Enfrentando os desafios da cultura participativa: notas sobre educação, mídia e literacia

A partir da disciplina em rede Cultura Digital e Educação Midiática: Conceitos, Práticas e Processos Formativos, ministrada em conjunta com um grupo de docentes e colegas de várias instituições de ensino superior, nos reunimos para pensar o texto, de título original na língua inglesa: Enfrentando os Desafios da Cultura Participativa: Educação de Mídia para o Século XXI, pelo autor Henry Jenkins, Diretor do Programa de Estudos Comparativos de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

A seguir você lerá uma apresentação dos tópicos elaborados em seu trabalho, feito pelas mãos de discentes interessados em aproximar o diálogo proposto em literacia midiática, educação e cultura digital.

Separamos em tópicos que pontuam as reflexões relevantes da obra em diálogo. Boa leitura!

Fonte: Freepik

Habilidades necessárias na nova cultura de mídia

Permitindo a participação — Espaços de Afinidade

A nova cultura de mídias criou uma emergência de novas habilidades, com isso cria-se um propósito fundamental da educação, que deve garantir que todos os alunos se beneficiem da aprendizagem de uma forma que lhes permita participar plenamente em atividades públicas, comunitárias e econômicas. Casos como o de Heather Lawver que foi citado por Jenkins em seu livro Cultura da Convergência, são ótimos exemplos de como a interação dessa geração com a cultura de mídias podem levar a discussões de suma importância, no caso de Heather, um site criado para ser um jornal escolar do universo fictício de Hogwarts, local popular nos livros de Harry Potter, emergiu como um movimento para um debate nacional sobre propriedade intelectual.

Esse é apenas um exemplo do que um estudo conduzido em 2005 pelo projeto Pew Internet e American Life constatou, que mais da metade de todos os adolescentes americanos e 57% dos que usam a internet podem ser considerados criadores de mídias. Estamos falando de uma pesquisa realizada em 2005 e note que já naquele ano, um terço dos adolescentes compartilhavam suas criações online, 22% tinham seus próprios sites, 19% seus blogs e 19% remixaram alguma forma de conteúdo no ambiente online.

Com o propósito de permitir essa participação massiva em um ambiente convergente, algumas medidas podem ser adotadas: Barreiras relativamente baixas à expressão artística e ao envolvimento cívico, forte apoio para criar e compartilhar suas criações com outras pessoas, tendo em vista algum tipo de orientação em que o que é conhecido pelos mais experientes é repassado aos mais novos, ainda dentro dessas medidas, fazer com que os membros desse ambiente percebam que suas contribuições são importantes e por fim, que esses indivíduos sinta algum grau de conexão social entre si, sendo assim mesmo que nem todos contribuam de alguma forma, eles podem acreditar que são livres para contribuir quando prontos e que essa contribuição será devidamente valorizada.

Podemos materializar esses propósitos no que são chamados de “Espaços de afinidade”, que seria na concepção de muitos, um ambiente de aprendizagem ideal. Um exemplo que podemos citar, é o que ficou conhecido como “Feedback Editorial”, nessa forma de produzir conteúdo, os usuários aprendem tanto ao receber um feedback sobre o que escreveram quanto ao ler um texto de um usuário menos experiente e dar a ele esse feedback, criando-se uma comunidade ideal de aprendizagem entre pares. Como vimos, são ambientes que proporcionam boas oportunidades, mas para isso, parte fundamental do processo é o papel que os professores e os pais devem desempenhar para ajudar as crianças envolvidas nessa nova cultura a aprender e a crescer.

Por que devemos ensinar educação midiática?

Defensores das novas culturas digitais sinalizam que os mais jovens não necessitam de auxílio/supervisão em relação à educação midiática, simplesmente porque já possuem essas habilidades, inclusive, demonstrando muito mais habilidades que seus pais e professores. Entretanto, não é bem assim. Julga-se necessário o envolvimento desses jovens em diálogos críticos sobre o uso e aplicação da literacia midiática, auxiliando-os a desenvolver uma experiência crítica sobre seu uso.

Diante da problemática supracitada, três principais falhas são encontradas na abordagem laissez faire apontadas por Jenkins (2006). A primeira falha é não abordar as desigualdades fundamentais no acesso de jovens às novas tecnologias midiáticas (lacunas da participação). De acordo com o autor, em 2005, o prefeito da Filadélfia sinalizou ser de suma importância que todos tivessem acesso à internet e computadores em casa, senão, várias crianças ficariam em desvantagem em relação às outras; dessa forma, muitas não conseguiriam, inclusive, inscreverem-se em faculdades. Só disponibilizar internet gratuita não seria suficiente, mas seria importante ensiná-los a usá-la, seja nas escolas e/ou em bibliotecas públicas.

