O café que nos acompanha

Inês Pereira
Semiosis
Published in
4 min readDec 12, 2023

O estado e degradação do planeta, desde o início da primeira década de 2000 que se foi tornando cada vez mais num tópico recorrente e relevante. Todos os anos são gastos pelo Ser Humano recursos que o nosso planeta já não tem capacidade de nos fornecer, de forma a que consiga recuperar em tempo útil. Devido a esta situação as mais variadas empresas à volta do globo têm vindo a adotar novas formas de produção, aplicando algumas estratégias tal como a utilização de novos materiais nos seus produtos.

A marca Nicola Cafés, no início deste mês de dezembro, lançou uma campanha publicitária à sua nova cápsula de café feita de alumínio 100% reciclável, demonstrando assim o seu empenho na preservação do ambiente. Neste caso, a cápsula em si não será o objeto de estudo, mas sim a forma como ela foi comunicada e apresentada ao público.

Foi publicado na página de Instagram da marca, um reels (vídeo de curta duração do Instagram), que representa a nova cápsula 100% reciclável desmultiplicando-se depois por outras cápsulas, apresentando o texto “Esta cápsula é outra conversa”, terminando o vídeo com o slogan da Nicola, “A pôr a conversa em dia desde 1779”.

https://www.instagram.com/reel/C0JXF0crv0T/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=ODhhZWM5NmIwOQ==

A análise semiótica que será aqui realizada terá por base a Teoria Semiótica de Peirce, sendo esta a mais completa por fazer uma análise em três fases. Defino um signo como qualquer coisa que, de um lado, é assim determinado por um objeto e, de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa, esta última determinação, que denomino interpretante do signo, é, desse modo, mediatamente determinada por aquele objeto. Um signo tem assim uma relação triádica com o seu objeto e com o seu interpretante. (CP 8.343) Para Peirce um signo é algo que nos traz a memória ou a ideia de um objeto até ao nosso cérebro, e o interpretante é o que realmente está ou chega ao nosso cérebro derivado desse signo. Por outro lado, Peirce analisa os seus signos também de forma triádica, a partir do ícone, do índice e do símbolo, sendo esta a metodologia que irei usar para fazer a análise semiótica da campanha publicitária da Nicola.

Primeiramente vamos analisar o ícone, as cores, as formas, as sensações que o vídeo nos transmite. Este apresenta um fundo laranja-torrado e cápsulas de cor verde-escuro, uma vez que esta se desmultiplica, como tinha explicado, são-nos apresentadas mais cápsulas de cores preta, prateada, vermelha, dourada, laranja-torrado e azul-claro. A fonte utilizada trata-se de uma fonte universal que não desperta qualquer sensação, ao contrário da fonte do slogan que dá um sentimento de conforto e familiaridade. A acompanhar todos estes elementos temos algumas frases curtas e sucintas que dizem tudo o que a marca quer passar: “Cápsula de alumínio”, “100% reciclável”, “Esta cápsula é outra conversa” e “A pôr a conversa em dia desde 1779.”

Passando ao índice, ou seja, àquilo a que estes ícones nos remetem no seu contexto, a utilização do laranja-torrado leva-nos diretamente a pensar em café, pois é essa a cor da sua espuma uma vez acabado de tirar da máquina. Já a utilização de diferentes cores, e especificamente estas cores, logo à partida chamam o espírito natalício, que está mesmo aqui à porta, mas a sua diversidade também é capaz de representar a diversidade que existe entre as pessoas, pois não importa quais são as nossas diferenças, aquilo que nos une é o gosto pelo café. O tipo de fonte utilizada, tal como referi, é universal reforçando o ponto anterior de que o café é uma linguagem comum. As frases utilizadas nesta propaganda levam-nos a pensar que esta se trata do início de uma nova era para a marca, devido à introdução deste novo material.

Por último temos o símbolo que é algo reconhecido pela maioria da população, legitimado por ela. Assim o simbolismo do café está associado aos encontros na esplanada com os amigos, ou mesmo em casa após uma refeição tratando-se de um espaço de partilha entre quem está a viver esse momento. Logo o café está diretamente ligado às conversas entre as pessoas, sendo isso mesmo aproveitado pela marca na frase, “Esta cápsula é outra conversa”, propondo até que esta inovação possa vir a ser motivo de novas conversas. A diversidade das cores das cápsulas também nos pode remeter há oportunidade de falarmos com pessoas novas, de contextos e culturas diferentes das que estamos habitualmente em contacto, sair da zona de conforto e alcançar mais, tal como a marca o fez ao implementar este novo produto.

Por outro lado, o seu slogan retrata esta tradição do café, tão típica portuguesa, “A pôr a conversa em dia desde 1779”, remetendo a esse passado, mas também prevendo o futuro sendo o café algo que não se irá perder nas gerações seguintes, dando a oportunidade de a marca evoluir acompanhando lado a lado a evolução da geração que nos sucederá.

Chegando a uma conclusão, esta propaganda faz referência a vários aspetos familiares do público em geral, cruzando-se e evolvendo-se até no seu dia-a-dia, tornando a marca mais próxima de quem a consome. Ao mesmo tempo, conseguiu evoluir e implementar um novo produto de forma natural, apelando à evolução dos próprios tempos que vivemos, ganhando não só um carinho pelo público pelo facto de ser sensível a temas como o clima, mas também pelo facto de acarinhar os momentos mais especiais na vida de qualquer um.

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