O smartphone na sala de aula: desafios e potencialidades presentes no contexto de ensino

Como smartphones, tablets, notebooks e outras tecnologias são e podem ser incorporadas no processo educacional para uma formação mais consciente e crítica.

Professora e aluna usam juntas um smartphones no processo educacional para uma formação mais consciente e crítica.

O marco do surgimento de interfaces amigáveis humano-computador se deu com a inauguração da World Wide Web (WWW) no início dos anos 1990. Desde então, passamos a conviver, cada vez mais, com diversas tecnologias, “especialmente depois que as mídias móveis computadorizadas passaram a nos acompanhar dia e noite, em qualquer ponto do espaço” (Santaella). Nesse texto vamos discutir como essas tecnologias são e podem ser incorporadas no processo educacional.

Inicialmente, com a web ainda presa ao desktop surgiram os sistemas de arquivo, e-mail, servidores e bancos de dados, pela evolução para de seus suplementos (http, HTML, trabalhos em equipe, intranets, Java, portais). A “web 1.0” (1990 a 2000) expandiu-se em seus suplementos (http, HTML, trabalhos em equipe, intranets, Java, portais). Com a chegada da “web 2.0” surgiu a segunda geração de aplicativos, comunidades e serviços, redes sociais, blogs e wikis.

Imagem retirada do blog ex2

Depois de 2010 o termo web começou a entrar em uso e a “web 3.0” foi se misturando com outros recursos entre eles, gráficos 3D muito usados em guias de museus, games, e-comércio, contextos geoespaciais etc. Já com a web 4.0 surgiram a computação na nuvem, internet das coisas ou comunicação máquina-máquina, big data, cidades inteligentes e a Inteligência Artificial.

Um olhar atento para a história do computador e a evolução das tecnologias digitais na área da educação, de saída, e abandona-se a concepção do computador como mera ferramenta, “pois as tecnologias computacionais são, acima de tudo, tecnologias da inteligência” (Santaella). O computador é uma mídia de comunicação interativa.

A evolução da web aliada ao uso de recursos audiovisuais e de tecnologias como wi-fi e bluetooth, além de uma comunidade de educadores atentos aos novos recursos para a educação possibilitam que o acesso à educação seja facilitado, seja na sala de aula presencial, seja no sistema educacional à distância.

Com a novas formas de organizações disponíveis com a web 2.0 surgem novas possibilidades entre produtores e sociedade (SANTOS; PONTE; ROSSINI, 2015, p. 520). Com isso, surgem questionamentos sobre a organização das salas de aula ainda presas ao que era desenvolvido no passado, como aponta Sibilia: “[…] a escola seria então, uma máquina antiquada. Tanto nos seus componentes quanto seus modos de funcionamento, pois já não entram facilmente em sintonia com os jovens do século XXI” (SIBILIA, 2012, p. 13).

Essa disparidade entre o que é visto nos ambientes de aprendizagem versus o que é utilizado pelos jovens no seu cotidiano fica mais clara quando se trata do que Michel Serres (2013) chama de “Geração polegarzinha”, jovens que já nasceram no contexto da internet e possuem quase instintivamente o impulso de buscarem as telas com as suas mãos para se fazerem presentes no mundo, seja para buscar informações ou se conectar com amigos.

Dado esse panorama, uma forma de superar esses desafios é incorporar o uso dos celulares no processo de aprendizagem. Aplicativos e plataformas vêm sendo utilizados tanto na formação dos professores para esse contexto digital, como é o caso da TV Escola, quanto no repasse e debate de conteúdos como o Edmodo, que simula redes sociais como o Facebook para promover um espaço de “turma virtual”.

É possível, ainda, encontrar utilização de plataformas que não possuem no seu desenvolvimento o foco educativo, mas são utilizadas de tal maneira por educadores, como é o caso do TikTok. Alguns professores, como é o caso da professora e escritora Lavínia Rocha, que utiliza do seu perfil no espaço para compartilhar experiências na sala de aula.

