Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias

Wandinho dos Mutantes

Amazonense conta como emplacou música no disco “A Divina Comédia ou Ando meio desligado”

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Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jorge Ben são alguns dos poucos compositores que tiveram suas músicas gravadas em disco pelos Mutantes. Dois amazonenses, no entanto, são exceção à regra: “Jogo de calçada”, de Wandler Cunha e Ilton Oliveira, acabou entrando no terceiro disco da banda paulista, “A Divina Comédia ou Ando meio desligado”, de 1970. Quem conta essa história é Wandler (ex-Os Embaixadores), radicado em Brasília desde 1988.

Segundo ele, Os Mutantes estiveram pela primeira vez no Amazonas em 1969, quando encerraram o 2º Festival de MPB Estudantil do Amazonas, realizado por Joaquim Marinho no parque aquático do Rio Negro Clube.

Wandler Cunha (à dir.) com sua primeira banda, The Rights, fundada em 1967 na Vila Martins, em Manaus (Acervo pessoal)

“O Ilton escreveu a letra de ‘Jogo de calçada’ e me entregou para eu fazer a música e participarmos do festival. Para nossa felicidade, ficamos em segundo lugar e, enquanto eu me apresentava, Os Mutantes estavam atrás do palco esperando a hora de entrar. Eles ouviram a música e depois o Joaquim me chamou num canto dizendo que o Serginho [Dias] queria falar comigo. Fiquei muito surpreso com isso e fui lá bater um papo rápido com ele, a Rita Lee e o Arnaldo Baptista”.

Foi então que surgiu o convite: Os Mutantes estavam terminando de mixar “Ando meio desligado” e procuravam uma música para fechar o disco. “Para nós seria um prazer, porque só havia duas bandas que a gente gostava: Beatles e Mutantes”. Depois disso, Arnaldo Baptista ainda mudou algumas palavras da letra e acabou entrando como co-autor da canção. “Mas eles respeitaram a harmonia e a melodia originais”, garante Cunha.

“A Divina Comédia ou Ando meio desligado” foi lançado em 1970

Rico não, mas realizado

Wandler conta que hoje em dia a história ainda rende muita conversa entre os amigos. “A música nada mais é que um evento urbano [crianças jogando uma ‘pelada’ na calçada do prédio de Ilton] transformado em poesia, o que deve ter chamado a atenção dos não menos urbanos Mutantes”.

Ricos os amazonenses não ficaram, mas saíram nos jornais da época e viram a sua música ser transformada em sucesso nas rádios locais, fazendo Wandler Cunha ficar conhecido como “Wandinho dos Mutantes”. “Isso foi um presente que caiu do céu. O que importa é que tenho meu nome nos anais da música brasileira. Para mim isso basta”, finaliza o músico, que compõe até hoje.

Publicado originalmente no Jornal A Crítica, em outubro de 2013, por ocasião do show d’Os Mutantes em Presidente Figueiredo (AM)

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Rosiel Mendonça
culturalab

Jornalista, pesquisador e produtor cultural | Manaus’AM