O Diagrama na Educação Contemporânea: ampliando as fronteiras da criatividade

Como Deleuze, literacia digital e tecnologias inovadoras podem impulsionar o pensamento crítico na sala de aula contemporânea?

O conceito de diagrama pode ser utilizado para estimular a criatividade e a imaginação dos alunos

As ideias de Gilles Deleuze sobre a arte, particularmente seu conceito de diagrama na pintura, podem se conectar e enriquecer o entendimento sobre literacia digital, um tema também discutido nas teorias de David Buckingham. A visão de Deleuze vai além da simples representação visual, e pode oferecer perspectivas novas e valiosas para as práticas de ensino na era digital. Como suas teorias podem ser aplicadas de maneira prática e inovadora no campo da educação digital?

A essência do diagrama na pintura e na educação

O conceito de diagrama de Deleuze na pintura representa um rompimento com as abordagens tradicionais da arte. Ele não apenas desafia a noção de representação, mas propõe a pintura como um campo de forças dinâmicas, onde o caos e a ordem, o figurativo e o abstrato se entrelaçam. Este pensamento disruptivo de Deleuze oferece uma metáfora poderosa para a educação na era digital. Da mesma forma que o diagrama permite aos artistas reinventar suas telas, os educadores podem usar tecnologias digitais para transformar a sala de aula, incentivando os alunos a pensar além do convencional e a explorar novas formas de conhecimento e expressão. A literacia digital, neste contexto, torna-se mais do que o desenvolvimento de habilidades técnicas; é um convite para entender e interagir com o mundo digital de maneira crítica e criativa.

Nos últimos anos, tem havido um aumento significativo na adoção de plataformas de aprendizagem online, ambientes virtuais de aprendizagem e recursos digitais interativos nas práticas pedagógicas. Essas plataformas não se limitam a oferecer informações de maneira linear, mas frequentemente incorporam elementos interativos, recursos multimídia e abordagens não lineares de apresentação de conteúdo.

A utilização da Realidade Virtual na educação representa uma das mais recentes tecnologias a serem experimentadas no ensino

No entanto, ao abordar este tema, é preciso ter em mente que algumas das tecnologias no ensino enfrentam desafios na popularização, já que, muitas vezes, são recursos altamente elitizados, como é o exemplo dos óculos de realidade virtual. Mesmo o celular, aparelho amplamente popularizado nos dias de hoje, apresenta problemas na utilização para o ensino, já que o ensino através dele requer uma conexão e ambientes estáveis, entre outras dificuldades que podem ser impeditivas para alunos em situação de vulnerabilidade. Em muitos casos, a transposição do ensino tradicional para o ambiente digital pode resultar em uma mera reprodução de métodos convencionais, sem realmente explorar as potencialidades disruptivas que as tecnologias digitais poderiam oferecer.

O perigo reside na tendência de muitas plataformas online em simplificar a aprendizagem para uma abordagem linear, muitas vezes reduzindo a experiência educacional a uma mera transferência de informações. Isso contrasta diretamente com a visão de Deleuze, que propõe a pintura como um campo de forças dinâmicas, onde o caos e a ordem coexistem de maneira complexa, evidenciando a intenção de um esforço criativo completo. Este entendimento que se opõe à “educação bancária”, conceituada por Paulo Freire em 1974, em sua conhecida obra “Pedagogia do Oprimido”. Educação bancária, segundo Freire, refere-se à prática em que o professor impõe o conhecimento ao aluno, considerando que o professor já possui o conhecimento e, portanto, pode depositá-lo nos alunos.

Integração de Deleuze e conceitos contemporâneos na educação midiática

O diagrama na educação midiática proporciona um espaço para a inovação

A integração das ideias de Deleuze sobre o diagrama com os princípios contemporâneos de literacia digital, como propostos por Buckingham, abre caminhos inovadores na educação midiática. Deleuze, com sua abordagem disruptiva através do diagrama, proporciona um novo entendimento de como a informação e a expressão podem ser transformadas na era digital. Em paralelo, a literacia digital na educação contemporânea destaca a necessidade de uma compreensão crítica e a habilidade de criar e interpretar significados no vasto espaço da mídia digital. Essa fusão de ideias promove um ambiente educacional onde a aprendizagem é dinâmica, interativa e profundamente enraizada no contexto sociocultural dos alunos.

A necessidade de práticas pedagógicas que abordem novas formas de aprender e interagir com os artefatos da cultura digital é crucial. O diagrama, ao romper com abordagens tradicionais, oferece uma perspectiva que vai além da simples transmissão de informações. Ele proporciona um espaço para a exploração criativa, a compreensão crítica e a interpretação ativa dos meios digitais, aspectos fundamentais para o desenvolvimento da literacia midiática. Dessa forma, integrar o diagrama na educação midiática não apenas acompanha a dinâmica do mundo digital, mas também promove uma abordagem mais holística e participativa, capacitando os alunos a se tornarem consumidores e produtores de conteúdo digital de maneira mais consciente e reflexiva.

Buckingham traz a perspectiva de que as mídias digitais podem ser agentes de mudança significativos no processo educativo, desde que incorporadas em um contexto pedagógico estruturado e que reconheçam sua natureza sociotécnica. Ele argumenta que a chegada da mídia digital traz consigo desafios significativos para as escolas, ressaltando o papel das escolas em lidar com as disparidades no acesso à tecnologia na sociedade. A questão vai além da simples disponibilidade de equipamentos ou das habilidades técnicas; trata-se também do capital cultural, ou seja, da capacidade de empregar formas culturais para se expressar e se comunicar.

A interação das ideias de Deleuze sobre o diagrama na pintura com as abordagens contemporâneas da literacia digital, especialmente as de Buckingham, abre novas possibilidades para a educação na era digital. Esta abordagem não apenas promove o desenvolvimento de habilidades técnicas, mas também cultiva o pensamento crítico e criativo, preparando os alunos para um mundo digital em constante evolução.

Referências bibliográficas

BUCKINGHAM, D. Cultura digital, educação midiática e o lugar da escolarização. Educação & Realidade. Porto Alegre, v. 35, n. 3, p. 37–58, set./dez. 2010.

BUCKINGHAM, D. Un manifesto per la media education. Milão, IT: Mondadori Universitá, 2020.

DELEUZE, G. (2009). Pintura: O Conceito de Diagrama. São Paulo: Editora Cactus.

FREIRE, P. (1970). Pedagogia do oprimido. [S.l.]: Paz e Terra

Autores

Bruno Paiva de Souza — UFJF
Fernanda Lisboa Ribeiro — UNISO
Giovani de Arruda Campos — UNISO
Maria José Ribas — UNISO
Renata Müller Veiga São Leandro — UNISO

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Bruno Paiva
COMUNICAR: popularizando a Literacia Midiática

Jornalista, streamer, sofredor (não por time, pois não assisto futebol faz uma década); na verdade tenho que lembrar quem eu sou primeiro, antes de preencher