A transparência nas redes sociais
Atualmente, vivemos numa sociedade caracterizada pelo acesso à tecnologia e Internet, o que fez com que plataformas como o Instragram surgissem e que fizessem com que cada vez estivéssemos mais em contacto com a imagem e através dela partilhar momentos da nossa vida.
Este fenómeno faz com que questionemos se esta plataforma em que temos o total controlo do que postamos e expomos do nosso quotidiano não terá efeitos prejudiciais na nossa vida enquanto individuo e sociedade.
Como exemplo de um perfil na plataforma Instagram, vou analisar Bárbara Inês e usar como base o livro “Sociedade da Transparência” de Byung-chul Han para perceber o impacto que tudo isto tem na nossa vida enquanto ser individual e na sociedade.
O Instagram surgiu em 2010 e antes de termos acesso a esta plataforma partilhávamos pouco da nossa vida, apenas o fazíamos com pessoas do nosso quotidiano como família, amigos e conhecidos.
Com este surgimento a nossa forma de comunicar mudou. São os próprios utilizadores que partilham o que querem e que são o produto, não há ninguém a controlar, mas sim uma influência contínua entre os utilizadores que estimula partilharmos sobre nós, fazendo assim com que a exposição pareça algo livre. Han faz uma comparação desta liberdade com controle.
Transparência e positividade aparecem como sinónimos numa sociedade sujeita à exposição. As pessoas, as coisas e obras de arte podem ser julgadas e valorizadas de acordo com a sua capacidade de exposição e visualização.
Tornou-se estranho quem não tem uma conta nesta plataforma ou que escolhe não partilhar sobre si, porque está quase intrínseco na nossa sociedade. Podemos achar que estamos a ser mais transparentes, mas não é bem assim, porque só partilhamos os pontos bons da nossa vida e o que escolhemos partilhar. Byung-Chul Han afirma que não existe mais o culto e o mistério, apenas a exposição. Estarmos sujeitos a esta exposição e performance leva na visão deste filosofo a confundir beleza aparente com prazer o que tem péssimos efeitos na nossa sexualidade, saúde física e mental.
O Instagram, entre outras plataformas online, leva as pessoas a terem um sítio onde podem ser narcisistas, a intimidade vira mercadoria, a distância é anulada e tudo se torna próximo através de deslizar o dedo na tela de um telemóvel. Antes para confiarmos no outro coisas sobre os vários campos da nossa vida era preciso um certo tempo a conhecer o outro e só depois de termos confiança começávamos a abrir-nos com a pessoa e agora expomos coisas sobre nós para qualquer pessoa ver.
Nas redes sociais podemos observar que há um desejo pelo reflexo e esse reflexo é de si mesmo e o negativo não é o desejo do sujeito narcisista, o que leva a esconder esse lado.
A transparência e poder são conceitos contrários e esta transparência recíproca só pode ser atingida através de uma vigilância permanente. Esta é a logica da sociedade da vigilância onde a transparência domina e não há espaço para a confiança. Não há comunidades, existe apenas agrupamentos de diversos indivíduos isolados singularmente, de egos que perseguem um interesse comum.
Perfil no Instagram
Bárbara Inês é uma influenciadora digital e a sua principal plataforma é no Instagram e, atualmente, tem 206 000 seguidores.
Quando entramos no seu perfil temos acesso a quantas publicações tem, o número de seguidores e quantas contas segue. Como destaques que são publicações que apenas durariam 24 horas no seu perfil, ficam permanentes para o público ver, tem o seu gato e viagens que já fez como a Cuba, Itália, Miami, entre outras. As suas fotografias aparentam ter uma estética e o seu conteúdo é focado na moda.
O seu perfil tem muitas publicações e está ativa diariamente o que pode levar à sensação de que a conhecemos, mas essa “transparência” não é algo real, pois só temos acesso ao que ela quer mostrar e tudo o que mostra é pensado antes. Um Instastory pode ter no máximo 15 segundos de duração e fica no perfil durante 24 horas, o que é um tempo mínimo no dia de uma pessoa para partilhar algo e só seria algo real se estivesse constantemente a filmar tudo e a partilhar. Com isto, nós nunca vamos ter acesso a tudo da vida de uma pessoa e já temos acesso a muito que talvez devia ficar em privado e sentimos que devemos partilhar e por um lado é uma coisa boa, mas por outro leva à comparação. Por exemplo, ao entrarmos no seu perfil que é a sua persona online podemos ficar com a sensação que viaja muito e isso pode levar a comparação, mas também inspiração.
Enquanto utilizador que produz também pode ser consumidor e toda esta monopolização do que queremos partilhar faz com que quem vê se compare e muitas vezes sinta que a sua vida não é tão interessante como a dos outros, o que é uma utopia porque todos somos seres humanos e passamos por bons momentos, maus momentos, stress, etc.
Conclusão
Para concluir, as afirmações deste pensador coreano são importantes para entendermos algumas problemáticas do século XXI. O mundo das redes sociais e o que está certo partilhar ou não é algo difícil de definir, mas temos de pensar mais sobre este mundo e não simplesmente seguir e deixarmo-nos levar pelo que vemos nas mesmas. Estas plataformas têm coisas boas, mas se não tomarmos consciência do nosso papel nelas podemos sair prejudicados.
Referências bibliográficas
Han, B.C. (2017). Sociedade da Transparência. Petrópolis: Editora Vozes. Disponível em: Sociedade da transparência (archive.org)
Inês, @barbara_ines Instagram. Disponível em: Barbarita (@barbara_ines) no Instagram