Um dos seus vídeos mais famosos é a aula que visava desconstruir a imagem ainda estereotipada do continente africano. Com seu alcance amplificado, seus questionamentos e dinâmicas de ensino ganham espaço fora da sua sala de aula local, atingindo outros públicos.

Vídeo reproduzido do perfil @laviniarochaf no TikTok

Outro ponto a ser pensado no que toca ao relacionamento entre aprendizagem e tecnologia são os MOOCs. Popularizado pelas caraterísticas massiva, aberta e online, os Massive Open Online Courses (MOOCs) representam uma transformação no ambiente educacional atual.

O termo “Massivo” refere-se à sua capacidade de atrair grande número de estudantes, enquanto o adjetivo “Aberto” refere-se à disponibilidade, seja por meio de custos gratuitos ou acessíveis, assim evidenciando a democratização do conhecimento.

A origem dos MOOCS se deu em 2002, quando o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) lançou o projeto Open Course Ware (OCW). Este marco inicial lançou as bases para o desenvolvimento posterior dos MOOCs, que se espalharam amplamente por todo o mundo.

Primeiro MOOC em Língua Portuguesa, de João Mattar (Brasil) e Paulo Simões (Portugal), lançado em 2012, simultaneamente, em Portugal e no Brasil; e o Bullying em Contexto Escolar: Caracterização e Intervenção, criado pelo Centro de Competência TIC da Escola Superior de Educação de Santarém (Eses).

Os cursos proporcionam o acesso à educação a milhares de participantes em uma única sessão, sem limitações de processos de admissão e condições escolares. Fornecendo opções formais de certificação e credenciamento e conferem legitimidade aos participantes. esses cursos proporcionam educação de qualidade a milhares de participantes em uma única sessão, sem limitações significativas de processos de admissão e condições escolares.

Além disso, eles fornecem opções formais de certificação e credenciamento e conferem legitimidade aos participantes.

Com os MOOCS compreendemos que não temos todo conhecimento. O conhecimento está distribuído por uma rede de conexões e, por essa razão, a aprendizagem consiste na capacidade de construir e circular nessas redes.

Assim difundido a abordagem de compressão do conhecimento reconhece que o professor não detém todo o conhecimento, mas atua como um orientador, facilitando o acesso e a compreensão para os alunos, promovendo uma aprendizagem mais colaborativa e participativa.

Essa mudança de perspectiva fortalece o papel do professor como guia no processo educacional.

Imagem retirada do site IF Sertão PE

Para além de somente compreender os benefícios que as novas tecnologias podem proporcionar nos ambientes tradicionais de ensino-aprendizagem, é preciso ampliar a compreensão das múltiplas formas de mensagens midiáticas na vida moderna para auxiliar as pessoas a entenderem como as mídias moldam visões e convicções, modelam a cultura popular e afetam as decisões pessoais (Borges; Silva, 2019)

As Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) desempenham um papel central nessas transformações, já que disseminam conteúdos e informações de formatos e assuntos variados, provenientes de múltiplos autores e locais distintos, com um amplo alcance potencial. Esses meios também influenciam os processos de produção, redefinindo a própria ideia de autoria, que hoje é compartilhada (Bartolomé; Espíndola; Leonel; Lima,2021).

Estamos diante de um contexto que exige dos educadores cada vez mais o papel de mediadores da informação que circula livremente no espaço virtual, levando os estudantes a compreender que a projeção das realidades em rede representa uma perspectiva diante da realidade, mas não a própria realidade.

Nesse sentido, quando, por ações humanas ou algorítmicas, temos acesso a narrativas e construções de sentido diferentes daquelas reiteradas em nossos feeds das redes sociais, sofremos um impacto enorme ao percebemos que a nossa realidade não é nem compartilhada por todos nem aceita como real, como concretude estabelecida. (Hissa, 2022, p.83)

Se encararmos a tecnologia apenas como uma ferramenta, sua contribuição seria limitada a modificar a maneira como um “conteúdo” é entregue, ou seja, como um conhecimento, informação ou habilidade chega até o estudante.

