Vai Lacraia, vai lacraia!

A história de uma das maiores representatividades Trans do Brasil

Ana Pelluso
Cultura LGBTQ+ Wiki
3 min readMar 3, 2023

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Janeiro passou e, chegando em fevereiro, temos a maior festa do Brasil já nos seus inúmeros preparativos: o Carnaval. Foi pensando nisso que, no artigo de hoje, quis trazer um pouco sobre a vida e vivência de uma personalidade que jamais será esquecida.

Trans, negra e sem medo de ser feliz, Lacraia marcou uma geração com sua autenticidade e verdade em tudo que se propunha a fazer. Cria do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, sempre contou com o apoio da mãe para externalizar a sua sexualidade a tudo e todos que passassem por ela. Artista da cabeça aos pés, Lacraia lutava diariamente contra o preconceito racial, LGBTfobia e tantas outras causas que, na época, ainda eram tão deixadas de lado.

A artista conheceu MC Serginho, sua dupla dos sucessos “Vai Lacraia” e “Éguinha Pocotó”, quando eram crianças, já que ambos eram vizinhos no Jacarezinho. Apesar disso, esse laço e amizade só se fortaleceu anos mais tarde.

Ao completar 18 anos, Lacraia começou a ajudar em casa, mas a veia artística nunca deixou de pulsar. A artista fazia de tudo para conseguir conciliar a vida artística com o trabalho fixo, assim como sua dupla. Nos anos 90, começou a se apresentar em um coletivo que visava conscientizar, através da arte, sobre os riscos da AIDS, doença que matou milhares de pessoas nessa época.

Acredita-se que foi nesse momento que a artista se interessou mais sobre maquiagem, inclusive para se montar como drag queen — conhecido antigamente como “transformista”. Dessa forma, Lacraia conciliava seu trabalho com apresentações noturnas como transformista e juntava o melhor dos dois mundos.

O que fez com que MC Serginho e Lacraia se tornassem realmente a dupla que conhecemos foi uma situação triste (e infelizmente corriqueira) no dia a dia LGBT. Em um evento na Quadra do Salgueiro, um cara quis crescer para cima de Lacraia por puro preconceito e Serginho conseguiu intervir antes que o pior acontecesse.

A partir disso, o MC teve a ideia de subir com a amiga no palco para dançar e, certo dia, o conhecido nome “Lacraia” foi incorporado depois do DJ ver uma lacraia se mexendo na mesa de som antes do show e brincar com a amiga (dizendo que a mesma dançava igual ao bichano). De início, a artista não ficou muito satisfeita com as abordagens pelo nome inusitado, mas depois de tanto sucesso, acabou aderindo ao nome artístico.

Anos depois, Lacraia e MC Serginho se separaram enquanto dupla, mas a amizade seguiu firme até a morte dela. Não se sabe a causa até hoje, mas supôs-se que foi por tuberculose ou pneumonia, duas doenças que eram fatais na época.

Em maio de 2023, faz 12 anos de seu falecimento e mais de 20 anos de uma carreira tumultuada, mas certamente muito bem vivida. O que vemos hoje com Pabllo Vittar e Gloria Groove, por exemplo, certamente foram portas abertas por Lacraia em uma época que ser trans era muito mais difícil e desafiador que hoje.

Assim como nossa Xuxa Preta sempre quis, esperamos que, a cada dia, possamos nos expressar ainda mais. Que não esqueçamos o que fizemos, fazemos e faremos para chegar aonde queremos e merecemos.

Viva Lacraia!

Eu sou a Ana e caso queira ver mais devaneios, cases e estudos, continue por aqui!

Um beijo!

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Ana Pelluso
Cultura LGBTQ+ Wiki

Professora de formação e escritora por paixão. Trabalho com tudo que a escrita pode permitir, vamo conversar?