Re-pensar do ensino-aprendizagem & o mundo digital

A área da educação de uma forma geral vivencia um momento crítico, sofrendo uma grande transformação no contexto de ensino-aprendizagem.

Para os autores Silva Júnior, Barbosa & Oliveira (2021) as escolas ainda persiste um processo de ensino e aprendizagem, principalmente, em unidades disciplinares de cálculo. Estas fomentam a passividade dos alunos diante da exposição a um grande número de conceitos e ideias abstratas que devem ser compreendidas, e que por este motivo, não oportunizam momentos de criação de algo novo. O professor, na maioria das vezes, não consegue apresentar uma aplicação do conteúdo no cotidiano do aluno, por inúmeras razões pessoais e até por falta de tempo para se capacitar e se atualizar. Apesar do surgimento de novas ferramentas tecnológicas como formas de apoio didático, há conceitos que não são percebidos ou explicados em sala porque exigem do docente uma relação distanciada. O ensino da área de exatas, como por exemplo a física, precisa ser inovado com inserção de novos contextos e não somente com parâmetros operacionais, meramente técnicos, que se estriba em improvisos e que descaracterizam a essência e o objeto foco do ensino-aprendizagem.

Não se trata de elaborar nova lista de tópicos de conteúdo, mas sobretudo, de dar ao ensino destas unidades curriculares novas dimensões, um melhor significado visando proporcionar ao aluno o “perceber” no momento em que aprende e não em um momento posterior ao aprendizado. É importante frisar que os conteúdos das áreas de exatas, hoje são imprescindíveis, visto o avanço da tecnologia que evolui rapidamente e suas aplicações em nosso cotidiano. Independente da área de formação, a tecnologia e a inovação fazem parte da vida dos futuros cidadãos.

Segundo Tébar (2023), a edificação do processo cognitivo permite o desenvolvimento intelectual beneficiando uma organização, com profissionais mais aptos a suas funções, comprometidos, ou ao indivíduo, através do conhecimento apreendido ao longo de sua jornada escolar. Neste sentido, destacam-se as nítidas dificuldades do ensino-aprendizagem das informações em disciplinas que envolvem cálculos, e abrangem não somente sua contextualização, mas o aguçar da curiosidade, ao fornecer as suas aplicabilidades através de exemplares comuns do cotidiano, despertando o sentido do futuro no uso de novas ferramentas tecnológicas e inovadoras. Propiciando, então, o conhecimento entrelaçado ao cotidiano e ao interesse do indivíduo, principalmente nas áreas exatas, que é recebida com rejeição pela maioria dos alunos.

Na perspectiva “do entender” e “porque entender” o domínio tecnológico moderno contribui na promoção da tão desejada inserção social, enfatizando a importância de se contextualizar socialmente os conhecimentos científicos. Neste sentido, a comunicação da ciência deve ser transparente, o conhecimento científico tem de ser “traduzido” em linguagem clara, que não somente os especialistas entendem, sem jargões ou termos técnicos. O formato tem de ser adequado tanto ao público como ao meio de comunicação utilizado. Deve ser adaptado a época e aos interesses do público para se fazer “o brilho no olhar”. Assim, a comunicação da ciência pode assumir diversas formas a fim de propiciar a compreensão da sua relevância e sua aplicabilidade, independentes do campo político e econômico de um país. O desenvolvimento da aplicação tecnológica busca entender as necessidades humanas frente às diferentes áreas.

Figura 1 — Benefícios das Metodologias Ativas. Fonte: Duque et al, 2022

Como se vê, o cenário atual da educação traz drásticas mudanças de postura visando uma educação pragmática, crítica, sem a relação entre os protagonistas para que possam interagir e integralizar os saberes e que, sem sombra de dúvida, será mais sólida e eficaz para o mundo do trabalho, como afirma Damasio & Peduzzi (2018).

Uso​ ​das​ ​tecnologias​ ​no ensino-aprendizagem

As Tecnologias Digitais no ensino podem trazer soluções que inovam porque passam a assumir um papel preponderante nas aulas teórico-práticas ou práticas, que tornam mais interessantes para os alunos, apesar de ainda demandar tempo no preparo, adequações dos equipamentos e dos espaços apropriados de um laboratório. Os tecnológicos recursos irão contribuir no cotidiano, através de dispositivos móveis: os ​smartphones e ​tablets, tendo em vista que não irão demandar a construção de um laboratório específico para sua utilização, o que torna uma alternativa de baixo custo, podendo ser mais atraente para o aluno, que já faz uso dessa ferramenta tecnológica em sua vida diária.