No entanto, ao reconhecermos o potencial das tecnologias para gerar impactos específicos, podemos ajustar e orientar seu papel para criar uma experiência de aprendizagem significativa e ética.

A onipresença das tecnologias na vida dos estudantes já não permite mais o discurso raso que culpa as tecnologias da informação e da comunicação pelo desinteresse dos jovens pela escola (Sibilia, 2012).

É preciso que esse novo contexto seja levado em consideração na criação e aplicação das metodologias de ensino-aprendizagem, principalmente, por aqueles que deverão ser encarregados dessa missão.

O papel dos professores é essencial na construção de uma educação que compreenda o exercício da cidadania dos estudantes além da sala de aula, o que contempla a forma que eles existirão em canais virtuais.

Embora a responsabilidade não resida apenas nesses profissionais, eles são catalisadores de conhecimento e, muitas vezes, quem apresentam diferentes cenários e contextos. Incentivar a compreensão e reflexão críticas da realidade perpassa pelo que é aprendido em sala de aula.

É esperado que haja insegurança em adaptar-se a novas necessidades quando temos um modelo de ensino-aprendizagem que viu o uso de tecnologias como antagonista desse processo por tanto tempo.

No entanto, é nesse cenário de desconforto que novas alternativas devem ser pensadas visando o melhor aproveitamento dessas ferramentas na formação de jovens.

Texto desenvolvido por Alisson Antunes, Amanda Padilha, Ana Paula Vilela, Lorena Fontainha e Mário Assunção para a disciplina Cultura Digital e Educação Midiática: Conceitos, Práticas e Processos Formativos, sob orientação das professoras Maria Alzira Pimenta, Gabriela Borges, Maria Ogécia Drigo, Laura Picazo Sanchez, Martha Prata Linhares e Letícia Torres.

Referências utilizadas:

Amaral, S. F. Tecnologias digitais e educação a distância: perspectivas de desenvolvimento. In Tecnologias digitais, redes e educação : perspectivas contemporâneas / Mary Valda Souza Sales, organizadora. — Salvador : EDUFBA, 2020. p. 165 a 173

BARTOLOMÉ, .; ESPÍNDOLA, . B.; LEONEL, . A.; LIMA, . N. R. Educação na cultura digital: novas ambiências de aprendizagem e implicações para a formação de professores. Perspectiva, [S. l.], v. 39, n. 3, p. 1–22, 2021. DOI: 10.5007/2175–795X.2021.e70506. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/70506. Acesso em: 1 jun. 2023.

BORGES, G.; SILVA, M. B. (Orgs.). Competências midiáticas em cenários brasileiros. Interfaces entre comunicação, educação e artes. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2019. Disponível em:<https://www.ufjf.br/ppgcom/2020/03/05/selo-editorial-pesquisa-em-comunicacao-e-sociedade-lanca-sua-primeira-obra-2/>. Acesso em 1 mar. 2023.

HISSA, D. Da manipulação das massas nas redes sociais às ações de combate à desinformação. Revista Linguagem em Foco, v.14, n.2, 2022. p. 68–89. Disponível em: https://revistas.uece. br/index.php/linguagememfoco/article/view/9587.

Santaella, L. A educação e o estado da arte das tecnologias digitais. In Tecnologias digitais, redes e educação : perspectivas contemporâneas / Mary Valda Souza Sales, organizadora. — Salvador : EDUFBA, 2020. p. 149 a 163.

SANTOS, Edméa; PONTE, Felipe Silva; ROSSINI, Tatiana Stofella Sodré. Autoria em rede: uma prática pedagógica emergente. Revista Diálogo Educacional, v. 15, n. 45, p. 515–536, 2015.

SERRES, Michel. Polegarzinha. Uma nova forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e de saber. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013.

SIBILIA, P. Redes ou Paredes A escola em tempos de dispersão. Rio de Janeiro — RJ: Contraponto, 2012.

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