A segunda falha é sobre o problema de transparência (JENKINS, 2006). Embora os jovens utilizam cada vez mais meios de comunicação social como recursos de expressão, muitas das vezes eles mesmos não problematizam como tal recurso é utilizado, o que dificulta criticizar a veracidade do que é encontrado.Essa dificuldade estaria imbricada à grande distribuição e facilidade de acesso aos conteúdos.

Por fim, a terceira e última falha seria o desafio da ética. Em um mundo onde os limites são borrados entre consumidores e produtores, algumas pessoas (quiçá muitas delas) acabam se tornando algo fácil para estranhos e pessoas com más intenções, inclusive. Por terem um acesso amplo à internet, e muitas das vezes sem supervisão de adultos e responsáveis, os limites e bordas do que se pode ou não postar e/ou fazer, ou mesmo, se o que se mostra ali é real ou não, também ficam borrados. Assim, faz-se premente, a construção do elemento ético sobre si e sobre o outro, e o papel da família e da escola em fomentar tais competências e habilidades sobre essa aprendizagem ética.

O que devemos ensinar?

Repensando a literacia midiática

Segundo o New Media Consortium (2005 apud JENKINS, 2006) a definição de literacia depreende o conjunto de habilidades e competências onde a alfabetização auditiva, visual e digital se sobrepõem. Estas incluem a capacidade de compreender o poder das imagens e dos sons, de reconhecer e usar esse poder, de manipular e transformar meios digitais, de distribuí-los de forma generalizada e de adaptá-los facilmente a novas formas.

Fonte: http://abpeducom.org.br

Entretanto, o autor irá modificá-la em duas formas: a primeira é que a alfabetização textual continua sendo uma habilidade central, ou seja, o aluno (a) precisa saber ler e escrever. Dessa forma, para adquirir novas habilidades não é necessário abandonar as já adquiridas; elas se complementam, e não se substituem. A segunda modificação é que a literacia midiática deve ser considerada uma habilidade social.

Como habilidade social, essa literacia precisa ser pensada de forma ampla, e não individualizada. Assim, as dimensões políticas, econômicas, sociais e culturais também irão interferir nos meios de comunicação em massa, e na forma de disseminação de informação para a população. A informação precisa ser analisada de forma macrossistêmica, ou seja, na produção social de sentido emitido por tal informação e quais os reais impactos na sociedade.

A escola e instituições de ensino possuem, então, um papel vital para o ensino dessa aprendizagem para a juventude, principalmente ao que tange: trabalhos em rede de cunho social, reunir conhecimento junto a uma rede coletiva e em prol de mudanças, e, por fim, interagir em comunidades que normalmente não interagiriam pessoalmente. Desta maneira, o professor também será convocado a interagir, repensar e modular de forma criativa seu conteúdo a fim de ampliar a participação dos alunos no desenvolvimento de habilidades e competências midiáticas tão importantes, e que sejam também criativas e críticas.

Educação Midiática: Como pode ser feita?

Nos últimos anos percebe-se uma crescente quanto ao número de crianças e jovens experimentando novas formas de interação, socialização, diversão por meio de diferentes mídias, então, conhecer a literacia midiática se faz necessário para compreender e avaliar de modo crítico os diferentes aspetos que esta apresenta.

Figuras 1 e 2 : Produzidas pelo CANVA. https://www.canva.com/pt_br/

As crianças e jovens estão e são capazes de identificar todas as intenções que estão presentes no mundo midiático? De acordo Jenkins, (2006), para que estas consigam ser capazes precisam vivenciar atividades que oportunizem as competências, a participação em novas comunidades, explorar novas ferramentas de simulação, dispositivos de informação e redes sociais. Desse modo, ele destaca a importância de proporcionar a estes indivíduos conhecimentos mínimos para que sejam capazes de reconhecer as oportunidades bem como os riscos e integrá-los à prática educativa estimulando-os a questionar a informação ao invés de simplesmente consumi-la, formando leitores mais conscientes e críticos.

Mas como pode ser feito? Proporcionando situações problemas para que busquem soluções através do brincar, como caça ao tesouro, esconde-esconde e jogos que evidenciam estes objetivos. Pois assim, estarão a fundir a relação dos alunos com os seus próprios corpos, ferramentas, comunidades, ambiente e experiência.