No atual cenário de ensino e pesquisa observa-se uma grande resistência dos alunos ao ensino puramente tradicional, já que estão imersos num universo tecnológico, virtual, onde tudo é acelerado; e de alguns professores na resistência ao novo, na necessidade de se manter atualizado e na sua capacitação contínua para o processo de ensino-aprendizagem. Outro aspecto é que muitos alunos possuem poucos recursos financeiros que se sobrepõem à necessidade do próprio sustento como alimentação, moradia, assistência à saúde e com isso é quase impossível dispor de equipamento de informática e/ou outras modalidades de recursos TIC’s. A qualidade de ensino fica centrada no corpo docente, que busca alternativas à promoção de mudanças e inovações, esquecendo de pensar num conjunto de situações que envolverá os processos de ensino e conteúdo a serem ministrados. Denota-se desta forma que o uso de TIC’s ainda é pouco explorado, porque ainda se vê que os alunos, hoje tratados como nativos digitais (Palfrey & Gasser, 2011), são relutantes ao professor que não oferece propostas educativas que usem a tecnologia, o que para eles tornam-se desinteressantes e, na maioria das vezes, não sentem atração em participar das atividades tradicionais.

É cediço que o uso de TIC’s para ensino implica em novas formas de comunicar, de pensar, de ensinar e de aprender, de re-aprender e têm sido incessantes as buscas e alternativas como recursos na integração do docente para ministrar os conteúdos curriculares. A sua finalidade vai além dos conceitos das disciplinas, que impactam muitas vezes pela falta de oportunidades atrativas a serem revistas no contexto do ensino-aprendizagem, através dos órgãos públicos e privados. Para tal, o uso de tecnologias deve ser fortificado no ensino e pesquisa como base no processo transformador e inovador, incentivando novos desafios à comunidade de aprendizagem de forma geral.

Carvalho, dos Santos, Oliveira & Galdino (2019) apontam que professores, por desconhecerem as ferramentas ou por terem receio que o aluno domine melhor a máquina, se abstêm de utilizá-las em sala de aula, perdendo a oportunidade de tornar suas aulas atrativas e com sucesso de aproveitamento. Os autores também afirmam que as dificuldades mais frequentes dos professores no uso das TICs são: falta de domínio das tecnologias e receio de não corresponder à expectativa dos alunos em seu trabalho. Os mesmos autores também afirmam que os professores precisam vencer o receio de usar as tecnologias em seu trabalho docente e mudar o seu comportamento, mas ainda está muito “ad-quem” para a realidade brasileira porque o incentivo à educação para promover os meios são catalisados de forma primária no contexto de ensino e pesquisa.

Figura 2 — Plataformas digitais e mídias. Fonte: https://mktcamila.wordpress.com/

Hoje se vive a revolução tecnológica, “o mundo virtual”, diminuindo consideravelmente a presença do aluno que busca na internet fontes pragmáticas porque tem como preferência o ocultar-se de sua própria imagem nos processos de participação de ensino em que o docente se auto-questiona sobre a efetiva participação, contudo acaba por ignorar a oportunidade de debater, refletir e reconhecer a sua essência como membro crítico para o mundo do trabalho e a vida em si.

A era das dificuldades de aprendizagem

Nesta dualidade entre o tradicional e o moderno, verifica-se na literatura os pesquisadores (Souza, 2020; Leite, 2021; Rodrigues 2021; Bigolin et al, 2020) que perceberam que a inserção das aulas práticas conjuntamente com as metodologias ativas, deve ser baseada nos conhecimentos diferenciados e multiprofissionais. É possível afirmar que, diante desta constatação, o engendramento de múltiplas ações em prol da comunicação do conhecimento científico no âmbito formal e informal, de forma que integre os conteúdos e as demandas do mundo do trabalho, podem nortear assim novas possibilidades, como reforça Jacobovski (2022).

Figura 3 –Professora orientando o processo de criação em sala de aula, relacionando teoria, estímulo e arte no processo de ensino aprendizagem — Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium/

De Sousa Nascimento et al (2022) reiteraram que os processos de participação irão corroborar a hipótese inicial acerca da estreita relação que se encontram, através do laços das condições do ensino e, com isso, a inserção de metodologias lúdicas, e atualmente aliada a tecnologia, será a forma privilegiada de promover a aprendizagem pautada em princípios de comprometimentos, compreensão, cooperação, no ver, no olhar, no tocar, e enxergar de forma crítica a interação e desenvolvimento afetivo e cognitivo do “saber ser”. É interessante dizer que os posicionamentos assumidos pelos diferentes autores comprovaram, uma vez mais, que os instrumentos lúdicos potencializam as relações interpessoais, como elemento protagonista e mediador, passando a espelhar-se sobre o mundo profissional conjuntamente com o mundo digital. Temos então o engajamento da cultura digital a favor da aprendizagem.

