MEMÓRIA DAS MINHAS PUTAS TRISTES
Vencedor de um prémio nobel da Literatura este pequeno livro, com 114 páginas, da autoria de Gabriel García Márquez conta, contrariamente ao que poderia ser esperado pelo título, não a história de alguma puta mas sim de um velho solitário que procura nestas algum consolo.
BIOGRAFIA DO AUTOR
Considerado um dos autores mais importantes do século XX, Gabriel García Márquez foi um escritor colombiano que nasceu a 6 de março de 1927 em Aracataca, sendo um dos mais admirados e traduzidos no mundo, com mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas.
Foi premiado com o Prémio Internacional Neustadt de Literatura em 1972, e o Nobel de Literatura de 1982 pelo conjunto das suas obras que, entre outros livros, inclui o aclamado Cem Anos de Solidão.
Fascinado pela escrita, transferiu-se para a Universidade de Cartagena, onde recebeu preparação académica em Jornalismo.
Em 1947 publicou o seu primeiro conto “A Terceira Resignação”, no jornal El Espectador e o seu primeiro livro em 1955 , uma coletânea de vários contos que já haviam aparecido em publicações periódicas, e que levou o título do mais famoso, “La Hojarasca” (“A Revoada” (O Enterro do Diabo)).
Em 1967 publicou a sua obra mais conhecida, o romance Cien Años De Soledad (“Cem Anos de Solidão”). O livro é um épico sobre uma família fictícia, Buendia, na imaginária cidade de Macondo.
Em 1971 foi aos Estados Unidos para receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Colúmbia. Em 1982 ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, pelo conjunto da obra. Em 1981 recebeu a Medalha da Legislação Francesa.
Gabriel García Márquez faleceu na Cidade do México, México, no dia 17 de abril de 2014.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS DE GABRIEL GARCÍA MÁRQUEZ
As obras de Gabriel García Márquez apresentam características da corrente literária conhecida como realismo mágico, fantástico ou maravilhoso. Os seus livros de ficção retratam elementos mágicos ou fantásticos; distantes, portanto, do realismo objetivo. Assim, demonstram a deformação da realidade por meio de coisas ou fatos estranhos.
De maneira geral, o realismo mágico, fantástico ou maravilhoso é assim caracterizado:
Ø Falta de sentido lógico.
Ø Situações absurdas.
Ø Fatos que contrariam as leis naturais.
Ø Acontecimentos sem explicação.
Ø Capacidade de provocar estranhamento nos leitores.
RESUMO DA OBRA
Memória das minhas putas tristes é, de forma sucinta, uma obra escrita na primeira pessoa que conta a história de um idoso de 90 anos que nunca se apaixonou e de quem a única companhia foram, ao longo dos anos, prostitutas. Revela a vida medíocre e sem grandes realizações deste, cujo único entretimento é escrever uma crónica semanal para um jornal.
A obra começa no dia do seu nonagésimo aniversário quando decide presentear-se com uma prostituta virgem. Para tal efeito recorre a uma velha amiga, dona de um bordel onde costumava ir e esta arranja-lhe, à pressa, uma menina de 14 anos.
Esta menina acaba por mudar a vida do cronista (da qual nunca sabemos o nome) sem nunca lhe falar.
Acontece que quando este chega ao quarto do bordel encontra a menina, pobre e cansada a dormir e não tem coragem de a acordar. Isto repete-se por inúmeras noites sendo que ele lhe contava histórias, cantava-lhe canções de embalar, levava-lhe presentes e dormia com ela todas as noites sem que esta nunca o tenha visto ou tido qualquer tipo de intimidade. Para o idoso a sua companhia bastava, apaixonou-se pela figura de uma menina inocente que dormia cansada junto a si.
APRECIAÇÃO CRÍTICA
Esta é uma obra bastante interessante pois apresenta, de forma tão natural e leve assuntos que, por norma, não o são. Deparamo-nos com a história de um idoso que nunca amou, nunca teve filhos, que se sente só e aguarda o dia do fim, sem nunca sentirmos pena do mesmo.
Apresenta-nos a velhice na sua forma mais crua e verdadeira, descreve como o tempo passa por todos nós sem que nos apercebamos e como este cronista passa cada ano a achar que é o último, como este sabe que não aproveitou como devia e apenas espera viver até ao aniversário seguinte.