Como oferecer aos alunos exercícios, habilidades técnicas, competências culturais essenciais que ensinam e analisam criticamente a mídia existente? Este último ponto ganha relevância para reflexões sobre as contribuições positivas como: estruturação do currículo, a formação docente, dialogar com os alunos, respeitar a autonomia, a dignidade e a identidade do educando, possibilitar ações para a construção do conhecimento, análise crítica e reflexiva sobre as mídias que são expostos diariamente. Ou seja, não restringir as escolhas para proteger os alunos dos riscos e sim ajudá-los para que possam dominar as competências de que necessitam para explorar os diferentes contextos das mídias. Jenkins, (2006) ressalta sobre a importância de promover ações que possibilitem ao aluno a criticidade e a aquisição de competências na compreensão frente às mídias.

O que pode ser feito? Um programa de rádio, realizado pelos alunos dos anos finais do ensino fundamental, na escola X, para conhecerem, refletirem e dialogarem sobre as notícias que estão nas mídias sobre a sua cidade, sua comunidade. Segundo Jenkins, (2006), o desafio que a educação enfrenta em todos os níveis é enorme então a instituição educativa deve ter o compromisso de acompanhar os avanços da sociedade mediando o processo da cultura das mídias e que o docente possa repensar no seu papel de formador/educador da aprendizagem para assumir uma função crítica, reflexiva na construção do conhecimento.

As mídias não só possibilitam formas variadas de socialização como também mediações culturais que possibilitam a cidadania e a participação de alunos e professores na cultura que estão inseridos. Portanto, pensar nas relações dos indivíduos com a mídia é um processo formativo que não pode ser visto de maneira indissociável.

Multitarefa: a capacidade de examinar o ambiente e mudar o foco para detalhes importantes

Figura — Criação do Bing no que trata o conceito de Multitarefa. Disponível em: https://th.bing.com/th/id/OIG.GXcwIISiksBnsMqvGG17?w=270&h=270&c=6&r=0&o=5&pid=ImgGn

Refletindo a respeito do tema, vem a ideia de que é necessário mudar o ambiente e pensar em detalhes importantes, para que se realize o trabalho multitarefa de forma eficaz, motivo pelo qual abaixo devemos refletir sobre as mudanças inevitáveis em nosso cotidiano.

Uma das mudanças mais preocupantes nas percepções dos adultos pode ser a crença de que a capacidade de atenção dos jovens está a diminuir como resultado da disseminação dos meios de comunicação digitais. Multitarefa é a capacidade de examinar o ambiente e mudar o foco para detalhes importantes rapidamente. Nosso cérebro retém todas as informações que precisa para processar por um curto período de tempo na memória de curto prazo. Será que a exposição aos dispositivos digitais diminui a capacidade de atenção, principalmente do público jovem, ou estes apresentam uma capacidade maior de dividir diversas “atenções” ao mesmo tempo?

Parecia ridículo que mexer com um computador, uma mera ferramenta, pudesse alterar de qualquer maneira profunda e duradoura o que estava acontecendo dentro da minha cabeça. Mas eu estava errado. Como muitos neurocientistas haviam descoberto, o cérebro — e a mente à qual dá origem — está permanentemente em construção. Isso é verdadeiro não apenas para cada um de nós enquanto indivíduos. É verdadeiro para todos nós enquanto espécie. (CARR, 2011, p. 61).

Segundo Rich (2013, p. 31), em favor das crianças e do futuro em que viverão, não podemos mais manter a abordagem da definição da tecnologia do nosso tempo como uma força do bem ou do mal, devemos encará-la como um poderoso componente do ambiente no qual as crianças crescem, um componente que é tão onipresente quanto o ar que respiramos ou água que bebemos.

A atenção é crítica

A informação processada pelo cérebro passa temporariamente pela memória de curto prazo, que é limitada em capacidade. Essa memória é crucial para atividades diárias, mas o uso excessivo de mídias sociais levanta preocupações sobre a limitação da capacidade cognitiva, pois pode resultar em consumo passivo de informações. Os jovens, em particular, tendem a responder a ambientes multimídia através de multitarefas, absorvendo simultaneamente diversos estímulos. A memória desempenha um papel fundamental em nossa identidade e no funcionamento diário, interligando-se a funções corticais essenciais, como a função executiva e o aprendizado.