A cultura digital abrange o conjunto de práticas, valores e conhecimentos relacionados ao uso da tecnologia da informação e da comunicação na sociedade. Ela inclui a forma como as pessoas interagem com computadores, smartphones, redes sociais e aplicativos, bem como essas tecnologias são incorporadas na sociedade. A cultura digital também se refere ao modo como a sociedade produz, compartilha e consome conteúdo digital, bem como se comunica através da internet e outras plataformas digitais, além da maneira como essas tecnologias são utilizadas para solucionar problemas, inovar e criar novas oportunidades (Fofonca, & Leite, 2023).

Como consequência desta cultura digital, temos o desenvolvimento do campo de estudos da Literacia Mediática, em que são incorporados a educação e a prevenção de riscos relativamente à utilização da Internet, dos videojogos, das redes sociais e dos dispositivos móveis. Neste sentido, a arte é um elemento essencial na vida desta “nova” sociedade (Ferrés e Piscitelli, 2015), em que é fundamental para a educação atual e suas formas na aprendizagem as habilidades de elaborar e modificar os conteúdos midiáticos, impulsionando o exercício da cidadania (Borges, Sigiliano, & Guida, 2021).

A Literacia Transmídia busca despertar o interesse do público em diversas mídias e plataformas, propondo a integração da aprendizagem informal dos alunos sobre a transmídia no processo educacional. Isso envolve contar e recontar histórias com os mesmos personagens, expandindo o universo ficcional com diferentes aspectos para envolver o público-alvo, aumentando sua presença e atenção, ao mesmo tempo que impulsiona as vendas da história em produtos, serviços e várias plataformas. O objetivo é cativar o interesse do público, apresentando trechos ou perspectivas diferentes em diferentes mídias: sites, redes sociais, e-mails, restaurantes, parques, bares e hotéis temáticos, além de uma variedade de produtos relacionados à história, proporcionando uma experiência imersiva. Dessa forma, a narrativa transmídia pode transmitir conhecimento científico de forma “informal”, partindo do interesse do público-alvo por mídias, jogos e plataformas, para então despertar seu interesse pela ciência, como afirmado por Scolari (2018).

Leal & Oliveira (2019) apresentam em sua pesquisa a satisfação do professor no uso de novas tecnologias e narrativas no ensino de física. Segundo os autores estas passam a estimular mais seus alunos, a exercer diversas atividades mentais dos discentes em novas propostas, oportunizando que estes assimilassem e construíssem novos conhecimentos, desenvolvendo o raciocínio crítico.

Uso da Arte e da Gamificação digital

O crescimento da Indústria 4.0 ou a Quarta Revolução Industrial, que é impulsionada pelas tecnologias inovadoras, causa efeitos profundos, quer nos sistemas de produção, quer nos modelos de negócios, e também na educação. Com todas as possibilidades tecnológicas disponíveis no mercado globalizado o uso de jogos é o que mais fomenta a curiosidade, o interesse e desafios nos jovens e adultos, e notadamente de forma surpreendente novos adeptos para as empresas e de igual modo se estabelecerá na seara acadêmica, intitulada como “gamificação”.

Staller & Koerner (2021) afirmam em seus estudos que a gamificação é definida como o uso de elementos de jogos em contextos não relacionados a jogos. Porém, existem discussões no contexto do valor pedagógico da gamificação que sugerem controvérsias em vários níveis. Deve-se estar atento a pretensão de uma pedagogia reflexiva, no que diz respeito ao uso pedagógico de elementos de gamificação e sua investigação empírica. Há três pontos principais de ancoragem a considerar a partir de uma postura reflexiva: (a) a alta especificidade do contexto do ensino realizado e (b) a (não) visibilidade de os elementos de design e © a (não) aceitação dos elementos gamificados pelos alunos.