Aborda ainda o tema da pedofilia de uma forma tão subtil, tão ténue que mal paramos para refletir sobre o mesmo. Choca inicialmente vermos este “velho”, como é referido várias vezes na obra, a exigir uma virgem à dona do bordel e a simplicidade com que esta a arranja, a naturalidade com que todos os personagens reagem ao facto desta menina ter 14 anos.
Por outro lado, a personagem é sempre apresentada como adulta, trabalhadora, que cuida da família, trabalha todo o dia e sustenta a casa. É várias vezes erotizada, porém em momento alguma esta história passa para um lado mais sexual ou erótico.
Este tanto pode ser um livro que tem como objetivo abordar a velhice e como encaramos a mesma como pode abordar o amor. Mostra-nos uma diferente forma de levar a vida, não é o convencional romance onde o casal com uma história trágica acaba feliz no final. Pelo contrário, mostra-nos alguém que sempre se recusou a amar, que nunca viu nisso o seu sentido e que procurou sempre satisfazer somente o desejo carnal.
Completando, esta é uma obra de muito fácil leitura, cativante e bastante curiosa pela capacidade como são abordados temas tão sensíveis de forma tão espontânea e natural, sem que o próprio leitor se aperceba bem dos mesmos.
TÍTULO
Relativamente ao título do livro, este ilude-nos para uma história diferente. Leva-nos a crer que esta é uma obra sobre as prostitutas com quem o narrador teve contacto ou conheceu, porém é muito mais que isso.
Creio que a escolha deste título se deve ao facto das únicas memórias do cronista, com 90 anos, sejam as das prostitutas por quem passou.
Foi com estas que manteve amizades, que esteve perto de se apaixonar, as poucas com quem falou, dentro da sua vida medíocre estas eram a sua companhia e por isso, agora já velho, estas são as suas melhores memórias, apesar das histórias tristes que acarretam.
ADAPTAÇÃO CINEMATOGRÁFICA
O filme “Memória das Minhas Putas Tristes” tem uma duração de 92 minutos, e foi gravado na cidade de São Francisco de Campeche no México. O dinamarquês Henning Carlsen é o diretor do filme e o roteirista foi Jean-Claude Carrière, os atores principais foram Emilio Echevarría, Olivia Molina, Ángela Molina e Geraldine Chaplin.
O presente filme recebeu o Prêmio Especial do Júri Jovem no Festival de Cinema Espanhol de Málaga. Estreou a 27 de abril de 2012, na 15ª edição do festival de Málaga, onde foi um dos candidatos a receber o Biznaga de Ouro.
Polémica
Durante as filmagens do filme, este levantou controvérsias devido aos seus tópicos sensíveis, que supostamente promovem o tráfico de crianças e o comércio sexual. Uma jornalista, Lydia Cacho, alegou que este projeto cinematográfico promove o abuso sexual de menores.
Opinião critica
Baseado no romance de Gabriel Garcia Marquez, o filme cumpre grande parte dos traços da história contada no livro, e acima de tudo mostrou muito respeito pela obra de que foi adaptado. Mas mesmo assim, é bastante complicado uma adaptação cinematográfica conseguir provocar sensações e emoções idênticas às que tivemos ao ler a narrativa do autor.
Dito isto, querer que um filme com cerca de 92 minutos transmita toda a essência de uma obra, ainda mais de García Marquez, é complicado. Não tem como comparar o filme e o livro, são duas linguagens bastante distintas.
No filme, sem a enunciação típica de Garcia Márquez, tudo assume um aspeto inofensivo, traduzido na fotografia pálida e na cenografia que mais sugere um especial de televisão de há três décadas atrás. Acaba por ser um filme um pouco confuso, mas cativante. O livro é mais denso, mas o filme passa a essência e conquista ao falar sobre estar apaixonado em qualquer momento da vida. mesmo não transmitindo emoções tão fortes e marcantes como para quem leu o livro, é um filme incrível que criar outro tipo de emoções. É uma adaptação cinematográfica belíssima, com um bom enredo, mesmo que seja confuso, e um roteiro cativante.
Autores: Joana Rosado e Sara Nascimento