Multitarefa e a atenção não devem ser vistas como forças opostas

Em vez de considerar multitarefa e concentração como opostas, devemos vê-las como capacidades complementares para superar as limitações da memória de curto prazo. Brown (2002) descreve que as pessoas mais idosas tendem a pensar que os jovens que fazem multiprocessamento não conseguem se concentrar. Isso pode não ser verdade.

Contrariando a percepção de que os jovens que multitarefa não conseguem se concentrar, eles desenvolvem habilidades valiosas ao se envolverem em atividades que exigem adaptação rápida e recompensam a manutenção de imagens mentais complexas. A necessidade é que aprendam a reconhecer relações entre informações de várias fontes, fazendo hipóteses com base em dados parciais, preparando-se para desafios no local de trabalho. A multitarefa, longe de ser mera distração, envolve monitorar e responder a diversas informações. É crucial ajudar os alunos a distinguir entre desatenção e lidar com várias tarefas simultaneamente. As mídias são inevitáveis e poderosas, mas sua influência depende do uso. Diante das constantes atualizações, é essencial promover hábitos de uso consciente, enfatizando a importância da socialização e do uso coletivo em ambientes educativos para uma aprendizagem abrangente.

O que pode ser feito?

É importante ouvir os estudantes, ser flexível, enquanto educador, no processo de aprendizagem, promover o desenvolvimento de diversas habilidades por meio de diversos recursos, incluindo as ferramentas digitais e perceber as mudanças cognitivas atuais.

Explorando o poder da inteligência coletiva

Transformando o conhecimento em ação

Você já parou para pensar no potencial que surge quando pessoas compartilham conhecimento em direção a um objetivo comum? É exatamente sobre isso que trata a “inteligência coletiva”. Segundo Levy, todos sabem algo, mas ninguém sabe tudo, e é justamente essa dinâmica que impulsiona a capacidade de grupos atingirem conquistas conjuntas — especialmente em ambientes digitais em que as fronteiras geográficas não interferem nas relações sociais dos indivíduos.

Imagine um mundo onde cada indivíduo contribui com sua expertise, formando um vasto reservatório de informações acessíveis a todos. Estamos vivendo uma fase de experimentação, uma espécie de aprendizado coletivo, conforme testamos e refinamos habilidades e instituições que sustentarão a produção social do conhecimento, conforme exposto no texto de Henry Jenkins no tópico Inteligência Coletiva — a capacidade de reunir conhecimento e comparar notas com outras pessoas em direção a um objetivo comum.

Desde comunidades de fãs de Pokémon até jogadores online resolvendo enigmas complexos, a inteligência coletiva está se tornando uma força motriz, moldando o que conhecemos como Web 2.0. Esses grupos não apenas compartilham dados, mas também enfrentam problemas do mundo real, desde rastrear finanças de campanhas até solucionar crimes locais.

O modo como abordamos a educação precisa se alinhar a essa realidade. Ao invés de focar apenas em solucionadores autônomos, deveríamos estar cultivando habilidades para operar efetivamente em comunidades de conhecimento. O futuro, neste sentido, pertenceria àqueles que compreendem não apenas como resolver problemas sozinhos, mas como ampliar sua capacidade intelectual colaborando em comunidades.

Essa colaboração pode ser o elemento mais radical das novas literacias: elas permitem a colaboração e o compartilhamento de conhecimento com comunidades de grande escala que talvez nunca interagem pessoalmente.

Imagine salas de aula onde os estudantes, ao invés de serem avaliados individualmente, são incentivados a compartilhar observações, interpretar dados e resolver problemas em conjunto. Projetos colaborativos podem ir além dos limites físicos das escolas, como exemplificado por estudantes que mapeiam governos locais ou criam guias de viagem online.

A inteligência coletiva não é apenas uma teoria abstrata; está transformando a maneira como enfrentamos desafios do mundo real. Durante o furacão Katrina, ela não apenas moldou a percepção da situação para o mundo exterior, mas também permitiu que as vítimas se ajudassem mutuamente.

À medida que avançamos para um futuro impulsionado pela informação, abracemos a ideia de uma comunidade que sabe de tudo, com indivíduos que sabem como acessar esse conhecimento de maneira eficaz. É hora de educar para a colaboração, preparando as gerações futuras para um mundo onde a inteligência coletiva é a chave para desafios cada vez mais complexos.