Van Gaalen et al (2021) apresentam uma revisão com resultados promissores para a implementação da gamificação na educação. Para os autores a gamificação pode ser vista como uma ferramenta educacional experimental para resolver problemas comportamentais ou atitudinais em relação à aprendizagem e que, portanto, pode melhorar os resultados da aprendizagem oferecendo um canal fluido da comunicação do conhecimento. Confirmado por Leal & Oliveira (2019), que debatem as dificuldades na aprendizagem nos conteúdos de Física partindo da estratégia do uso da tecnologia de informação e comunicação, ao usarem a plataforma Plickers e a plataforma PHET para a disponibilização de material prévio dos conteúdos. Segundo os autores, a utilização da tecnologia associada à prática pedagógica, principalmente na avaliação, produz resultados relevantes tanto para alunos quanto para professores.

Considerações finais

O mundo foi impulsionado pela pandemia, entre 2019 e 2022, a uma rápida implementação generalizada do ensino à distância. Recorreu-se rapidamente a diversas formas de captar a atenção do aluno e fazê-lo de forma que desperte a curiosidade pelo conteúdo ensinado. Após a pandemia, vemos que o ensino misto ou híbrido é uma realidade que veio para permanecer, sendo assim, o ensino tem que ampliar e atualizar o canal para a comunicação da ciência. A aproximação entre o cidadão e o docente do seu trabalho é potenciado por uma maior facilidade de comunicação entre uns e outros. Sabe-se que comunicar é uma arte, tendo o docente atual um caráter multiprofissional (agora como investigador e artista no ensino aprendizagem). Ressalta-se que a comunicação de ciência, em particular, deve obedecer a um conjunto de atitudes e comportamentos, por forma a garantir que atinja o seu objetivo.

Alguns pesquisadores (De Sena, 2016; Leal & Oliveira, 2019) enfatizam a importância da diversificação, estruturação e organização das aulas, destacando pontos cruciais. Estes incluem a organização do conteúdo, o estímulo à participação e interação dos alunos com os recursos digitais disponíveis, a postura dos professores durante e após as aulas para acompanhar a aprendizagem, e a integração de recursos tecnológicos sem perder o foco na aprendizagem. O planejamento meticuloso é essencial para mitigar falhas tecnológicas e garantir o domínio do processo e da metodologia utilizada. Ao adotar boas práticas relacionadas ao uso estratégico da tecnologia, aumentam-se as chances de engajar professores, alunos e comunidade, tornando o processo de ensino-aprendizagem mais atrativo tanto para os alunos, que demonstram maior participação e interesse, quanto para os professores, que assumem um papel mais orientador no processo de ensino.

Referências

Bigolin, N. M., Silveira, S. R., Bertolini, C., de Almeida, I. C., Geller, M., Parreira, F. J., … & Macedo, R. T. (2020). Metodologias Ativas de Aprendizagem: um relato de experiência nas disciplinas de programação e estrutura de dados. Research, Society and Development, 9(1), e74911648-e74911648.

Carvalho, L. A., dos Santos, S. F., Oliveira, L. F. P., & Galdino, M. E. R. (2019). Tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC’s) e a sala de aula. Humanas Sociais & Aplicadas, 9(26), 32–51.

Damasio, F., & Peduzzi, L. O. (2018). Para que ensinar Ciência no século XXI?-Reflexões a partir da Filosofia de Feyerabend e do ensino subversivo para uma aprendizagem significativa crítica. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), 20, e2951.

de Sousa Nascimento, J. M. T., da Silva, V. L. R., Lima, C. D., da Silva, K. C., da Costa Mota, M., Pires, C. J., … & Bastos, R. S. (2022). Ensino durante a pandemia: A utilização da plataforma Google meet nas aulas de Ciências Naturais em uma escola do Município de Parnaíba-PI. Research, Society and Development, 11(14), e221111436383-e221111436383.

Ferrés, J., & Piscitelli, A. (2015). Competência midiática: proposta articulada de dimensões e indicadores. Lumina, 9 (1), 1–16.

Fofonca, E., & Leite, M. A. (2023) Primeiras Palavras — Práticas pedagógicas na cultura digital: diálogos interdisciplinares. Editora Interativa.

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Palfrey, J., & Gasser, U. (2011). Nascidos na era digital. Porto Alegre: Artmed.

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Scolari, C. A. (2018). Teens, media and collaborative cultures: exploiting teens’ transmedia skills in the classroom. Universitat Pompeu Fabra..

Silva Júnior, J. D. D., Barbosa, V. F. B., & Oliveira, M. L. L. D. (2021). Avaliação da aprendizagem no ensino médio integrado: análise documental e percepções de estudantes. Ensino em Re-Vista, 28.

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Tébar, L. (2011). O Professor Mediador: Pedagogia da mediação [Professor Mediator: Pedagogy of mediation]. São Paulo: Editora Senac.

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