguagens e códigos dos universos transmídia, impulsionam pessoas ao desenvolvimento da literacia transmidiática.

“Quem lê muito, escreve bem…”

Será que isso vale para todas as linguagens?

O uso de qualquer linguagem sempre foi formado por uma via de mão dupla entre compreender e produzir. Dessa forma, surgiu na linguística o termo literacia, definindo o “conjunto das habilidades da leitura e da escrita” (MORAIS, 2013, p. 4), como complementar.

Por essas habilidades serem os dois lados da mesma moeda, pode-se dizer que o ditado popular “quem lê muito, leva bem” faz sentido. No entanto, a competência aqui não é apenas de “ler”, mas de se fazer uma leitura interpretativa-crítica, isto é, “ler as entrelinhas”. Algo que é de suma importância para gerar cidadãos com capacidade de produção efetiva e emancipada:

Não basta saber ler que 'Eva viu a uva'. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho (FREIRE, 1996).

Exatamente por esse motivo, programas de incentivo à leitura com rodas de conversas, ou outras formas de interação coletiva, que incentiva a expressão crítica, são boas ferramentas para a formação de cidadãos com literacia e capacidade produtiva, ainda mais se essas leituras principais envolvendo “ boas histórias ”! Pois, se trata de formas lúdicas e atraentes de treinamento para ampliação das competências de compreensão e produção da linguagem escrita.

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Rodas de leituras, clubes do livro, cafés literários… Muitas são as formas do casamento entre “boas histórias” e o desenvolvimento da literacia, em ambientes formais, ou informais de educação.

Mas, no cenário atual, dos universos transmídia, será que esse casamento ainda dá certo?

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Literacia transmidiática - A boa leitura de forma colaborativa

As novas tecnologias revolucionaram a forma como as pessoas leem uma boa história. No contexto das novas mídias e tecnologias digitais é possível encontrar diferentes formas de ler, que aproveitam o potencial transmidiático para aumentar as competências midiáticas e a experiência do leitor.

Se antes, as trocas críticas sobre leituras só podem ser feitas em encontros presenciais, hoje, o chamado “leitor imersivo” possui na “multimídia seu suporte e na hipermídia sua linguagem” (SANTAELLA, 2004, p.32). É um leitor que não segue mais a sequência de um texto, mas um roteiro multilinear, onde encontra palavras, imagens, músicas, vídeos e pode seguir como quiser.

Nesse cenário novo, Carlos Scolari (2018) elaborado o termo, literacia transmediática . Aqui, o leitor é visto como um prosumer ( produtor e consumidor), e utiliza redes digitais, mídia interativos e própria transmídia para se desenvolver criticamente. Assim, esse tipo de literatura dos meios de busca avaliar a capacidade do indivíduo, práticas, valores, estratégia de troca e troca dentro das novas culturas colaborativas, essenciais para que jovens e adultos possam produzir resultados gerados.

Se a literacia versa Sobre a CAPACIDADE de ler (criticamente) e Escrever, Uma literacia Transmídia Trata de Como como PESSOAS estao utilizando como mídias, Levando em Conta that they São prosumers , Capaz de compartilhar e Gerar CONTEÚDOS mediáticos de Diferentes Tipos e níveis de especificação ”(SCOLARI, 2018).

Assim, vemos hoje que muitas “boas histórias” não são apenas lidas e comentadas em encontros presenciais escassos, mas lidas / consumidas, compartilhadas, criticadas, praticamente em tempo real, se tornando estímulos para a produção de conteúdos colaborativos. Livros, principalmente infantojuvenis, como as sagas “Harry Potter”, “Jogos Vorazes”, “Instrumentos Mortais”, são universos transmídiáticos, já que contam uma história em diferentes plataformas, com diferenças linguagens, e não ao leitor, agora também produtor e usuário , meios de interagir com a história, através de elementos lúdicos (FECHINE, 2014).

Além disso, parte essencial desse universo são as produções próprias dos leitores, capazes de analisar as narrativas originais criticamente - nos contextos da linguagem e da ideologia, entre outros - e de criar novas histórias, de formais colaborativas, através das fanfics , por exemplo.

Então “sim”, o casamento entre boas histórias e o desenvolvimento de literacia não só continua no universo transmídia, como está ainda mais potente! Você quer um exemplo? Então vamos falar dos TAGs. Você conhece?

TAG Inéditos e Tag Curadoria - clubes do livro transmidiáticos

O número de clubes de assinatura de livros crescendo no Brasil, junto com o número de assinantes. Dentre eles, a empresa Tag Livros se destacam por oferecer dois tipos de clubes: a Tag Curadoria , que envia livros indicados por personalidades da literatura nacional, e a Tag Inéditos , que seleciona best-sellers de origem internacional e que ainda são inéditos no país . Outro clube diferencial é oferecer aos leitores um conteúdo multiplataforma, que aprofunda o universo do livro e incentiva o olhar crítico do sujeito sobre a obra. Assim, acreditamos que a Tag Livros incentiva a criação e o aperfeiçoamento de competências transmídiáticas nos leitores, agora também usuários e produtores.

