A felicidade de repetir experiências

Beatriz Bulhões
#culturalcast
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7 min readDec 13, 2020

Vale a pena viver de novo.

Photo by JESHOOTS.COM on Unsplash

Artigo baseado no episódio doze do CulturalCast e patrocinado pelo Telecine

Todo mundo já desejou poder vivenciar algo como se fosse a primeira vez, mas esse desejo pela novidade não impede a gente de ver a beleza na repetição.

Afinal, quem nunca reassistiu certos filmes dezenas de vezes? A ideia aqui é explorar a felicidade encontrada em repetir experiências, porque certas sensações merecem ser vividas mais de uma vez:

Dê o play e escute o episódio completo

Esse episódio é muito especial porque foi feito em parceria com o Telecine, o streaming que é 100% filmes! O cinema cria, representa e até ajuda a acelerar mudanças na nossa cultura e comportamento, e esse é um tema que a gente ama aqui no CulturalCast. Por isso, queria convidar você para conhecer mais sobre o serviço de streaming mais completo do cinema.

O Telecine tem um catálogo de mais de 2.000 filmes disponíveis — e, como toda boa história, a experiência vai muito além do filme. Lá tem as Cinelists, uma curadoria incrível de listas exclusivas feitas por pessoas que amam cinema. E tem mais: materiais extras que vão desde trailers e making ofs até entrevistas e curiosidades para assistir depois que o filme termina.

O cinema é cheio de possibilidades, e o Telecine também.

E sabe o que é melhor? Eles estão oferecendo 30 dias GRÁTIS para novos assinantes: um mês inteiro pra você explorar mais de 2.000 histórias quando quiser e onde quiser! Acesse teleci.ne/culturalcast e comece a descobrir e redescobrir histórias hoje mesmo.

Eu sou uma pessoa de rituais. Uma criatura de hábitos. Um ser até que previsível, digamos assim.

Eu gosto de pedir sempre o mesmo prato na maioria dos restaurantes que eu frequento. Se for um lugar que ainda não conheço, escolho algo que pareça bacana e aí, quando voltar lá, já sabe, né? Peço o mesmo prato de novo.

Mas esses hábitos vão além da comida, claro. Por exemplo, esse ano eu redescobri minha paixão por musicais, e assisti Os Miseráveis tantas vezes que perdi as contas. Também preciso confessar que deixei La La Land passando na TV enquanto trabalhava por dias a fio, porque em tempos de isolamento social eu quero mesmo que minha companhia esteja cantando e dançando e correndo atrás dos seus sonhos enquanto eu sigo digitando num computador, da minha sala, por horas a fio.

Eu também sou aquela pessoa que faz contagem regressiva pro aniversário todo santo ano, e depois contagem regressiva pro Natal — esse ano comprei até um calendário especial — porque se tem uma coisa que eu adoro são as minhas tradições natalinas.

Todo ano eu assisto O Amor Não Tira Férias com um chocolate quente na mão, porque mesmo quando eu morava em Recife e o Natal era ainda mais quente do que aqui em São Paulo, eu não queria deixar de me sentir parte de uma história de amor natalina envolvendo muitas risadas, neve e suéters quentinhos. Nem quando estava fazendo mais de 36 graus, sabe? Se você me segue no Instagram há mais de um ano, certamente já deve ter visto esse ritual peculiar.

Fazer essas coisas, todo ano, ou todo dia, ou todo mês, me trazem uma felicidade imensa.

E isso não me faz uma pessoa chata, como eu pensei por muito tempo.
“Ah, olha ela lá, repetindo a mesma história há 27 anos.”

Neste ano em que todo conforto se fez necessário, eu percebi que essa frase deveria ser:

“Ah, olha ela lá, fazendo o que a deixa feliz sempre que possível”.

Estamos tão acostumados a valorizar experiências novas que às vezes esquecemos o quanto de alegria podemos encontrar na repetição.

Pronto, falei.

Aliás, não fui só eu que falei não.

Esses dias me deparei com o conceito de “adaptação hedônica”. O que é isso, você me pergunta? Resumidamente, o conceito se refere à tendência que a gente tem de retornar a um nível estável de contentamento independente de estímulos positivos ou negativos que aconteçam ao nosso redor.

Ou seja: à medida que algo prazeroso se torna familiar, ele deixa de proporcionar felicidade. Note que isso parece contradizer tudo que vimos agora pouco sobre minhas próprias experiências — e até mesmo experiências que você deve ter imaginado lendo esse texto — mas nem tudo está perdido.

Apesar desse conceito, e de pesquisas que indicam o lado negativo de repetir experiências, citando principalmente que fazer a mesma coisa mais de uma vez pode entregar menos valor para as pessoas, ainda há quem crie hipóteses e estude o efeito contrário. É o caso de Ed O’Brien, professor de ciência comportamental na Universidade de Chicago, que se perguntou se a ciência comportamental poderia, talvez, ter interpretado mal a adaptação hedônica — será que as pessoas subestimam o poder de experiências repetidas em suas vidas?

