foto: Hanna Gonçalves

Feminismo e Amazônia no graffiti de Deborah Erê

Rosiel Mendonça
culturalab
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4 min readAug 5, 2022

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Nascida em São Caetano do Sul, interior de São Paulo, Deborah Erê é grafiteira, tatuadora, professora em duas escolas públicas de Manaus, artivista ambiental e “uma devota da Deusa Arte” — como ela também se define. Na capital amazonense, onde mora há mais de uma década, Deborah concluiu uma graduação em Artes Visuais, se profissionalizou e fincou raízes junto com as sereias e mulheres empoderadas que compõem suas obras. Atualmente, trabalha em colaboração com artistas como Nádja Khristina, Malu Menezes e Dani Lira na Casa da Sereia, onde funciona seu ateliê e estúdio de tatuagem.

Quando e como a arte entrou na sua vida?

A arte sempre esteve presente, até mesmo antes de eu nascer. Quando ainda estava na barriga da minha mãe eu já podia ouvir as músicas que ela cantava pra mim. Eu sempre amei a arte. Porém eu só descobri que eu também poderia ser artista aos 18 anos, quando comecei a me dedicar ao desenho e à pintura e entrei num curso de Artes lá em São Paulo.

foto: Hanna Gonçalves

Como é sua relação com o graffiti? O que ele representa na sua trajetória como pessoa, artista, cidadã?

O graffiti é a vertente das Artes à qual eu mais me identifico e pratico. Ele foi a ferramenta que eu escolhi (e fui escolhida) pra transmitir mensagens ao Mundo. Ele representa um “modo de dizer” que amplia a minha mensagem e a torna visível, colorida, gritante. Ela fica muito acessível a todes e também muito em destaque. E foi através dele que revelei às pessoas o que eu tenho a dizer.

Como define o seu estilo?

Eu não curto tanto as definições! É mesmo verdade que “quem se define se limita”, então numa hora eu posso querer fazer sereias, em outra hora posso querer pintar uma frase, ou até o meu nome, animais, plantas. É um processo muito intuitivo.

fotos: Deborah Erê

O que te influencia? Está atenta a quais temas ou questões?

Sou influenciada por experiências bem diversas. Observar a natureza, ler poesias, livros, ver filmes, compartilhar um almoço, cuidar do meu jardim, as crianças e adolescentes das escolas em que eu trabalho. Toda a biodiversidade que me cerca. A vida é muito inspiradora! Também estou muito atenta às questões sociais e ecológicas, sou ativista ambiental e feminista. Busco dialogar sobre a produção do lixo, sobre a despoluição dos rios e igarapés, sobre a noção de que “Somos o Mundo”. E também o feminismo, que me acompanha desde o início da minha carreira, e a noção de que as mulheres são seres autônomos e que devem buscar a sua autonomia, devem lutar por ela e contra os padrões sociais aos quais somos submetidas.

As redes sociais são importantes para o teu trabalho?

Muito! A internet possibilitou uma quebra das distâncias geográficas, e agora tem pessoas de todo o Brasil (ou mais!) que conhecem os graffitis que faço aqui em Manaus. Amplia demais o alcance do meu trabalho! É uma das primeiras coisas que alguém olha quando pensa em fazer um orçamento comigo, então eu levo bem a sério a coisa de alimentar o meu Instagram com boas imagens dos meus trabalhos. Pra mim, ele tem mais essa finalidade profissional, como um salão onde a pessoa pode entrar, ver o que eu faço, falar comigo e deixar sua opinião no meu mural.

Entrevista publicada no informativo NaRede, da Faculdade de Artes da Universidade Federal do Amazonas (Faartes/Ufam), em dezembro de 2021

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Rosiel Mendonça
culturalab

Jornalista, pesquisador e produtor cultural | Manaus’AM