“A Separação”: Anúncio marcante de natal
No Natal de 2020, a NOS lançou numa campanha publicitária que será analisada e descrita semioticamente, segundo a perspetiva de Roland Barthes.
Produto analisado: Campanha publicitária da empresa NOS, no Natal de 2020
Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=Aa4T3Cop2eM
NOS, uma das maiores empresas de comunicações e entretimento em Portugal, surgiu da fusão de duas grandes empresas de telecomunicações, a ZON e a Optimus, e foi fundada em 2014.
Pioneira no lançamento de várias tecnologias, como é o caso da eSim, Wifi-Calling ou Smart Number, esta é uma empresa que, tal como a sua concorrência, como é o caso da MEO ou da Vodafone, costuma apostar em publicidade de forma a atrair o seu público. Porém, na época natalícia de 2020, a NOS apostou numa campanha publicitária que tocou no coração dos Portugueses, superando as restantes campanhas relativas à área das telecomunicações que saíram nessa mesma época.
O vídeo tem dois minutos, é da autoria da Havas, com direção de João Nuno Pinto e produção da Garage e conta uma breve história: Uma família que foi com os seus filhos visitar os pais, avós das crianças no caso, e que se encontram de partida, a arrumar a bagagem no carro e a se despedirem dos parentes, um casal de idosos.
Vemos uma palavra a amarelo no ecrã com a palavra “separação” e o carro a abalar, passando para um novo cenário onde está o casal sozinho em casa, com uma música melancólica de fundo. No cenário que é, ao segundo 16 uma sala, o avô das crianças senta-se acidentalmente em cima de um peluche que os pequenos lá deixaram e comtempla o mesmo, enfatizando a saudade e a solidão que sente, através do seu olhar triste.
O anúncio apresenta então um outro cenário em que aparece o avô na horta a fazer videochamada com a sua neta mostrando o seu ursinho junto de abóboras, e a felicidade evidente na cara de ambos, demonstrada através de sorrisos.
O idoso partilha várias fotografias da sua rotina com a menina e, inclusive, brincam juntos por vídeo. Passam assim o dia juntos, conectados pelo telemóvel fazendo companhia um ao outro, apesar da distância.
Com a presença de uma árvore de Natal na sala de estar percebemos que se trata da época natalícia e vemos o senhor a embrulhar o peluche da menina para lhe enviar como prenda, sendo que a menina lhe envia o mesmo, causando novamente uma sensação de felicidade e saudade enorme no avô, que termina o vídeo a chorar.
O anúncio finaliza com uma frase a amarelo e uma voz narrativa que diz “Este natal nada nos pode separar”, enfatizando que através dos serviços da operadora nada manterá a família afastada.
Assim, de forma sucinta, esta campanha conta a história de uma menina que tem de passar o Natal separada dos avós e, embora o anúncio não faça nenhuma referência à pandemia é de salientar que surgiu durante a mesma, num Natal onde muitas famílias, devido ao vírus não conseguiram estar reunidas como é usual.
Desta forma, era de esperar que um vídeo com esta mensagem tocasse mais ao público do que numa época “normal”, pois estávamos todos fragilizados, a manter relações à distância e a nos adaptar a uma nova realidade.
Para além de ser uma jogada de marketing bastante inteligente pois não só apela, de forma indireta, à compra dos serviços da operadora que, como demonstrado no anúncio, é capaz de manter laços importantes, como o da família e combater a solidão que se observou, especialmente nos idosos que tinham de ter cuidados reforçados no que toca à prevenção do Covid-19, como tocou num ponto sensível, captou a atenção do telespetador e destacou-se, por isso, das demais campanhas realizadas neste sector.
Nota-se um grande cuidado por parte de toda a realização para a escolha dos cenários, das músicas e das expressões que os atores presentes fazem, é muito interessante como um pequeno vídeo de dois minutos sem qualquer diálogo consegue transmitir tanto e criar tantas sensações ao público, não só português, mas de qualquer nacionalidade que tenha assistido ao mesmo, pois devido à escolha de todos os elementos não é necessário falar um idioma específico para o compreender.
Sem dúvida que foi uma campanha memorável para a marca em questão, sendo mesmo considerada uma das melhores campanhas do ano.
É ainda de salientar que o urso de peluche presente durante todo o anúncio e que aparece como centro da campanha, encontrou-se à venda por 5,99 euros, revertendo todas as receitas a favor da associação coração amarelo, uma associação que centra a sua atenção no combate à solidão nos idosos.
Em suma, esta foi uma campanha publicitária muito bem pensada e conseguida que conjuga tanto um conjunto de cenários bem pensados como um roteiro muito bem planeado e elementos essenciais que originaram um conteúdo mediático de excelência.
De modo a enriquecer a análise semiótica realizada, foi utilizada a perspetiva de Roland Barthes, um semiólogo que se dedicou, entre muitas outras coisas, à semiologia na publicidade.
Assim, analisando o produto mediático referido acima, segundo a perspetiva de Barthes, compreendemos que o signo é interpretado segundo dois conceitos importantes: o significado e o significante. Sendo que o significado se encontra no plano do conteúdo, correspondendo à ideia mental do significante, este por sua vez, está relacionado com o plano de expressão e é o que materializa o significado, que vai muito além da fala e da escrita.
De acordo com a relação dialógica, a interpretação dos signos acontece através de duas etapas: a seleção e a combinação, de forma sucinta o significado de um significante varia de lugar para lugar dependendo de ideias pré-concebidas já existentes nesses diversos lugares.
É muito importante termos em atenção o significado do significante que estamos a transmitir, especialmente em publicidade, para que a nossa mensagem possa ser recebida e compreendida corretamente.
Assim, a NOS, ao desenvolver este anúncio utilizou gestos, como é o caso da prenda, expressões e sensações, como é o caso da lágrima no olho do avô, que, no lugar onde foi transmitido, e para a maioria da população, corresponde a sinais de tristeza, de saudade, capazes de despertar no espetador esta mesma sensação. Sendo que a sua mensagem é, segundo a perspetiva do autor mencionado, intencional.
Autor: Joana Rosado (a72070)
Referências:
NOS. (s.d.). Youtube. Obtido de NOS Natal 2020: A Separação: https://www.youtube.com/watch?v=Aa4T3Cop2eM