Aqui vai um resumo da pesquisa do professor: um grupo de pessoas foi exposto a novas experiências, que foram de visitar um museu a assistir um filme. Depois, ele dividiu o grupo em dois — para uma parte, pediu que imaginassem o quanto gostariam de repetir aquela experiência. A segunda parte do grupo, de fato, visitou novamente o museu e assistiu novamente ao filme.

O resultado da pesquisa dele contradisse diversas outras pesquisas anteriores: o nível de felicidade gerado pela repetição foi grande nos dois grupos. E sabe por que? Nas palavras do próprio professor O’Brien:

“Fazer algo uma vez pode gerar uma sensação de que agora já foi, já se viu, deixando as pessoas cegas quanto aos detalhes perdidos que ainda não foram descobertos”

Em outras palavras: é muito mais provável do que se pensa que você goste de repetir uma experiência. Lembre que o professor pediu que as pessoas imaginassem repetir uma experiência, como ver um filme pela segunda vez. Tendo acabado de assistí-lo, a expectativa era de que as pessoas fossem precisas na imaginação, mas muitas delas deixaram escapar detalhes na primeira vez que viram, o que tornou a segunda experiência tão bacana quanto a primeira.

Tipo quando eu percebi que, em De Volta Pro Futuro, o nome do shopping muda quando o Marty vai pro passado porque ele atropela uma das árvores que dão nome ao lugar. Eu sei, demorei 4 assistidas pra perceber isso, mas valeu a pena.

Se a gente parar pra pensar, o resultado da pesquisa não é tão surpreendente assim: em um minuto na internet, em 2020, postamos cerca de 347.000 stories, assistimos 400.000 horas de streaming e tudo mais. O número de informação que nos bombardeia diariamente é insano, mas a quantidade que o nosso cérebro processa é ínfima — cerca de 0,0003% do total, de acordo com algumas estimativas.

Ou seja: quase tudo que chega até a gente, diariamente, é filtrado. E isso nem considera o fator distração, que nunca esteve tão alto. Tudo isso nos leva ao seguinte ponto:

Nenhuma experiência é a mesma, mesmo que você já tenha vivido ela antes.

Vou dar dois exemplos:

1. Os algoritmos das redes sociais:

Eu sei o que você está pensando.

“Mas Bea, os algoritmos foram literalmente criados pra estimular a gente a buscar o novo o tempo inteiro, a ficar mais propenso a sentir FOMO, ou medo de estar perdendo algo, como que eles podem ser um exemplo de experiências que repetimos e enxergamos de outra maneira?”

Eu argumentaria que é exatamente a natureza viciante deles que entrega esse outro olhar à algo que fazemos de maneira repetitiva. Quem nunca ficou scrollando sem parar no Instagram ou no TikTok, descobrindo conteúdos que procuram se conectar com coisas que a gente já gosta? Eles bebem da fonte da repetição, aprendem o que nós curtimos pra nos entregar algo parecido, envelopado com a ideia do “novo”.

2. O entretenimento:

E, no caso específico desse artigo, o cinema. Falei várias vezes de filmes que fazem parte dos meus rituais porque essa é uma das maiores expressões da felicidade que a repetição me traz, de verdade.

Vocês sabem por que eu espero o ano inteiro pra rever O Amor Não Tira Férias em dezembro? Não é só porque é um filme de Natal. É porque a expectativa dos doze meses entre os plays me faz sentir como se fosse a primeira vez quando assisto. E o mais fascinante é que, claro, eu esqueço de alguns detalhes. Os acontecimentos se desdobram na tela como se eu nunca os tivesse visto antes, mas não deixam de parecer familiar, sabe? É um abraço, um suspiro, é alguém dizendo pra mim eu até te conheço, mas quero continuar te descobrindo.

Essa é a verdadeira graça de fazer as coisas mais de uma vez.

E o nosso parceiro de hoje, o Telecine, entende disso melhor do que ninguém.

Uma das minhas Cinelists favoritas, pra surpresa de ninguém, é a Filmes que Não Cansamos de Assistir. Uma lista de filmes curados por pessoas que amam tanto repetir essas sensações, independente de década ou estilo. Uma lista pra você redescobrir a amizade inesperada que nasce em E.T., com direito à vídeos de making of da produção e da orquestra ao vivo, ou quem sabe descobrir detalhes que passaram despercebidos em Matrix, por exemplo.

Uma das minhas Cinelists favoritas do Telecine

E, quem sabe?

Talvez seja justamente o conforto proporcionado por isso que nos encoraje a buscar o novo, em busca de outras experiências que, eventualmente, sejam tão prazerosas de repetir quanto às que nos levaram até elas. Seja passar um tempo assistindo TikToks, ouvindo podcasts, explorando conteúdo no Instagram e no YouTube ou procurando um novo filme para assistir.

Ainda existem tantas histórias esperando para serem descobertas — e o prazer de serem redescobertas a cada novo encontro, como vimos, é bem real. Você acabou de participar de uma experiência narrativa comigo. Agora dá para sair do texto para as telas, do ler para o ver, e continuar a mergulhar em outras histórias, novas ou não, no Telecine.

Cada fim é um novo começo, afinal.

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Curiosa. Estrategista. Podcaster. Escute meu podcast sobre comportamento, cultura digital e marcas aqui: https://anchor.fm/culturalcast