A proposta dos dois clubes é enviar um livro surpresa mensal dentro de uma caixinha personalizada, juntamente com uma revista física, que oferece um embasamento cultural da narrativa, um marcador de livro e um brinde. E os assinantes também têm acesso aos aplicativos, Tag Inéditos ou Tag Curadoria, onde irá encontrar um conteúdo multiplataforma - em áudio, vídeo, texto e imagens - que os ajudarão a aprofundar no universo do livro. Essas informações são dividas em três escolas: Para antes de ler, Para durante a leitura e Para depois de ler.

Conteúdos do app Tag Inéditos, do mês 22/08. O livro do mês foi “Os 100 anos de Lenni e Margot”.

O associado diversas informações sobre o autor, o projeto gráfico e sobre o contexto da obra. Também terá acesso a uma playlist, um podcast, uma resenha e poderá participar de uma live no YouTube, geralmente com o autor do livro ou outra personalidade que agrega informações, onde uma obra é discutida abertamente entre os membros, com bastante interatividade. Todo esse processo, desde o recebimento do livro até ao vivo , geralmente dura cerca de 1 mês.

E, como parte essencial da literacia transmídia é a análise crítica e a produção colaborativa, um espaço de discussão do livro não poderia ficar de fora! Nos aplicativos existe o CTA “Comente e veja outras opiniões sobre o livro” , onde o leitor é chamado a compartilhar suas opiniões sobre a obra e discutir, postando suas impressões, críticas e seus próprios conteúdos. Além disso, existe a aba Encontros, onde a empresa incentiva a criação de clubes de leitura regional (presenciais ou online), para que a comunidade se aproxime mais e os leitores discutam com mais profundidade suas impressões sobre a obra.

Além de todas essas opções, os leitores também seleccionados conteúdo da plataforma do Tag Livros! Em redes sociais como Instagram, Facebook e Twitter, é possível encontrar postagens com imagens, resenhas e trechos dos livros. Já em blogs e no Youtube, a galera posta diversas resenhas e críticas dos livros, um pouco mais aprofundadas.

Publicações de usuários no Instagram sobre o livro “Os 100 anos de Lenni e Margot”
Publicações de usuários no Youtube sobre o livro “Os 100 anos de Lenni e Margot”.

Assim, percebemos esses dois clubes de livros de incentivo a capacidade dos seus leitores de ler criticamente e o conteúdo baseado em níveis diversos de níveis. Seja escrevendo, fotografando ou produzindo imagens e vídeos, leitores acabam se produtores. Além disso, as obras, com a contribuição dos conteúdos dos aplicativos, são analisadas criticamente pelos usuários, que discutem entre si, seja pelo próprio aplicativo ou pelos encontros regionais promovidos.

As boas histórias são potencializadas através dos clubes da Tag Livros, com seus conteúdos adicionais e com a possibilidade de crítica e produção do assinante. O leitor competências transmidiáticas em diversos níveis, seja apenas discutindo no app, ou mesmo elaborando uma produção audiovisual crítica no YouTube.

É um universo de possibilidades a cada nova boa história! O leitor pode compreender melhor a narrativa, se aprofundar nos personagens e quem sabe até criar um final alternativo, por que não? Ele pode explorar e discutir com uma comunidade que também leu o mesmo livro, descobrindo novas perspectivas e debatendo opiniões.

Por isso, um clube de assinaturas como a Tag Livros exemplifica muito bem como uma boa história, além de nos dar prazer e nos faz refletir, pode nos impulsionar a ampliar nossas competências e pensamento crítico, além de abrir caminhos para encontrarmos comunidades de pertencimento!

Então… Que tal começar sua jornada de leitura hoje?

Escrito por Susana Reis e Thalita Rocha.

REFERÊNCIAS

MACCEDO, P., A arte de escrever para a web. São Paulo, SP: DVS Editora, 2017.

MORAIS, j. Criar leitores: para professores e educadores. São Paulo: Manole, 2013.

FECHINE, Yvana. Transmidiação, entre o lúdico e o narrativo. En Campalans, C., Renó, D., Gosciola, Vicente (Eds). Narrativas transmedia: entre teorias e prácticas. Bogotá: Editorial Universidad del Rosario, pp. 69–84. 2014

FREIRE, P. in GADOTTI, M. Paulo Freire: Uma Biobibliografia: Instituto Paulo Freire. São Paulo, SP, 1996.

MORIN, E. Cultura de Massas no Século XX — O Espírito do Tempo — Neurose e Necrose. Forense Universitária. São Paulo, SP. 2018.

SANTAELLA, Lucia. Navegar No Ciberespaço: O Perfil Cognitivo Do Leitor Imersivo. São Paulo: Paulus. 2004

SCOLARI, Carlos A. Literacia transmedia na nova ecologia mediática — Livro branco. Projeto Transmedia Literacy. European Comission. 2018.

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Thalita Rocha
COMUNICAR: popularizando a Literacia Midiática

Thalita Rocha é doutoranda em Comunicação Social (UFJF) e profissional em marketing digital empresarial.