Editorial Temporada 22–23
Esta publicação teve início em fevereiro de 2022 como um espaço de debate sobre livros, filmes, jogos e fanfictions que configuram atualmente a cultura literária portuguesa a partir das discussões que foram realizadas na unidade curricular Cultura Literária. Em outubro deste mesmo ano passa a contar com a produção textual desenvolvida para a unidade curricular Semiótica, ministrada para os alunos e as alunas da Licenciatura em Ciências da Comunicação da Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve.
Durante o segundo semestre de 2021–22 discutimos muito sobre as mudanças no papel do leitor ao longo do século XX e início do XXI, tentando perceber as nuances nas relações entre a obra, o autor e o público que foram sendo transferidas do entendimento do autor e suas próprias explicações sobre a obra para as camadas possíveis de interpretação do leitor. Desde a poética de Paul Valéry, a morte do autor de Barthes, as definições de leitor modelo de Eco, a poeprática de E. M. e Castro e a poética de Beckett, entre outros, passamos por teóricos, ensaístas e artistas que propuseram um olhar bastante crítico e também instigante sobre a escrita e a literatura.
Levando assim a discussão para a cultura digital e as novas formas de criação artística e fruição estética que se difundiram a partir da segunda metade do século passado e que lançam o desafio de entendermos o que Santaella (2003) denomina de leitor ubíquo, este que está decifrando imagens, sons, textos e códigos a todo momento, em qualquer lugar.
Somos seres deste novo século, agarrados aos nossos dispositivos, procurando sempre a informação mais recente, mas que, fundamentalmente, não podemos deixar de apreender como os leitores anteriores — contemplativo, movente e imersivo — e interpretar o mundo à nossa volta de modo crítico e criativo.
No primeiro semestre 2022–23 nos debruçamos sobre a análise semiótica de produtos culturais e mediáticos. A partir dos estudos de semiólogos e semioticistas, abordamos a dicotomia do signo em significado e significante com Sausurre; as funções da linguagem com Roman Jakobson; a retórica da mensagem com Roland Barthes; a análise dos códigos da mensagem televisiva com Umberto Eco e as especificidades da primeiridade, secundidade e terceiridade e a tricotomia do signo propostas por Charles Sanders Peirce. Procuramos discutir, assim, o potencial da semiótica para aprofundar o entendimento do mundo em que estamos inseridos a partir do estudo dos signos, da significação e da semiose.
Após as discussões em sala de aula, os alunos e alunas escreveram as suas primeiras análises semióticas a partir de seus interesses e de seus repertórios culturais, sempre com base em algum dos autores estudados.
Os textos escritos expressam suas ideias e reflexões, as quais esperamos que sejam lidas e repercutidas por outro(a)s estudantes e apreciadore(a)s da literatura e da semiótica.
Boa leitura!