As escolas podem implantar aspectos de inteligência coletiva quando os alunos reúnem observações e trabalham com interpretações com outros que estudam os mesmos problemas em locais espalhados. Essas comunidades de conhecimento podem enfrentar problemas de maior escala e complexidade do que qualquer um pode ser capaz de lidar, desenvolvendo assim a capacidade de reunir conhecimentos e comparar anotações com outras pessoas para atingir um objetivo comum.

Julgamento; Navegação Transmídia; Networking; Negociação

Atualmente, é crucial desenvolver a habilidade de avaliar a confiabilidade de informações de várias fontes, reconhecendo a dinâmica da inteligência coletiva em constante evolução (Jenkins, 2003). Os alunos precisam cultivar o discernimento ao analisar criticamente todas as fontes, promovendo a capacidade de formular perguntas fundamentais sobre mídia (Thoman e Jolls, 2005).

A coleta e integração de informações de diversas fontes, junto com o julgamento, são fundamentais para compreender narrativas que transitam por várias plataformas de mídia (Jenkins, 2003). A educação em alfabetização midiática foca no desenvolvimento do julgamento, incentivando perguntas críticas sobre as informações consumidas pelos alunos.

A multimodalidade e a navegação transmídia são aprendidas ao considerar como as histórias mudam em diferentes contextos e ao criar usando várias ferramentas de mídia. O networking é essencial, não apenas para conhecimento extenso, mas para a capacidade de navegar eficientemente em um mundo de informações em constante evolução (Jenkins, 2003).

A disseminação cultural online pode resultar em conflitos de valores, destacando a importância da negociação entre diferentes comunidades para compreender e respeitar diversas perspectivas e normas sociais. Educadores podem promover competências de negociação ao reunir grupos diversos e facilitar uma compreensão mais profunda da comunicação.

Conclusão: quem deve ser responsabilizado e desafios futuros

Algumas outras questões são levantadas com o objetivo de responder a pergunta: quem deve ser responsável pela educação midiática? Estas outras indagações trazem à tona como garantir que todas crianças tenham acesso às competências citadas? Como fazer com que elas tenham capacidade de articular sua compreensão com os meios de comunicação? Ainda mais, como assegurar que padrões éticos determinem o comportamento destes nas comunidades e redes online? A sugestão de Jenkins (2009) consiste em envolver na responsabilização deste letramento midiático tanto a escola (com atividade dentro e fora da escola), quanto os pais.

Em primeiro lugar, as atividades dentro da escola devem aplicar novas técnicas para a produção do conhecimento. A adaptação da forma de passar o conhecimento faz com que escolas e educadores façam experimentos com as novas tecnologias midiáticas e pretende envolver os alunos em pesquisas do mundo real. Os alunos devem ser capazes de avaliar documentos digitais, escrever para outros públicos e explorar os recursos da nova cultura participativa.

Já, em segundo lugar, as atividades fora da escola podem colaborar no desenvolvimento de habilidades técnicas dos alunos. Estas atividades depois da escola pretendem dar possibilidades para os jovens de produzirem seus próprios meios de comunicação e aperfeiçoar suas vocações. Em terceiro lugar, a responsabilidade recai sobre os pais. Porém existe um fator que dificulta o letramento dos jovens a partir dos pais que é o desconhecimento dos mais velhos a respeito das mídias. É necessário pensar em formas de letramento midiático também para adultos.

Na conclusão, a reflexão parte para o âmbito social, Jenkins (2009) aponta para a possibilidade das diferenças sociais criadas pelas mídias provoque o surgimento de duas classes, uma com domínio das tecnologias e das capacidades sociais e culturais necessárias para lidar com com as redes online e outra classe sem recursos que possibilitem a aquisição de novas tecnologias e consequentemente sem as habilidades desenvolvidas.

Não obstante, a diferenciação das classes resulta em uma distinção cultural. Frente a isto, Jenkins acrescenta: “ainda não está claro o que tal divisão cultural pressagia: quais serão as suas consequências para a democracia, a civilidade, a comunidade e a qualidade de vida. Mas o quadro emergente é profundamente preocupante” (Jenkins, 2009, p.61). Finalmente surge apenas mais uma pergunta: seremos capazes de prosperar, como sociedade, com vivências culturais tão diferentes e desiguais?

Autores:

Alda Cristina Carreira dos Santos — UFTM

Daniel Lucas Santos da Silva — UFJF

Érica Monteiro Nunes Bastida — UNISO

Guilherme Faquim Simão — UFTM

Maiara Martins Doná — UNISO

Marcel Marques de Jesus — UNISO

Mateus Pedrozo Oliveira — UNISO

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